domingo, março 26, 2006

Verbo: Ler (1)

A bela acordada

Era uma vez uma mulher que tão depressa era feia era bonita, as pessoas diziam-lhe:

- Eu amo-te.

E iam com ela para a cama e para a mesa.

Quando era feia, as mesmas pessoas diziam-lhe:

- Não gosto de ti.

E atiravam-lhe com caroços de azeitona à cabeça.

A Bela Acordada

A mulher pediu a Deus:

- Faz-me bonita ou feia de uma vez por todas e para

sempre.

Então Deus fê-la feia.

A mulher chorou muito porque estava sempre a apanhar

com caroços de azeitona e a ouvir coisas feias. Só os animais

gostavam sempre dela, tanto quando era bonita como quando

era feia como agora que era sempre feia. Mas o amor dos animais

não lhe chegava. Por isso deitou-se a um poço. No poço,

estava um peixe que comeu a mulher de um trago só, sem a

mastigar.

Logo a seguir, passou pelo poço o criado do rei, que

pescou o peixe.

Na cozinha do palácio, as criadas, a arranjarem o peixe,

descobriram a mulher dentro do peixe. Como o peixe comeu a

mulher mal a mulher se matou e o criado pescou o peixe mal o

peixe comeu a mulher e as criadas abriram o peixe mal o peixe

foi pescado pelo criado, a mulher não morreu e o peixe

morreu.

As criadas e o rei eram muito bonitos. E a mulher ali era

tão feia que não era feia. Por isso, quando as criadas foram

chamar o rei e o rei entrou na cozinha e viu a mulher, o rei

apaixonou-se pela mulher.

- Será uma sereia ? – perguntaram em coro as criadas ao

rei.

- Não, não é uma sereia porque tem duas pernas, muito

tortas, uma mais curta do que a outra – respondeu o rei às

criadas.

E o rei convidou a mulher para jantar.

Ao jantar, o rei e a mulher comeram o peixe. O rei disse à

mulher quando as criadas se foram embora:

- Eu amo-te.

Quando o rei disse isto, sorriu à mulher e atirou-lhe com

uma azeitona inteira à cabeça. A mulher apanhou a azeitona e

comeu-a. Mas, antes de comer a azeitona, a mulher disse ao rei:

- Eu amo-te.

Depois comeu a azeitona. E casaram-se logo a seguir no

tapete de Arraiolos da casa de jantar.


Adília Lopes. OBRA – A Bela Acordada, pag 300. Edições Mariposa Azul. Lisboa 2001

segunda-feira, março 20, 2006

Diálogos reflexivos (14)

- Oi, estás boa?
- Estou bem. Sabes uma novidade?!
- Não. Diz aí: casaste?
- Nada disso. Estou grávida! De 4 meses.
- Boa! Estás em união de facto...
- Não. Isto é uma produção independente.
- Ah... Fizeste 'isto' por inseminação artificial...
- Não! Foi mesmo com um homem. Só que é independente. A produção.
- Ah... ókeis pá. Não percebo nada sobre isso. Felicidades para produção. (dahhhhh é a evolução... estás a ficar velha)
.

sábado, março 18, 2006

Ilustra a tua semana (2)


André Carrilho. Queen Victoria. 2005

Fatos para as amigas














Adoro a roupa de Sarah Pacin. O trapinho leve, simples, adequado a qualquer ocasião e com uns efeitos cénicos que me impressionam. Faz-nos bem independentemente dos quilos que a balança regista, entre os limites do esquelítico ao obeso. Aqui, mesmo aqui, está presente a nova colecção, outros etecetras tais e as lojas. As lojas!

Post-it: ainda não ao virar da esquina, mas num outro lado também temos Crea Concept. Também gosto. Muito.

segunda-feira, março 06, 2006

Fatos para as inimigas


Diane Kruger

Dolly Parton



Ziyi Zhang








Maggie Gyllenhaal


Ai que piroseira. Horrorosa. Pindérica. Alcoviteira. Saloia.

Estado activo

Ainda não vi nenhum dos filmes nomeados na categoria "best picture" mas pretendo fazê-lo segundo esta ordem:
- CAPOTE;
- GOOD NIGHT, AND GOOD LUCK;
- MUNICH;
- BROKEBACK MOUNTAIN;
- CRASH.
Quanto aos senhores aqui em cima, eles raramente brincam em serviço, especialmente o brilhante Philip Seymour Hoffman. Para mim, estes serão os (meus) homens da noite; a concorrência não sendo forte, aborda também temas polémicos.

domingo, março 05, 2006

Estado de repouso

Informo que este blogue encontra-se em estado de repouso. Motivo: assistir a mais uma noite de entrega dos óscares, com bolinhos, chá e muito glamour no pijama.
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Há dias assim

Mark Ryden. The Butcher Bunny.

Encontro

No dia 3 de Março, num fim de tarde bastante chuvoso e com a minha sessão de cinema esgotada, haveria que pensar em algo para o meu início de fim-de-semana, num local quente, culturalmente diversificado e com pessoas disponíveis para conhecer qualquer gaja com blogue feminino ou blogue masculino, ou blogue, simplesmente. Assim, considerei ir até à livraria Almedina ouvir falar sobre blogues femininos, enquanto colocava a hipótese de cantar em cima do piano que ecoava sons muita bons pá.
Após atravessar um longo corredor, perpendicular a estantes com muitos livros reais, encontrei numa espécie de esconderijo várias tipas e muitos tipos (hummmm) a esgotar os lugares sentados e que de pé observavam-se na forma qual é o blogue desta tipa(o)?
Na tribuna encontravam-se
Francisco José Viegas, Sofia Vieira, André Carvalho, Rita Silvério – as moçoilas a representarem o meu género. Sexual, claro está. Quando a Sofia começou a falar gritei: dá-lhes, vamos a eles! - gito logo contido pelos olhares reprovadores ao grito de gaja a desejar-se senhora calada. Elas falaram, falaram muito e bem mas, como sou uma tipa sincera, fiquei muito desiludida. Esperava uma reunião no formato Tapware com uma abordagem dinâmica sobre a construção de um blogue feminino. Ou seja, sobre o tipo de roupa vestem as blogueiras quando clicam no Publishh Post…, como classificariam o vestuário das blogueiras que se disponibilizaram a comparecer no encontro, como é que o período eminentemente pré mestrual afecta a elaboração dos posts, de que forma a ocupação de blogueiras tem afectado o equilíbrio emocional dos respectivos maridos e filhos, quais as consequências registadas na limpeza do lar após a leitura do suplemento comentários, de que forma o uso de saltos altos ou batom no dia-a-dia influenciam a construção pró-activa (é linda esta palavra, nova invenção Pró-moderna) do blogue… Temáticas deixadas de lado pela Rita e pela Sofia que preferiram falar objectivamente da sua experiência, não em estilo ziguezague mas na forma directas ao assunto, assuntos: comentários, leitores, temáticas, outros blogues de mulheres e, de homens e curiosidades… do interesse das moçoilas e dos moçoilos, como Pedro Mexia, considerado como o must exemplar masculino que a blogosfera merece.
No momento em que abordaram a achatada questão de censura aos sofridos comentários apagados pela blogueira, que deveria ser tolerante, conselheira, ouvinte pacífica - grande momento feminino -, comecei à cata do famoso alter-ego da
Rita…Decoradas todas as características do potencial masculino e observado o radar dos olhares da esposa, consegui aproximar-me do exemplar. Analisei todas as suas curvas, especialmente o rabo e para provar um dos homens mais invejados, dei-lhe um valente apalpão. Mr. Pinheiro não disse nada. A Rita terá reparado- emitiu-me olhares não femininos mas felinos - e com a testerona a níveis elevados julgo, sem certeza, terá desejado primeiro dar-me um valente soco mas, mais adequado ao género, pensou que o melhor seria um valente puxão de cabelos. Bem, saí bem, disposta do encontro com o T.P.C. de arranjar uma foto de Javier Bardem nu, e a tempo; com a certeza de que estas divisões, em forma de pacotes, masculino/feminino levam-nos a portos pouco seguros. A abordagem sobre o que é de gaja e o que é de gajo julgo, pouco interessante. Pois, mesmo aqui em cima, à distância de um clique no next blog podemos observar exemplares a comprovar que não existem blogues femininos nem masculinos mas, pessoas em formato de blogue que podem ser de mulheres ou de homens, ou de heterossexuais ou de homossexuais ou de transsexuais ou do que lhes der na gana. Mas serão, obviamente, seres. Humanos. Que gostam muito. Muito de escrever. Nem que seja só com rasgos de imaginação.

sábado, março 04, 2006

Cat and Bat


Selina Kyle: Look! The cat is gone. There's nothing to be afraid of anymore. Now... It is your turn my darling, to take away my fear...

Bruce Wayne: I coudn´t...

Selina Kyle: I couldn´t...

Bruce Wayne: I had to...

Bruce Wayne: Selina! Oh god Selina, i almost lost you... But Crane... He's still out there... I should catch him...

Seline Kyle: Don't you always? It can wait.

Bruce Wayne: Yes... I suppose it can.

quarta-feira, março 01, 2006

Dedo no ar

À procura de uma saída para esta semana. Mas por instantes, com uma timidez disléxica, ponho o dedo no ar, respiro fundo e aqui vai : Do cats eat bats? And do bats eat cats? Tell me the truth...


"Down, down, down. There was nothing else to do, so Alice soon began talking again. `Dinah'll miss me very much to-night, I should think!' (Dinah was the cat .) `I hope they'll remember her saucer of milk at tea-time. Dinah my dear! I wish you were down here with me! There are no mice in the air, I'm afraid, but you might catch a bat, and that's very like a mouse, you know. But do cats eat bats, I wonder?' And here Alice began to get rather sleepy, and went on saying to herself, in a dreamy sort of way, `Do cats eat bats? Do cats eat bats?' and sometimes, `Do bats eat cats?' for, you see, as she couldn't answer either question, it didn't much matter which way she put it. She felt that she was dozing off, and had just begun to dream that she was walking hand in hand with Dinah, and saying to her very earnestly, `Now, Dinah, tell me the truth: did you ever eat a bat?' when suddenly, thump! thump! down she came upon a heap of sticks and dry leaves, and the fall was over. "

Lewis Carroll. Chapter 1 - Down the Rabbit-Hole in Alice's Adventures in Wonderland. [Em qualquer livraria perto de si].

Já disse

Já passou algum tempo desde o dia em que decidi criar um blogue, sem pretensões de coisa alguma, sem objectivos para obter o que quer que seja. Bastava-me experimentar este tipo de espaço onde inscrevia para um texto várias palavras nem sempre concordantes com a minha vida, por vezes nem a léguas...mas num reflexo sobre o que penso, gosto, abomino, ou sobre nada. O interesse também esteve na oportunidade de receber uma reacção a diferentes tipos de textos. Os comentários apareceram, quase sempre de forma simpática e foram eles que travaram em momentos o movimento de pressão sobre a tecla DEL.
De regresso aos reflexos passados a ferro, lamento o desaparecimento de tais comentários, quase sempre de pessoas que desconhecia e desconheço, a transmitirem boa disposição. É uma pena… Ficaram na memória humana.
Por aqui nunca fiz malabarismos, nem truques de magia para aumentar visitantes. E a publicidade junto de amigos, familiares e conhecidos foi e mantém-se quase inexistente. Isto por que sempre quis que este espaço, talvez menos do que outros, fosse uma espécie de refúgio, onde colocaria o que me desse na real gana, sem relógios ou tempos apertados. Poucos são os amigos que o conhecem e alguns sabem perfeitamente o difícil que foi confessar, não propriamente num grupo de terapia: “eu também tenho um blogue”. Ok e depois?
Por enquanto continuo, não sei até quando, até quando considerar que este espaço é útil à minha comunicação ou à comunicação de um ego (filho da puta que por vezes pega-me algumas partidas). Com alguém, que pode mesmo ser e só imaginário. Pois de imaginação também deve viver a Mulher, nem que seja entre panelas e tachos, não é o meu caso, ou entre o solário e a Wellness Center, que também não reflecte a minha pessoa. Mesmo assim, imaginem. Por exemplo, eu costumo imaginar que este amigo está aqui tão perto. E não é que ele está mesmo?