quarta-feira, agosto 23, 2006
É chato
De férias. Não há tempo, e o pouco tempo quando aparece é para lembrar que afinal este estado de adormecimento é momentâneo e em breve terá um fim, deseja-se mais no próximo ano. Por agora quase tudo decorre lentamente, os dias já não os sinto. Uma ou duas vezes por semana, não me recordo, vou ao calendário. Observo o dia, o dia da semana e conto quantos dias faltam para este estado de calma terminar. Calma. Mas que calma é esta que pouca vontade cria pela leitura, nenhuma vontade em querer saber o que se passa para além dos limites familiares? Não é calma, por certo. Não pode ser. Calma. Acalma. Calma. Deito-me na toalha e por momentos elevo o meu tronco, apoiado pelos braços e fixo-me no movimento. Do mar. Na ondulação que vai e vem, mas nunca é a mesma, nunca se repete, e o máximo que poderá existir são parcenças em relação a outra que já foi. Fui para baixo. Deito-me completamente na toalha, mais uma vez e com óculos de sol fico suspensa no céu. O meu olhar. Pouco limpo, o céu. As nunvens teimam em percorrer o espaço e o sol esconde-se. Cá em baixo, abrem-se os olhos sem óculos de sol e ouve-se que chatisse. Afinal também isto é chato. Medonho. Queres levar uma lambada?, expressa-se uma mãe a um filho que corre de um lado para o outro e atira areia às pessoas que estão de olhos fechados sem óculos de sol viradas com a frente para o céu. As pessoas abrem os olhos, olham o miúdo e não lhe dizem nada. Sacodem a areia e proferem que chatisse. É chato. O céu ficou cheio de nuvens muito rapidamente. O sol está no céu, atrás das nuvens. As pessoas que estavam deitadas para o sol, movimentam-se. Algumas queixam-se do desaparecimento do sol. Outras queixam-se e vestem-se e vão-se embora. Aparece o vento. Que ganda chatisse? Já viste como isto ficou pá?!, diz um senhor com ar ofendido e com a pele muito vermelha. Chega o frio. Levanto-me. Sacudo a toalha. Sacudo a areia do meu corpo. Visto-me. Coloco a toalha por cima do ombro e deixo a praia. Por hoje.