Susan Bodwen. Giss A Kiss. 2006.
Sem capacetes nem óculos de protecção. Por que para moi o amor quer-se mesmo assim: tudo (ou nada). Cá estarei para limpar os cacos, se os houver.
domingo, novembro 26, 2006
Locais
Existem locais onde de vez em quando ou de quando em vez bato à porta devagar e entro sem esperar por resposta, basta um impulso quer eu esteja só-só, só, só-acompanhada, acompanhada-só, acompanhada-acompanhada. Nestes dois últimos casos, raramente digo que podem-me encontrar ali, às vezes, só em qualquer situação. Pois são locais onde me deito, choro, sorrio, confesso e obtenho energias de que necessito para uma semana quase sempre desgastante mas muitas vezes feliz. São também a minha morada onde deixo partículas por vezes difusas, outras objectivas, do que quero da minha vida; minha vida, sempre. Se falassem teriam muito que contar… mas também é por isso que gosto deles, por estar neles uma linguagem que não compreendo nem quero, com poucos significados e significantes(bastam-me muitos outros), um simples barulho selvagem com a força que me acalma; não gosto de coisas paradas.
Estes locais, sendo vários, têm só um ponto de intersecção – o mar (bravo). Sobre ele estendo os meus olhos na forma, no jeito, na inquietude com que se formam as ondas, sempre diferentes, irrepetíveis, como a vida. A inconstância (não gosto de muitas rotinas) com uma suposta lógica em estudos marinhos e a aparente não dominação das ondas enormes de contornos sempre diversos entusiasmam-me. Contudo, desagrada-me vê-lo realmente furioso, provocado por lógicas forças em estudos de sismologia.
Mar calmo só ao fim do dia quando estou muito muito cansada e para aí virada ou à noite para deitar-me sobre a manta de água e ficar a olhar as estrelas ou, o teu olhar.
Hoje estive num dos meus locais só-acompanhada e foi óptimo pensar, olhar, pensar no olhar, a pensar; como sempre fiz. Mas, rodeada agora por muitas pessoas que não sentadas sobre a areia surfavam, muitos, corriam vários homens, caminhavam incontáveis mulheres, saltavam, olhavam sós-sós ou sós-acompanhados homens e mulheres. Tanto faz, para mim. Faz-me impressão ver os meus locais invadidos por manias ou modas ou afirmação ou sei lá o quê, produto de uma sociedade: pós-moderna, capitalista, pós-industrial, consumista, da informação, da modernidade tardia, em rede, do conhecimento, de risco, de modernidade líquida, moderna, programada, da 3ª vaga… Com mais ou menos variações, ondulações mais calmas ou extremistas, a navegarem todas no mesmo mar… Nosso. Particular. Xô, vão-se embora! Já cá estava. E estou.
Estes locais, sendo vários, têm só um ponto de intersecção – o mar (bravo). Sobre ele estendo os meus olhos na forma, no jeito, na inquietude com que se formam as ondas, sempre diferentes, irrepetíveis, como a vida. A inconstância (não gosto de muitas rotinas) com uma suposta lógica em estudos marinhos e a aparente não dominação das ondas enormes de contornos sempre diversos entusiasmam-me. Contudo, desagrada-me vê-lo realmente furioso, provocado por lógicas forças em estudos de sismologia.
Mar calmo só ao fim do dia quando estou muito muito cansada e para aí virada ou à noite para deitar-me sobre a manta de água e ficar a olhar as estrelas ou, o teu olhar.
Hoje estive num dos meus locais só-acompanhada e foi óptimo pensar, olhar, pensar no olhar, a pensar; como sempre fiz. Mas, rodeada agora por muitas pessoas que não sentadas sobre a areia surfavam, muitos, corriam vários homens, caminhavam incontáveis mulheres, saltavam, olhavam sós-sós ou sós-acompanhados homens e mulheres. Tanto faz, para mim. Faz-me impressão ver os meus locais invadidos por manias ou modas ou afirmação ou sei lá o quê, produto de uma sociedade: pós-moderna, capitalista, pós-industrial, consumista, da informação, da modernidade tardia, em rede, do conhecimento, de risco, de modernidade líquida, moderna, programada, da 3ª vaga… Com mais ou menos variações, ondulações mais calmas ou extremistas, a navegarem todas no mesmo mar… Nosso. Particular. Xô, vão-se embora! Já cá estava. E estou.
sábado, novembro 25, 2006
Nunca
Nunca tinha saboreado em Lisboa tanto vento a bater-me na cara.
Nunca tinha visto as árvores em Portugal a abanarem tanto.
Nunca tinha tocado num chapéu com tamanha vontade de voar.
Nunca tinha ouvido pessoas que se encostavam a paredes e libertavam que horror…
Nunca tinha sentido os meus pés quase a descolarem.
Nunca tinha saboreado o meu amor num temporal.
Nunca tinha visto tantos chapéus de chuva vadios.
Nunca tinha tocado em folhas que encontravam o meu rosto.
Nunca tinha ouvido várias buzinadelas estúpidas.
Nunca tinha sentido tantos empurrões da Natureza.
Nunca tinha saboreado um beijo intenso na chuva intensa; de hoje.
Nunca tinha visto muitos carros abanarem-se em simultâneo.
Nunca tinha tocado o meu carro quase em outro carro.
Nunca tinha ouvido tantas pessoas a descreverem sensações.
Nunca. Não tinha. Tenho agora.
Nunca tinha visto as árvores em Portugal a abanarem tanto.
Nunca tinha tocado num chapéu com tamanha vontade de voar.
Nunca tinha ouvido pessoas que se encostavam a paredes e libertavam que horror…
Nunca tinha sentido os meus pés quase a descolarem.
Nunca tinha saboreado o meu amor num temporal.
Nunca tinha visto tantos chapéus de chuva vadios.
Nunca tinha tocado em folhas que encontravam o meu rosto.
Nunca tinha ouvido várias buzinadelas estúpidas.
Nunca tinha sentido tantos empurrões da Natureza.
Nunca tinha saboreado um beijo intenso na chuva intensa; de hoje.
Nunca tinha visto muitos carros abanarem-se em simultâneo.
Nunca tinha tocado o meu carro quase em outro carro.
Nunca tinha ouvido tantas pessoas a descreverem sensações.
Nunca. Não tinha. Tenho agora.
terça-feira, novembro 21, 2006
Acontece
Este mundo está cheio. Todos sabemos; de muita coisa. Coisas boas, algumas. Coisas muito boas, poucas. Coisas vulgares, superficiais, banais, muitas. Coisas más e muito más, muitas muitas. Se imaginarmos como total mundo e fizermos umas contas de subtrair e outras de somar, de vez em quando, com várias multiplicações e muitas divisões podemos até pensar que isto afinal não é assim tão mau. É menos mal do que havíamos pensado. Uma média entre a filha de uma putice e uma beatice arcaica e, quer-se, menos hipócrita e mais uma série de outras coisas que bem esprimidos sabemos, alguns poucos, alguns; poucos. Não tendo aspirações a miss, deixei há muito muito de vomitar paz para o mundo, fim dos conflitos, e outros etecretas tais que confluem no mesmo mar… existe algo que é a essência humana e sobre a qual não coloco varinhas de condão nas mãos de fadas sempre com vestidos brilhantes, a padecerem de anorexia, coitadas; fadas e misses e aspiradoras a miss.
Mas hoje mais uma vez acho que isto está cheio de gente porreira com uma paciência de cão. Mesmo quando fazemos as tais coisas organizadas, menos menos, fazemos muitas vezes mal e pelas razões mais estapafúrdias; ou fizemos. Sim, também sou do povinho e sei o que me custa o ganha pão enquanto uns não sei quantos subiram para o senso comum na hierarquia de parvos a espertos…
Bem, vamos lá avançar. Estava numa avenida não sei o quê no meu carro brilhante e lindo e mudo ligeiramente de faixa, mas não sei porquê o pisca manteve-se activo, sem saída de via à vista. Entre cantaroladas silenciosas, raro, ao som de uma rádio com boa música, poucas poucas, entra pela janela do meu carro um capacete com uma cabeça lá dentro, com boca que disse, não precisa do pisca, não vai mudar de faixa. Os meus olhos na cabeça que estavam assim õõ ficaram ÔÕ, sem hipótese de abrir também a minha boca na minha cabeça sem capacete e desliguei de imediato o pisca direito. E lá foi o capacete com cabeça com boca em cima de uma lambreta, a lembrar os nossos motards dos anos 80. Brimmmmmmmmmmm Brim Brim Brim Brimmmmmmmmmmmmm
Há coisas, muitas muitas, que não se explicam, acontecem. Esta menos mal.
Mas hoje mais uma vez acho que isto está cheio de gente porreira com uma paciência de cão. Mesmo quando fazemos as tais coisas organizadas, menos menos, fazemos muitas vezes mal e pelas razões mais estapafúrdias; ou fizemos. Sim, também sou do povinho e sei o que me custa o ganha pão enquanto uns não sei quantos subiram para o senso comum na hierarquia de parvos a espertos…
Bem, vamos lá avançar. Estava numa avenida não sei o quê no meu carro brilhante e lindo e mudo ligeiramente de faixa, mas não sei porquê o pisca manteve-se activo, sem saída de via à vista. Entre cantaroladas silenciosas, raro, ao som de uma rádio com boa música, poucas poucas, entra pela janela do meu carro um capacete com uma cabeça lá dentro, com boca que disse, não precisa do pisca, não vai mudar de faixa. Os meus olhos na cabeça que estavam assim õõ ficaram ÔÕ, sem hipótese de abrir também a minha boca na minha cabeça sem capacete e desliguei de imediato o pisca direito. E lá foi o capacete com cabeça com boca em cima de uma lambreta, a lembrar os nossos motards dos anos 80. Brimmmmmmmmmmm Brim Brim Brim Brimmmmmmmmmmmmm
Há coisas, muitas muitas, que não se explicam, acontecem. Esta menos mal.
quarta-feira, novembro 08, 2006
Parei
Parei por instantes. Por aqui. Avancei em outros instantes daqui; deste lado de cá. E abri num instante a janela - sorri ao mundo; ao meu mundo. Numa mescla de sentimentos estendi-os e deixei-os a apanhar sol, enquanto empoleirava-me para o vento bater na cara; sem me perder, encontrei um pouco. Encontrei-te. Mais do que nas palavras que se perdem no tempo, descobri-te nos actos que perduram a tua existência, em mim. Encostei-me. Lentamente sobre o teu ombro, senti o teu beijo na minha face, longo, suave e molhado de desejos embrulhados em caixas que guardamos dentro de nós. Desembrulhei-me, também. Entre histórias gregas e telas que pintaram muitos dos toques diários dos nossos pés e luzes na visão (por vezes escura) de admirarmos o mundo; nosso. Deixámo-nos ficar. E por lá fiquei. E por lá ainda estou. E aqui venho para buscar um pouco de mim, que não esqueci, mas levo-lhe. Levo-me leve; ao amor - tudo do que sou, da existência; minha. Meu.