sexta-feira, dezembro 31, 2004
Desejo-vos...
Votos a todos os que por aqui passam. Um ano cheio de momentos felizes.
Um beijo,
Sandra
quarta-feira, dezembro 29, 2004
Passagem de ano
Vou lá eu fazer-vos compreender algo, quando nem eu consigo explicar...Eu sou daquelas pessoas que fica quase sempre numa espécie de depré, em choro, em duas datas ao longo do ano:
- não, não é no dia dos festejos da independência de Portugal;
- não, também não é no dia 25 de Abril - liberdade, cravos, tiros nem vê-los;
- também não é no dia da mãe que alguns amigos militantes continuam, de mão ao alto, a proclamar como sendo no dia de 8 de Dezembro.
- sim, sim é verdade, é no dia dos MEUS ANOS (ainda falta um pouco logo, a 2ª depré que se aguente);
- SIM; SIM é no FINAL DO ANO.
Ainda não tenho explicação para tal acontecimento e, estou certa, existirão poucas pessoas com semelhante quadro psíquico, provavelmente, nesta fase do ano - o final do ano. Passo a apresentar o seu desenvolvimento:
23h30m - piadas, risos e ansiedade (estado normal);
23h40m -começo os preparativos para a passagem: passas, nota de maior valor (estado particular);
23h55- organizo mentalmente os meus doze desejos (estado personalizado);
00h00- distribuo os desejos por cada passa (AVISO: sódevezemquando se realizam);
00h15m - amigos abraçam-me, pulam, felicitam-me.... e EU? Eu, coloco-me no sítio mais longínquo da concentração de massas, observo e choro cumpulsivamente...
Isto é uma merda, garanto-vos! E nada está relacionado com balanços quase empresariais que toda a gente faz por esta altrura. Os amigos bem se juntam em prol do meu bem estar mas, nada feito. Deixem-me estar, que eu até fico bem. Em choro. Ao novo ano.
- não, não é no dia dos festejos da independência de Portugal;
- não, também não é no dia 25 de Abril - liberdade, cravos, tiros nem vê-los;
- também não é no dia da mãe que alguns amigos militantes continuam, de mão ao alto, a proclamar como sendo no dia de 8 de Dezembro.
- sim, sim é verdade, é no dia dos MEUS ANOS (ainda falta um pouco logo, a 2ª depré que se aguente);
- SIM; SIM é no FINAL DO ANO.
Ainda não tenho explicação para tal acontecimento e, estou certa, existirão poucas pessoas com semelhante quadro psíquico, provavelmente, nesta fase do ano - o final do ano. Passo a apresentar o seu desenvolvimento:
23h30m - piadas, risos e ansiedade (estado normal);
23h40m -começo os preparativos para a passagem: passas, nota de maior valor (estado particular);
23h55- organizo mentalmente os meus doze desejos (estado personalizado);
00h00- distribuo os desejos por cada passa (AVISO: sódevezemquando se realizam);
00h15m - amigos abraçam-me, pulam, felicitam-me.... e EU? Eu, coloco-me no sítio mais longínquo da concentração de massas, observo e choro cumpulsivamente...
Isto é uma merda, garanto-vos! E nada está relacionado com balanços quase empresariais que toda a gente faz por esta altrura. Os amigos bem se juntam em prol do meu bem estar mas, nada feito. Deixem-me estar, que eu até fico bem. Em choro. Ao novo ano.
Não apago!
Há dias que venho aqui e tento escrever. Apago e volto a escrever. Escrevo e apago. E isto resume-se ao nada feito. Agora, não apago! O que já está, está. Tal como o meu ano.
sexta-feira, dezembro 24, 2004
In
FelizNatalcomembrulhoscoloridosfitasgrandesbolasárvorebonitaluzes
presentesdarmeterecebertrocapapelpostaissmsenviadasmensagens
amigos importantefarinhapovilharovossepararaçucarmuitobatatas
cozidasbacalhaupratosdispostostalherescoposcheiostravessasquentes
meiachaminépaiNatalceiaboloreivinhobolossobreamesabolosdoces
muitosrabanadassonhosquantossonhosaletriaouarrozdocepinhões
pequenosamêndoasnamãonozesnosfigosfamíliapresenteausente
passadomãesuperabraçosirmãoprotectorcunhadadivertida
primosirmãosmaridodamãefelizbrindetiaschatasmadrinha
queridaafilhadosbeijosdealegriaportantoamore
amizadesemprecumplicidadescarinho
afagaamãotocanocabelofixonoolhar
acriançaemLisboametida
emafectos...
quinta-feira, dezembro 23, 2004
Quebra de tradições
Comer bacalhau cozido com batatas cozidas e couves na noite de Natal sempre foi a parte menos interessante (e mais horrenda, bahhh) a que uma pessoa era obrigada a fazer por estas alturas. Tanto prato tão bom e delicioso que o nosso rectângulo oferece e... QUEM É QUE ESCOLHEU O TAL DO BACALHAU? É que eu tenho a leve impressão de que até existe uma maioria considerável a favor de uma mudança de rumo... Eu, como provavelmente muitos, nunca fui apreciadora deste símbolo nacional mas, porque era Natal, sempre fiz um esforço com súplicas aos deuses para que mais uma vez me desse forças suficientes para levar o garfo à boca com a "comidinha de Deus" e por que lá fora existia muita boa gente sem isso para provar. Várias vezes tentei corromper esta, uma das maiores tradições portuguesas, e junto da minha mãe em estado de protectorado, meti múltiplas cunhas a tradições-portuguesas-minoritárias (o polvo, a galinha recheada...) e europeias bem mais condignas do que esta aplicação abusiva do poder quase absoluto, em aparente concorrência com o peru americanizado de que eu também não gosto mas, neste caso, por ser MAIS uma tradição americanizada; que eu gosto de diversidade.
Mas, a verdade é que nunca tive sucesso. E lá comia o que quase todos os portugueses comem. Mais uma vez, sob o peso de nascer em Portugal...
Entretanto, sem achar que fosse possível, a minha mãe mostrou, finalmente, abertura durante as negociações decorridas neste final de ano e ligou-me a informar que embora se mantenha uma fiel militante ao bacalhau (sempre!), está disposta a uma renovação ligeira, para cotento do povo. Já é qualquer coisa. Pelo menos para este ano...
Mas, a verdade é que nunca tive sucesso. E lá comia o que quase todos os portugueses comem. Mais uma vez, sob o peso de nascer em Portugal...
Entretanto, sem achar que fosse possível, a minha mãe mostrou, finalmente, abertura durante as negociações decorridas neste final de ano e ligou-me a informar que embora se mantenha uma fiel militante ao bacalhau (sempre!), está disposta a uma renovação ligeira, para cotento do povo. Já é qualquer coisa. Pelo menos para este ano...
Festa do sonho
Estamos na época que nos permite sonhar, sem dúvida. Envolvidos num acto cénico com luz e música, somos transpostados para a órbita imaginária do-tudo- é-possível -mas não real. E sonhamos como nunca, de forma declarada: por um mundo diferente e melhor (esta já está gasta...); pelos presentes possíveis e impossíveis de obter; pelas pessoas supostamente ausentes do nosso quotiano mas que pretendiamos presentes e pelas presentes que muito amamos; e por tantos e tantos mais sonhos.
O Natal talvez esteja a perder neste mundo pós-moderno a designação de festa da família. Pois, embora se assista ainda a um esforço por parte de algumas famílias outras deixaram há muito de o ser, foram-se dissolvendo em partículas ínfimas de afectos trocados por ténues laços de afinidade. Muitos dos idosos são deixados em lares e a sua família são as pessoas com quem diariamente troca um olhar, afaga uma mão, recebe um beijo... Muitas das crianças têm a sua família separada e assim, no Natal habituam-se desde cedo, como alguns casais a passar uma parte num sítio e outra parte noutro sítio, quando um dos sítios se mostra disponível. E desta forma, muitas crianças começam a construir partes fragmentadas de uma festa de Natal que anteriomente parecia um todo, com toda a gente junta.
Desta forma, considero cada vez mais o Natal como a festa do sonho ( da fantasia e da ilusão ). E da sua concretização; pelo menos de alguns. Até o tempo presente, feliz, é um sonho para alguém que ainda se considera dentro das suas capacidades (embora por vezes não pareça...) a partilhar um momento bonito com as pessoas que ama e que tem receios quanto ao futuro longínquo. É o momento da fantasia pelos inúmeros artefactos existentes para o efeito. É o momento de ilusão por desencadear, em poucos dias, sentimentos de que bonito-que-isto-seria-se-fosse-sempre-assim-pá.
E isto é tudo uma treta. Já não há Natais como antigamente e eu já sou crescida e já não acredito em Pais-Natal.
O Natal talvez esteja a perder neste mundo pós-moderno a designação de festa da família. Pois, embora se assista ainda a um esforço por parte de algumas famílias outras deixaram há muito de o ser, foram-se dissolvendo em partículas ínfimas de afectos trocados por ténues laços de afinidade. Muitos dos idosos são deixados em lares e a sua família são as pessoas com quem diariamente troca um olhar, afaga uma mão, recebe um beijo... Muitas das crianças têm a sua família separada e assim, no Natal habituam-se desde cedo, como alguns casais a passar uma parte num sítio e outra parte noutro sítio, quando um dos sítios se mostra disponível. E desta forma, muitas crianças começam a construir partes fragmentadas de uma festa de Natal que anteriomente parecia um todo, com toda a gente junta.
Desta forma, considero cada vez mais o Natal como a festa do sonho ( da fantasia e da ilusão ). E da sua concretização; pelo menos de alguns. Até o tempo presente, feliz, é um sonho para alguém que ainda se considera dentro das suas capacidades (embora por vezes não pareça...) a partilhar um momento bonito com as pessoas que ama e que tem receios quanto ao futuro longínquo. É o momento da fantasia pelos inúmeros artefactos existentes para o efeito. É o momento de ilusão por desencadear, em poucos dias, sentimentos de que bonito-que-isto-seria-se-fosse-sempre-assim-pá.
E isto é tudo uma treta. Já não há Natais como antigamente e eu já sou crescida e já não acredito em Pais-Natal.
quarta-feira, dezembro 22, 2004
Mais de 80 anos
Hoje fui ao famoso Colombo Cheio ( de indivíduos da classe média baixa- se é que isto existe em Portugal...) com a intenção de comprar as minhas últimas duas prendas de Natal. Uma delas para uma pessoa com mais de 80 anos. Fui na tentativa de encontrar algo BONITO e INTERESSANTE para uma senhora que muito estimo e que ainda distingue a esquerda da direita, a ervilha do milho, um BOM moçoilo de um tipo sem sal...
Pois é. Depois de ter desesperado com as respostas à pergunta: O que sugeres como prenda de Natal a uma senhora de 80 anos? Das respostas consegui reunir o seguinte top 5 :
- a famosa Manta que não serve (nem aquece) para muito para além de enfeitar as pernas;
-umas pirosérrimas Peças de Roupa que de certeza são idealizadas por pessoas existo-porque-sim, frustadas com a vida;
- as horríveis Cuecas com a utilidade de taparem, com um pouco mais de esforço, as mamas.
- os imperdíveis Lenços de Mão que de bonito e interessante não têm nada e só servem para colocar nhanha;
- a mais que tudo Combinação que não combina com nada mas só existe para pesar no corpo.
- e... ficamos por aqui.
Isto de ser idoso e ser Natal deve ser tramado! Os presentes, quando os recebem (!), não devem ser muito diferentes destes. E, como é de supor, acabam por repetir-se: Olha, mais umas cuecas. Obrigada, pelo vigésimo par de meias.
Eu acabei por comprar isto. E estou certa de que vai gostar.
Pois é. Depois de ter desesperado com as respostas à pergunta: O que sugeres como prenda de Natal a uma senhora de 80 anos? Das respostas consegui reunir o seguinte top 5 :
- a famosa Manta que não serve (nem aquece) para muito para além de enfeitar as pernas;
-umas pirosérrimas Peças de Roupa que de certeza são idealizadas por pessoas existo-porque-sim, frustadas com a vida;
- as horríveis Cuecas com a utilidade de taparem, com um pouco mais de esforço, as mamas.
- os imperdíveis Lenços de Mão que de bonito e interessante não têm nada e só servem para colocar nhanha;
- a mais que tudo Combinação que não combina com nada mas só existe para pesar no corpo.
- e... ficamos por aqui.
Isto de ser idoso e ser Natal deve ser tramado! Os presentes, quando os recebem (!), não devem ser muito diferentes destes. E, como é de supor, acabam por repetir-se: Olha, mais umas cuecas. Obrigada, pelo vigésimo par de meias.
Eu acabei por comprar isto. E estou certa de que vai gostar.
sábado, dezembro 18, 2004
sexta-feira, dezembro 17, 2004
Meu caro amigo
Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando que, também, sem cachaça
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem cigarro
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus
Chico Buarque. 1976
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando que, também, sem cachaça
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem cigarro
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus
Chico Buarque. 1976
quinta-feira, dezembro 16, 2004
terça-feira, dezembro 14, 2004
sábado, dezembro 11, 2004
quinta-feira, dezembro 09, 2004
Dúvidas reflexivas
Sempre que pago o valor do arranjo de um electrodoméstico ou do carro fico sempre com a sensação de que estou a ser enganada. Porque será?
quarta-feira, dezembro 08, 2004
As palavras
Que sei eu de palavras?Conheci-as em tempos num caderno quadriculado onde com cuidado as colocava, por cada análise ou sentimentos expressos na minha observação pelo mundo. Tinhamos uma relação muito íntima e por estes tempos as palavras tinham outros significados, limpas de medos ou inseguranças, aparentemente equilibradas numa cordel de nylon. Os quadros da vida multiplicaram-se e as palavras começaram a ser trocadas pelas que voam; aquelas que soltamos da boca. As que estavam do meu caderno quadriculado foram sendo deixadas, aos poucos, lá ficar, sem contacto; no isolamento profundo de não serem... nada.
Mais tarde, sempre junto deste cifrável conjunto de símbolos, comecei a gostar do toque dos dedos com as teclas e como se estivesse a tocar piano (instrumento que adoro e pena tenho de não o saber tocar) construia alongados textos sobre os mais diversos assuntos.
Em várias alturas da minha vida, já senti muita necessidade delas, em estados de socorro ou de festividade da alma. Em poucos períodos da minha vida, afastei-me delas. Mas, em toda a minha vida as palavras estiveram sempre lá ou cá. Mas estiveram. Bem ou mal.
Mais tarde, sempre junto deste cifrável conjunto de símbolos, comecei a gostar do toque dos dedos com as teclas e como se estivesse a tocar piano (instrumento que adoro e pena tenho de não o saber tocar) construia alongados textos sobre os mais diversos assuntos.
Em várias alturas da minha vida, já senti muita necessidade delas, em estados de socorro ou de festividade da alma. Em poucos períodos da minha vida, afastei-me delas. Mas, em toda a minha vida as palavras estiveram sempre lá ou cá. Mas estiveram. Bem ou mal.
segunda-feira, dezembro 06, 2004
notas para o diário
deus tem que ser substituído rapidamente por poe-
mas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,
vivos e limpos.
a dor de todas as ruas vazias.
sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste silêncio.
e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abis-
mo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de aca-
bar comigo mesmo.
a dor de todas as ruas vazias.
mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu cora-
ção, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.
a dor de todas as ruas vazias.
pois bem, mário - o paraíso sabe-se que chega a lis-
boa na fragata do alfeite. basta pôr uma lua nervosa no
cimo do mastro, e mandar arrear o velame.
é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem
cadastro.
a dor de todas as ruas vazias.
sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. o
filme acabou. não nos conheceremos nunca.
a dor de todas as ruas vazias.
os poemas adormeceram no desassossego da idade.
fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais
curto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-me
as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas. ..e
nada escrevo.
o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida - e
a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.
a dor de todas as ruas vazias.
Al-Berto. Horto de Incêndio. Assírio & Alvim. 3ª edição - Dezembro 2000
mas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,
vivos e limpos.
a dor de todas as ruas vazias.
sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste silêncio.
e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abis-
mo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de aca-
bar comigo mesmo.
a dor de todas as ruas vazias.
mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu cora-
ção, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.
a dor de todas as ruas vazias.
pois bem, mário - o paraíso sabe-se que chega a lis-
boa na fragata do alfeite. basta pôr uma lua nervosa no
cimo do mastro, e mandar arrear o velame.
é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem
cadastro.
a dor de todas as ruas vazias.
sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. o
filme acabou. não nos conheceremos nunca.
a dor de todas as ruas vazias.
os poemas adormeceram no desassossego da idade.
fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais
curto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-me
as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas. ..e
nada escrevo.
o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida - e
a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.
a dor de todas as ruas vazias.
Al-Berto. Horto de Incêndio. Assírio & Alvim. 3ª edição - Dezembro 2000
sábado, dezembro 04, 2004
Compras, compras
Hoje vou estar por aqui. Das 10 dicas preciosas apresentadas no site, gosto especialmente destas duas:
7. Vista a sua melhor lingerie. Na falta de provador, pode ter mesmo que se despir em público.
8. Faça uma pausa no lounge. Prove tudo, beba umas caipirinhas e divirta-se a contar quantos sacos é que os outros já têm.
E aí vou eu, à espera de ver algo de bom, bonito e barato.
Bom fim de semana!
7. Vista a sua melhor lingerie. Na falta de provador, pode ter mesmo que se despir em público.
8. Faça uma pausa no lounge. Prove tudo, beba umas caipirinhas e divirta-se a contar quantos sacos é que os outros já têm.
E aí vou eu, à espera de ver algo de bom, bonito e barato.
Bom fim de semana!
sexta-feira, dezembro 03, 2004
quinta-feira, dezembro 02, 2004
Rita em festa
Chego sempre atrasada... mas acho que vou a tempo de enviar-te uma grande beijoca de parabéns e um gracias por existires neste espaço da blogosfera.Continua!
Volta Cavaco, volta D. Sebastião
Tenho ainda alguns níveis de álcool no sangue e talvez seja isso que ainda me vai valendo para não acreditar no que vou ouvindo sobre o nosso estado de governo. Continuamos, ao que parece, a abrir caminho aos fantasmas do passado; missinários propositados para o salvamento da pátria lusa, contra o afogamento eminente. Cavaco Silva, volta que estás perdoado - gritam quase em som estereofónico (só lhe faltam as carrinhas a percorrer o país) algumas hostes do PSD e outros que não são de lado nenhum mas que lhes parece bem. Portugal parece perdido a discutir o bem e o mal que o Presidente da República fez (volta Mário Soares?) e em estado de desespero julgo, dizem-se estas coisas... sem memória. Cavaco Silva tem também as suas culpas no estado a que Portugal chegou (ou que sempre esteve); foi mesmo um dos que mais gastou ao desbarato. Terá tido algum sentido de estado, talvez, mas, os seus governos e respectivos ministros foram motivo para grandes embrulhadas...
Não me lixem!
Mais um uisque, se faz favor.
Não me lixem!
Mais um uisque, se faz favor.
segunda-feira, novembro 29, 2004
Feliz Natal
Prolongo os meus pés pelas ruas de lisboa que se cruzam com os seus pares, mais do que o habitual. Lanço o olhar pelas lojas e fico rodeada de luzinhas, botinhas, pais-natal e outros complementos de uma época em que ainda pouco consegui perceber a utilidade para além da que cabe aos empresários, obviamente. Não quero com isso descaracterizar a beleza iludida em luzes psicadélicas que enfeitam por agora os nossos dias mas quero acreditar que não havia necessidade deste Natal, construído para o espectáculo efémero de caridade por que fica bem e de presentes por que sim e sei lá mais o quê com o porquê que escapa à maioria. Sem falar nas super-tias que ficam mais tias na época do Natal. É vê-las a fazerem peditórios, a ocuparem o posto de relações públicas da sociedade em contactos permanentes com a instituições de beneficiência, a mostrarem-se conscientes de um mundo designado de terceiro e de todos os males que dele advém... A época de Natal é o momento ON para o Mundo. Depois de 6 Janeiro, fechamos a loja e viramos mais uma vez o olhar para o nosso umbigo, limitados aos nossos mesquinhos problemas. De sermos. Gente.
Feliz Natal para todos!
Feliz Natal para todos!
domingo, novembro 28, 2004
Estou de volta
Estou de volta, com passos de dança de contentamento. Já tenho em casa o meu Pc que esteve como que hospitalizado (uns longos dias) a recuperar de um colapso de fusíveis e de um período depressivo derivado da confusão em que sobrevivia.
É nestas alturas que fico mais convencida das quatro partes em que se divide o meu corpo: cabeça, tronco, membros e Pc. Sem este precioso utensílio a minha vida fica totalmente diferente, para pior; num quase estado de caos. É uma necessidade básica ao meu trabalho e, por conseguinte, à minha sobrevivência.
Agradeço a quem foi passando por cá.
É nestas alturas que fico mais convencida das quatro partes em que se divide o meu corpo: cabeça, tronco, membros e Pc. Sem este precioso utensílio a minha vida fica totalmente diferente, para pior; num quase estado de caos. É uma necessidade básica ao meu trabalho e, por conseguinte, à minha sobrevivência.
Agradeço a quem foi passando por cá.
domingo, novembro 14, 2004
sábado, novembro 13, 2004
Conjugação de interesses
Conjugar um bom filme com bons actores, boa sala, óptima hora, excelente companhia...
Alain Delon está presente em seis películas cinematográficas na Cinemateca Portuguesa. Muito, muito interessante.
Diálogos reflexivos (8)
- O que é para ti interessante?
- São todas as coisas ou pessoas de que eu gosto. Apesar dos outros não acharem.
- E tu és interessante?
- Claro que sou! Gosto muito de moi.
- São todas as coisas ou pessoas de que eu gosto. Apesar dos outros não acharem.
- E tu és interessante?
- Claro que sou! Gosto muito de moi.
quinta-feira, novembro 11, 2004
quarta-feira, novembro 10, 2004
Estou testada
You're Brigitte Bardot!
What Classic Pin-Up Are You?
brought to you by Quizilla
Via 100nada
Existem coisas que é difícil explicar.
sábado, novembro 06, 2004
Diálogos reflexivos (7)
Olha para o céu Fernanda. Observa-o em diálogo o seu comprimento e imagina em reflexo o que existirá atrás dele; como se o céu fosse um pano do teatro que é a vida. Para lá, Fernanda acredita que existem anjos e diabinhos a trabalhar para diferentes amos que se gladiam: Deus e Diabo; em representação respectiva do bem e do mal. Fernanda acredita no possível impossível; da normalidade. Da moralidade reinventa prisões à sua liberdade. Presa ao mundo do bem contra o mal, deixa-se ficar nesta verdade.
quinta-feira, novembro 04, 2004
Súplica
.
Quem nos ouve? Nesta necessidade constante, nesta busca incessante do outro. Do ouvido do outro. Não falemos para o ar, nem para as paredes que dizem ser anormal. Que eu sou anormal, louca. Falemos para algo mais alto. Supostamente além, transcendente. Divino. Ouvido. Que não vemos. Mas sentimos a existência. Ou acreditamos que assim é. Mesmo sem sabermos se assim é. Mas o que é ? Que ao dizê-lo deixou de o ser. O ser que não é. Mas é ser. Divino.
Vou ser breve. Não sei se Tu existes. Mas se existes gostaria que ouvisses que estou chateada por não ouvires as minhas súplicas em relação às eleições americanas. Algo que estou a tentar ultrapassar...Peço agora só uma pequena e simples coisa: zele por Yasser Arafat. A sério. Na incógnita provável de estar a pedir demais.
Segura de ter sido ouvida. Despeço-me com cumprimentos pessoais.
Sandra
Quem nos ouve? Nesta necessidade constante, nesta busca incessante do outro. Do ouvido do outro. Não falemos para o ar, nem para as paredes que dizem ser anormal. Que eu sou anormal, louca. Falemos para algo mais alto. Supostamente além, transcendente. Divino. Ouvido. Que não vemos. Mas sentimos a existência. Ou acreditamos que assim é. Mesmo sem sabermos se assim é. Mas o que é ? Que ao dizê-lo deixou de o ser. O ser que não é. Mas é ser. Divino.
Vou ser breve. Não sei se Tu existes. Mas se existes gostaria que ouvisses que estou chateada por não ouvires as minhas súplicas em relação às eleições americanas. Algo que estou a tentar ultrapassar...Peço agora só uma pequena e simples coisa: zele por Yasser Arafat. A sério. Na incógnita provável de estar a pedir demais.
Segura de ter sido ouvida. Despeço-me com cumprimentos pessoais.
Sandra
Para descomprimir
.
REISE, REISE
Artista: RAMMSTEINE
Editora:UNIVERSAL Ano: 2004
Estilo: METALCD
Peso: 100 gr.
We are living in America. America. America.
in Amerika - faixa nro. 6
REISE, REISE
Artista: RAMMSTEINE
Editora:UNIVERSAL Ano: 2004
Estilo: METALCD
Peso: 100 gr.
We are living in America. America. America.
in Amerika - faixa nro. 6
terça-feira, novembro 02, 2004
Carla
Continuo irritada. Há dias que sabia do dia de hoje. O dia de Carla e o de todas mulheres que abortam neste país. Para meu contentamento Carla foi absolvida e o acusador (um enfermeiro) poderá sofrer um processo disciplinar por quebra do sigilo profissional.
Até quando este estado hipócrita? rrrrr
Até quando este estado hipócrita? rrrrr
segunda-feira, novembro 01, 2004
sábado, outubro 30, 2004
Acaso à noite
.
Bom dia noite. Entre antes do anoitecer e a noite escura. Tudo bom. Bom fim-de-semana.
Bom dia noite. Entre antes do anoitecer e a noite escura. Tudo bom. Bom fim-de-semana.
Ida ao cabeleireiro
Acordei decidida a ir até ao cabeleireiro cortar aquelas pontas mais enfraquecidas. Como tinha uns assuntos programados na zona de Lisboa onde passei a minha infância e adolescência, decidi fazê-lo por lá. Pois bem. Entrei no cabeleireiro (onde ia quando miúda) e depois de explicar o tratamento capilar pretendido, sentei-me. Reparo então que a maior parte das mulheres presentes tinha em média mais de 40 anos e queixava-se de forma minuciosa sobre os males que os seus corpos já não aguentam. Aproximei-me de uma das funcionárias, cancelei a minha vez e saí porta fora. Ufff!
quinta-feira, outubro 28, 2004
O meu dicionário
Há aqui qulaquer coisa que não me soa bem... Será que é um problema do meu dicionário, que já está velhinho? Ou é meu, que estou a envelhecer?
Passo a apresentar:
Vício, s.m. (do Lat. vitiu). 1. Imperfeição grave pela qual uma pessoa ou uma coisa se afasta do tipo normal. 2. Hábito profundamente enraizado de acções gravemente imorais. 3. Desmoralização; libertinagem; defeito; mau hábito. 4. Dir. Defeito capaz de invalidar um acto jurídico.
in Colecção Lexicoteca Moderno Dicionário de Língua Portuguesa. Círcculo de Leitores. 1985
O que é que vocês acham?
Passo a apresentar:
Vício, s.m. (do Lat. vitiu). 1. Imperfeição grave pela qual uma pessoa ou uma coisa se afasta do tipo normal. 2. Hábito profundamente enraizado de acções gravemente imorais. 3. Desmoralização; libertinagem; defeito; mau hábito. 4. Dir. Defeito capaz de invalidar um acto jurídico.
in Colecção Lexicoteca Moderno Dicionário de Língua Portuguesa. Círcculo de Leitores. 1985
O que é que vocês acham?
Viciada
Dou três pancadas. Abro o pano e apareço para dizer que nesta questão de virtudes e de vícios eu sou uma moçoila que leva à letra as palavras de Molière - Prefiro um vício cómodo a uma virtude cansativa.
Na verdade não sou dada a grandes virtudes. Tenho um feitio ir às lágrimas e em vícios tornei-me numa expert. Num tempo em que Estados combatem, a nível mundial, um vício e ao mesmo tempo tentam globalizar virtudes de um mundo mergulhado na incerteza. Num tempo em que alguns viciados são alvo de muito ataques, a roçar a humilhação. Exemplifico: o indivíduo que toma habitualmente a sua bica padece, agora, segundo especialistas, de uma doença do foro psiquiátrico. E quem fuma, se decide fazê-lo em lugares públicos é uma espécie de carrasco, em casa é uma espécie de exilado.
Eu tenho muitos vícios. É verdade. Para além de fumar e de beber preferencialmente Whisky e de fazer sexo (não esqueçamos!) tenho o mau hábito de ir sempre ao mesmo café, de comprar o jornal naquele quiosque, de ir quase sempre ao mesmo bar, de…. sentir-me muito viciada por pequenas coisas que podem fazer muito.
Na verdade não sou dada a grandes virtudes. Tenho um feitio ir às lágrimas e em vícios tornei-me numa expert. Num tempo em que Estados combatem, a nível mundial, um vício e ao mesmo tempo tentam globalizar virtudes de um mundo mergulhado na incerteza. Num tempo em que alguns viciados são alvo de muito ataques, a roçar a humilhação. Exemplifico: o indivíduo que toma habitualmente a sua bica padece, agora, segundo especialistas, de uma doença do foro psiquiátrico. E quem fuma, se decide fazê-lo em lugares públicos é uma espécie de carrasco, em casa é uma espécie de exilado.
Eu tenho muitos vícios. É verdade. Para além de fumar e de beber preferencialmente Whisky e de fazer sexo (não esqueçamos!) tenho o mau hábito de ir sempre ao mesmo café, de comprar o jornal naquele quiosque, de ir quase sempre ao mesmo bar, de…. sentir-me muito viciada por pequenas coisas que podem fazer muito.
O vício
Carreggio. Alegoria dos vícios. séc. XVI
Post-it: Há quem chame virtudes à ausência de manifestação dos seus vícios. Friedrich Nietzsche
A virtude
Correggio. Alegoria das virtudes. Séc.XVI
Post-it: A virtude também é uma arte. Por isso, tem dois tipos de discípulos: os que a praticam e os que a admiram. Marie von Ebner-Eschenbach
terça-feira, outubro 26, 2004
Diálogos reflexivos (6)
- Viver só é uma arte.
- E viver a dois?
- É uma obra de arte.
- Humm... Então e viver a três o que é?
- Depende dos três elementos ... mas é uma obra prima.
- O quê? Não concordo!
- E viver a dois?
- É uma obra de arte.
- Humm... Então e viver a três o que é?
- Depende dos três elementos ... mas é uma obra prima.
- O quê? Não concordo!
segunda-feira, outubro 25, 2004
Reflexosss
Não sei o que faça à minha vidinha. Ainda hoje é segunda-feira e estou que nem posso... As mais entendidas perceberão, por certo, o meu suplício. A verdade é que não tenho muito mais para escrever neste mísero blog e apareci por aqui para escrever exactamente isso - um reflexo (sincero) do meu estado de espírito.
Não sei se é dia. Mas há dias em que temos vontade de partir, quebrar, atirar tudo pelos céus e deixar cair as coisas onde elas quiserem. E hoje estou com vontade de terminar este blog... Talvez seja só hoje. Talvez amanhã por aqui continue... Talvez.
Obrigada aos que por aqui vão passando.
Não sei se é dia. Mas há dias em que temos vontade de partir, quebrar, atirar tudo pelos céus e deixar cair as coisas onde elas quiserem. E hoje estou com vontade de terminar este blog... Talvez seja só hoje. Talvez amanhã por aqui continue... Talvez.
Obrigada aos que por aqui vão passando.
sábado, outubro 23, 2004
sexta-feira, outubro 22, 2004
Dépression portugaise
As notícias não trazem nada de novo a esta mísera e sebastianista república. Na televisão, em promoção ao programa de Maria João Avilez, na SIC Notícias, é possível ouvirmos da voz da nossa agora mais que tudo Mariza o facto de que quando termina um espectáculo sente-se velha, com mais de 100 anos. Pudera! Carrega consigo uma frustrada história que tenta ( de forma desastrosa) a todo o custo redimir-se dos anéis que vendeu, dos dinheiros que escondeu, do ouro que deu a amigos e a vizinhos e das personagens fantasmagóricas (e ainda por cima míticas) que possui.
Para nosso consolo, mesmo assim, Portugal continua com vontade de mostrar-se ao Mundo como se fosse o melhor que todo o Mundo tem: o futebol, a comida, o futebol, a comida, os monumentos, o sol, o futebol, a história, a comida, as praias, os monumentos, o futebol, o fado, a história, o fado, Nossa Senhora de Fátima, o fado, ai o fado…
Para nosso consolo, mesmo assim, Portugal continua com vontade de mostrar-se ao Mundo como se fosse o melhor que todo o Mundo tem: o futebol, a comida, o futebol, a comida, os monumentos, o sol, o futebol, a história, a comida, as praias, os monumentos, o futebol, o fado, a história, o fado, Nossa Senhora de Fátima, o fado, ai o fado…
quarta-feira, outubro 20, 2004
Final do dia
Faça o favor:
- 1 copo de vinho Monte Velho
- 1 queijo de Niza
- 1 caixa de Partagas mini
[...]
Pode deixar, obrigada.
- 1 copo de vinho Monte Velho
- 1 queijo de Niza
- 1 caixa de Partagas mini
[...]
Pode deixar, obrigada.
terça-feira, outubro 19, 2004
Post-it
Não sei quem disse que o grande talento não consiste em saber o que se há-de dizer, mas em saber o que se tem de calar.
Mariano José de Larra
Mariano José de Larra
Diálogos reflexivos (4)
Manuela está junto a Pedro à porta da estação de metro Alto dos Moinhos, em Lisboa. Gritam-se. Enviam palavras com a mesma força que um qualquer lançador olímpico de pesos. Movem a face e as mãos numa quase luta de galos que procura a vitória. E com as palavras são levados em queda livre ao poço da angústia em que nenhum parece ganhar.
O quadro público é multiplicado em mil imagens e reflexões para quem passa. Sendo para os outros a imagem o mais importante pelo que reflecte, para os envolvidos são de certeza as palavras que gladiam o plano central. Pois as palavras, por vezes malditas, são capazes de nos matar; a pior das mortes... Que eu e tu bem sabemos...
O quadro público é multiplicado em mil imagens e reflexões para quem passa. Sendo para os outros a imagem o mais importante pelo que reflecte, para os envolvidos são de certeza as palavras que gladiam o plano central. Pois as palavras, por vezes malditas, são capazes de nos matar; a pior das mortes... Que eu e tu bem sabemos...
domingo, outubro 17, 2004
Balanço
Fim-de-semana desejado -----------------> Não concretizado.
Prejuízos vários. Lucros 0. Iminência de estado de falência.
Prejuízos vários. Lucros 0. Iminência de estado de falência.
sábado, outubro 16, 2004
sexta-feira, outubro 15, 2004
A Festa
(...)
Me abraça, me aperta.
Me prende em tuas pernas.
Me prende, me força, me roda, me encanta.
Me enfeita num beijo.
(...)
Milton Nascimento
Me abraça, me aperta.
Me prende em tuas pernas.
Me prende, me força, me roda, me encanta.
Me enfeita num beijo.
(...)
Milton Nascimento
Fim-de-semana
Gustav Klimt. The Kiss. 1907-08
Post-it: Todas as paixões são boas quando se é dono delas e todas são más quando nos escravizam. Jean-Jacques Rousseau
quinta-feira, outubro 14, 2004
Depois de um dia de muito trabalho entre reuniões, trapalhadas, e afins... a Rita fez-me uma surpresa agradável. Gracias.
Continua!
Continua!
terça-feira, outubro 12, 2004
Dia preto
Existem dias em que tudo parece cinzento,
Da minha escuridão.
De não saber se quer (continuar a) ser.
quase preto.
Tudo parece nada
e nada a forte existência.
Do ser.
De não saber o que se é. Se se sente.
Emergência!
No sentido do sentido,
passado.
Elevam-se rosas da infância.
Trapalhadas e trapos nos descomprometidos baús, ingénuos.
Para não cair no
a b i s m o.
Presente.
Da minha escuridão.
De não saber se quer (continuar a) ser.
Gente.
domingo, outubro 10, 2004
Diálogos célebres (1)
[ai que o menino leva tau-tau]
Júlia Pinheiro: - O seu pai não se exalta?
Filho de Avelino Ferreira Torres: - Exalta-se quando tem de se exaltar.
Júlia Pinheiro: - O seu pai não se exalta?
Filho de Avelino Ferreira Torres: - Exalta-se quando tem de se exaltar.
sábado, outubro 09, 2004
Solteirona
Caminho pela rua de forma a não ser ultrapassada pelo tempo. Um indivíduo entretanto deixa solta a frase: - Ei, solteirona.
Paro no mesmo instante. Fico mais uma vez convencida de que devia ser permitido a qualquer mulher, com justa causa, libertar bofetadas ou algo mais a indivíduos cuja a massa encefálica só lhes transmite palavras que ofendem qualquer fêmea do mundo animal.
Sou solteira com gosto. A minha condição não é nem o motivo das minhas angústias ou lamentações, nem dos momentos depressivos da minha sobrevivência, pelo contrário. Mas, solteirona? Recorro a uma enciclopédia recente na tentativa fugaz de, com rigor, tomar conhecimento deste (meu) suposto estatuto pois, ter a ideia de não é um bom conselheiro... Então meus amigos, eis o que eu passei a ser:
SOLTEIRONA, adj. fem. de SOLTEIRÃO 2. adj. e s.f. Que ou a mulher que, passada a idade normal do casamento, ainda se encontra solteira.
Ok. Para além de, na casa dos trinta, ter direito (e dever) a uma promoção na hierarquia das solteiras: solteirona encalhada ou solteirona fufa, passei agora a roçar o anormal. Não é que eu deixei passar o raio da idade normal??? Estou tramada.
Paro no mesmo instante. Fico mais uma vez convencida de que devia ser permitido a qualquer mulher, com justa causa, libertar bofetadas ou algo mais a indivíduos cuja a massa encefálica só lhes transmite palavras que ofendem qualquer fêmea do mundo animal.
Sou solteira com gosto. A minha condição não é nem o motivo das minhas angústias ou lamentações, nem dos momentos depressivos da minha sobrevivência, pelo contrário. Mas, solteirona? Recorro a uma enciclopédia recente na tentativa fugaz de, com rigor, tomar conhecimento deste (meu) suposto estatuto pois, ter a ideia de não é um bom conselheiro... Então meus amigos, eis o que eu passei a ser:
SOLTEIRONA, adj. fem. de SOLTEIRÃO 2. adj. e s.f. Que ou a mulher que, passada a idade normal do casamento, ainda se encontra solteira.
Ok. Para além de, na casa dos trinta, ter direito (e dever) a uma promoção na hierarquia das solteiras: solteirona encalhada ou solteirona fufa, passei agora a roçar o anormal. Não é que eu deixei passar o raio da idade normal??? Estou tramada.
sexta-feira, outubro 08, 2004
JCB
Falo aqui do José Castelo Branco, uma figura extremamente interessante da sociedade portuguesa e um exemplar do que muito existe a nível mundial. Nesse aspecto estamos bem. Estampado num jornal em letra de tipo Impact leio uma afirmação sua, qualquer coisa como: Eu não sou gay. E eu acredito. Ele realmente não o é. Considero que seja uma mulher transfigurada de homem. Isso sim. E assim sendo, o que ele poderá ser, na melhor das hipóteses, é lésbica. Pois é. Aqui está um bom tema para uma futura tese... Será que andamos todos a ser enganados?
Diálogos reflexivos (3)
- Vivo com o pai, a mãe, o irmão e a empregada. Mas a empregada não é da família.
- Pois.
(...)
- Qual é a profissão da tua mãe?
- A minha mãe faz ginástica e relaxa no jakuzzi.
- Ai é? E qual é a profissão do teu pai?
- É treinar. Fazer musculação para esvaziar aquela barriga enorme que ele tem.
-Pois.
- Pois.
(...)
- Qual é a profissão da tua mãe?
- A minha mãe faz ginástica e relaxa no jakuzzi.
- Ai é? E qual é a profissão do teu pai?
- É treinar. Fazer musculação para esvaziar aquela barriga enorme que ele tem.
-Pois.
quinta-feira, outubro 07, 2004
Diálogos reflexivos (2)
- Queres casar comigo?
- Não. Eu não quero casar. Com ninguém.
- Humm
- Mas quero (continuar a) namorar contigo. Queres?
- Assim não sei...
- Não. Eu não quero casar. Com ninguém.
- Humm
- Mas quero (continuar a) namorar contigo. Queres?
- Assim não sei...
terça-feira, outubro 05, 2004
Vou viajar
You're a Summer. You're just a ball of energy that
is constantly going on and on!! You're kinda
like the energizer bunny. lol. But your
probably really athletic and even if you're
not, you'd be good in sports because of all
your energy. You're enthusiastic about
everything you do and find it hard not to be
happy. You're usually pretty optimistic but can
be realistic when needed. You always hope for
the best to turn out and many times they do.
Sometimes though, you let your temper get the
best of you but you apologize as soon as you
can because you hate people being angry with
you. You're friends love how active you are and
you make them feel. (If you can't see tje pics,
go to my homepage and look near the bottom and
find your result) like they can do anything
crazy if they want to.
What season are you? (pics)
brought to you by Quizilla
A Vila
Sentei-me na cadeira de um daqueles cinemas com pipocas que quase sempre evito mas que não recuso quando está em causa um filme de qualidade, considerado por amigos ou críticos. Todavia, a qualidade por si só não corresponde a um livre passe a que dê entrada a qualquer género de filme. Procuro informação e sou muito resistente por melhor música e argumento que o valha ao género de terror. Pois é. The Village não é um filme de terror mas tem monstros, situações que desacadeiam medo. Não é um filme de amor mas tem uma das mais belas histórias, de ir às lágrimas. Não é um filme de acção mas tem tentativas de homicídio, quedas, suspense... Afinal, o que é? É um grande filme (entre fronteiras)! Do jovem realizador M. Night Shyamalan, também de Sinais e Sexto sentido.
Possui também um grande elenco, destaco William Hurt sempre apetecível, entre Judy Greer, Bryce Dallas Howard, Joaquin Phoenix, Adrien Brody, Sigourney Weaver....
Qualquer quebra da fronteira entre este filme e a realidade será pura coincidência...
quarta-feira, setembro 29, 2004
Diálogos reflexivos (1)
João cola-se ao chão. Baloiça com a areia. Sustenta-a nas mãos e deixa-a fugir com o vento. A mãe do João não deve gostar de areia. Prefere levantar a voz e dizer ao João que pare. Quieto! Mas o João não consegue resistir aos encantos de tais partículas. Continua. Enamorado pela areia. A mãe do João aproxima a boca do ouvido do João e diz-lhe:
- Daqui a pouco METO A MINHA MÃO NA TUA BOCA!
João estremece. Encolhe os ombros, fecha os olhos e fica. Sozinho.
- Daqui a pouco METO A MINHA MÃO NA TUA BOCA!
João estremece. Encolhe os ombros, fecha os olhos e fica. Sozinho.
segunda-feira, setembro 27, 2004
Ligar o televisor.
Pego no perna. Pego no pé. Dou um triplo salto no ar. Bato com a cabeça no chão. Catrapum. Pum. Pum. Fico sem pensar... Agarro-me à televisão. Presa. Fixa. Na mente. A olhar. Malabaristas. Mágicos. Controcionistas. Mostram o seu valor. Exemplarmente colocados à direita ou à esquerda. Misturam-se com palhaços, disfarçados com enormes gravatas ou laços.
Fico atenta. Falo para o televisor. Será que algum deles me ouve? Digo: Parvalhão, estúpido e estupor! - com os braços no ar.
Será que o circo continua? Ou sou eu que não devo ligar?
Fico atenta. Falo para o televisor. Será que algum deles me ouve? Digo: Parvalhão, estúpido e estupor! - com os braços no ar.
Será que o circo continua? Ou sou eu que não devo ligar?
quarta-feira, setembro 22, 2004
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância.
A influência má dos signos do zodíaco
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue poder das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra.
Anda a espreitar meus olhos para roê-los
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Augusto dos Anjos
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância.
A influência má dos signos do zodíaco
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue poder das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra.
Anda a espreitar meus olhos para roê-los
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Augusto dos Anjos
domingo, setembro 12, 2004
sexta-feira, setembro 10, 2004
Oração para antes de nascer
Ainda não nasci; oh, escutai-me.
Não deixem que o vampiro, a ratazana, e o diabo coxo se cheguem
[a mim.]
Não deixem que o vampiro, a ratazana, e o diabo coxo se cheguem
[a mim.]
Ainda não nasci; consolai-me.
Temo que a raça humana com altas paredes me emparede,
com fortes drogas me entonteça, com hábeis mentiras me iluda.
em negros potros me torture, em banhos de sangue me imirja.
Ainda não nasci; dai-me
água que me embale, relva que para mim cresça, árvores que falem
comigo, pássaros que para mim cantem, e uma branca luz
no fundo da minha alma para guiar-me.
Ainda não nasci; perdoai-me os pecados que em mim o mundo há-de
[pecar, as minhas palavras]
quando elas por mim falarem, os meus pensamentos quando me pensarem
a minha traição engendrada por traidores fora de mim,
a minha vida quando matarem com as minhas
mãos, a minha morte quando me viverem.
Ainda não nasci; ensaiai-me
nos papéis que devo representar e nas deixas que devo pegar quando
os velhos me ralharem, os burocratas me dirigirem, as montanhas
me franzirem o rosto, amantes se rirem de mim, as brancas
ondas me chamarem à loucura e o deserto chamar
à perdição e o mendigo recusar
a minha esmola e os meus filhos me amaldiçoarem
Ainda não nasci; Oh, escutai-me,
não deixem que o homem que é besta-fera ou o que se pensa Deus chegue perto de mim.
Ainda não nasci; oh, enchei-me
de força contra os que hão-de congelar
a minha humanidade, hão-de reduzir-me a um letal autómato,
farão de mim um dente de engrenagem, uma coisa
com rosto, uma coisa, e contra todos os
que dissiparão a minha integridade, me
soprarão como um cardo seco daqui para
ali e dali para aqui e aqui
como água me hão-de ter nas
mãos para desperdiçar-me
Não os deixem fazer de mim uma pedra, não os deixem
[desperdiçar-me]
E se assim não for, matai-me.
Louis Macneice
(Tradução de Jorge de Senna)
quarta-feira, setembro 08, 2004
Terá isto algum nexo?
Sexo. Sexo. Sexo - terá isto algum nexo? Se sim, digam-no declaradamente, por escrito, com impresso e envelope e selo passado pela língua, depois pela mão. Escrevam para uma morada qualquer da Rua Escondida numa Floresta Amorosa. Se não, também de escrever precisarão. Apresentem argumentos por que sim e por que não. Digam mais...qualquer coisa! O que fazem: com a mão; com o pé; com o traseiro; e porque não, com o dedo mindinho - pode valer mais do que muitos dedos da mão. Sexo, sexo,sexo - terá isto algum nexo? Façam daqui vossa a palavra. Do que pensam, do que julgam, do que censuram ou ainda do que é que aturam. E mais não digo. Uma mão afaga-me o clítoris do desaforo e fica sensível como o da Rititi que já o tem.... Sexo terá afinal nexo? Todo. O sexo. Nexo. Do Mundo. Já disse, certamente, Freud e eu concordarei também.
O Rosto
" Imagina que vivias num mundo onde não existissem espelhos. Sonharias com o teu rosto, imaginá-lo-ias como uma espécie de reflexo exterior do que houvesse em ti. E depois, supõe que, aos quarenta anos, te mostravam um espelho. Imagina o teu pavor. Terias visto um rosto totalmente estranho. E terias percebido nitidamente aquilo que te recusas a admitir: o teu rosto não és tu."
Milan Kundera. A Imortalidade. 4ª edição. Lisboa. Publicações Dom Quixote. 2001. p. 37
Milan Kundera. A Imortalidade. 4ª edição. Lisboa. Publicações Dom Quixote. 2001. p. 37
terça-feira, setembro 07, 2004
A janela está aberta
De 28 de Agosto a 12 de Setembro decorre o 16ºFestival Internacional de fotojornalismo. Muitos fotógrafos apresentam as (suas) melhores imagens de vários acontecimentos que se sucedem pelo Mundo. Melhor nem sempre significa bom. Neste caso, por vezes, o positivo fica pela mensagem contida na imagem e nos sentimentos (de questionamento) que poderão desencadear em cada um de vós. Em alguns de nós o outro continua a construir-se, num mundo que aparece, parece, como já não sendo o nosso; o de outro a conter o outro indivíduo. Que não deixa de ser um pouco de todos nós.
Ami Vitale é uma das fotógrafas presentes neste evento. Nascida nos Estados Unidos da América, tem desenvolvido o seu trabalho por inúmeros países: Angola, Guiné-Bissau, Argentina, entre outros. Prémios, realço o recebido o ano passado: prémio Canon - a mulher fotojornalista de 2003. Ultimamente tem-se focado no problema de Caxemira e no quotidiano violento da população.
A janela está temporariamente aberta.
Eu sei, mas não devia
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.
As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo
e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,
de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Marina Colasanti
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.
As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo
e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,
de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Marina Colasanti
domingo, setembro 05, 2004
Estamos no século...da evolução da merda
Filhos da puta de guerrelheiros. Cabrões de tropas Russas. Merda para a Tchetchénia. Que se foda a puta da independência. Foda-se para o Putin. Caralhóides de armas e bombas. Avionetas e helicópteros. Metam tudo no cú e façam-se explodir de merda. Foda-se! Já disse.
quarta-feira, setembro 01, 2004
Análise de conteúdo
Os meus dias não têm sido fáceis. Mas que dificuldade é esta de vivermos? Existem actualmente muitos peritos sobre o assunto. E muitos livros, também. Mas eu ligo-lhes pouco, confesso. Deixem-me ao menos viver à minha maneira. Nem que não seja a melhor para muitos. Mas é minha. A vida.
Trabalho num bairro social que, sem ser dos mais problemáticos, contém todos os problemas sociais de qualquer bairro do género: baixos índices de escolaridade e elevados índices de emprego precário, de desemprego e delinquência juvenil.
Em tempos próximos tive a oportunidade de falar com a mãe de cinco filhos em idade escolar. Transcrevo de memória o diálogo estabelecido:
D. Maria: Acho que estou grávida.
Eu: Como é que sabe? Já fez algum teste?
D. Maria: Não tenho dinheiro para comprar o teste, senhora. Faltou-me aquilo, aquilo que a senhora sabe.
Eu: Sim. E então?
D. Maria: Sabe, já tenho cinco filhos em casa... Nós não temos muito dinheiro e...
Eu: E... o que é que pensa fazer?
D. Maria: Olhe, nem tenho dormido nos últimos dias. Não sei o que fazer à minha vida.
(chora compulsivamente)
Eu não posso ter mais filhos, senhora! O meu marido é pedreiro e nem sempre o patrão lhe paga... e eu trabalho na casa de um senhora ali em Telheiras. Aquela pensão que dão aos miúdos é uma miséria. Não dá para nada, senhora. A casa que me deram é tão pequena que só visto. Só visto, senhora. Tenho três a dormir no chão da sala...
Eu:Pois. Acredito que é difícil. O que é que pensa fazer?
D. Maria: Senhora, eu estou muito mal. Vou ter de abortar, senhora. (chora e coloca as mãos na cara)
Eu: Não faça isso. Já pensou bem?
D. Maria: Eu não queria fazer, eu não queria fazer. Já é o terceiro, senhora. E num deles fui parar ao hospital. Pedi a uma vizinha que chamasse a ambulância porque o meu marido, o Manel, não queria levar-me ao hospital. Sabe lá a minha vida...
Eu: Já falou com o seu marido sobre o que está a pensar fazer?
D. Maria: Oh! Ele quer lá saber disso! Ele não quer que eu faça, mas eu também não, senhora! Não é ele que tem de lhes dar de comer... de os vestir, de ir à escola... Há meses que nem lhe vejo o ordenado, senhora. Nem vejo...
Eu: Acredito. Sei que já não resolve nada, mas por que é que não tomou a pílula?
D.Maria: Oh! Sabe, eu não sabia nada que existia isso. A minha mãe e a minha tia nunca me disseram nada. Foram umas vizinhas que tinham mais ao menos a minha idade que falaram-me desses comprimidos, ainda eu namorava com o Manel. Comprei aí umas caixas ao princípio mas depois o dinheiro não chegava...
Eu: Mas o Sr. Manuel também pode usar algo para evitar...
D.Maria: Oh, senhora! Ele quer lá isso! Vá lá dizer-lhe alguma coisa... Eu já tenho tomado, às vezes, os tais comprimidos. Mas aquilo é barato? Para a senhora até pode ser... Eu tenho cinco filhos para alimentar e vestir! E tanto que deixo ali no Sr. António em coisas que compro para a escola. Nem a senhora sabe...
(começa a chorar novamente, coloca mais uma vez as maõs sobre a cara)
Eu: Pouco consigo dizer.
D. Maria: Ai meu Deus! Desculpe estar aqui a incomodá-la, senhora. Eu não quero fazer um aborto. Falam eles na televisão de vida e que matamos os filhos. Eu não mato os meus filhos, senhora! Se há coisa que gosto é de ver os meus filhos felizes mas eu não posso ter mais um. Acha que com os 60 contos que ganho mais outros tantos do meu Manel dá para alguma coisa? Se não fosse eu... que tantos sacrifícios já faço.
Eu: Mas tem dinheiro para fazer o aborto?
D. Maria: Senhora! Tenho lá eu 120 contos, ou não sei quantos euros, para o fazer! Senhora, vou ter de pedir dinheiro à minha vizinha Albertina. Ela deixa-me pagar nuns meses. Mais um problema. Mas que posso eu fazer?
Eu: E onde é que a senhora está a pensar ir?
D. Maria: É numa senhora do bairro da Graça. Onde já fiz um. Ela até leva barato mas quer tudo a pronto. Não aceita cheques. Lá dentro é tudo muito escuro e há lá tanta rapariguinha nova, tanta que eu vi da última vez que lá fui. Até metia dó, senhora... tão novinhas, algumas sozinhas. Uma desgraça, sabe. Nem sabem as pessoas o tanto que custa pensar nisto. A ela, à aborteira, já a vi para aí umas duas vezes perto da casa da minha patroa, ali em Telheiras, toda bem vestida. Qunado me viu até virou a cara.
Eu: Já falou com o seu médico de família?
D.Maria: Falei sim senhor. Fui para lá chorar como estou aqui agora, senhora. Ele disse-me para fazer o que achasse melhor para a minha vida mas que tentasse tudo para não o fazer. Eu bem tento. Nem queira saber o que pensei. Nem durmo há uma semana (chora e coloca as mãos na cabeça)
Eu: Pois eu também lhe digo o mesmo. Realmente tem poucos ou nenhuns apoios para tomar uma decisão diferente. Pouco mais tenho a dizer...Caso decida abortar, tem aqui o meu número de telefone para o qual poderá ligar caso tenha alguma complicação. Irei consigo ao hospital, caso necessite.
Considerações breves: sou a favor da vida e sou contra o aborto, como muitos como eu apoiam a descriminalização e a despenalização de um acto que para qualquer mulher é SEMPRE UMA DECISÃO DIFÍCIL: ABORTAR. É uma chatisse falar deste assunto para quem não quer ver e é fulcral para quem contacta com realidades que não dá jeito mostrar ao país que se quer europeu. Pois é, mas tem de ser.
Trabalho num bairro social que, sem ser dos mais problemáticos, contém todos os problemas sociais de qualquer bairro do género: baixos índices de escolaridade e elevados índices de emprego precário, de desemprego e delinquência juvenil.
Em tempos próximos tive a oportunidade de falar com a mãe de cinco filhos em idade escolar. Transcrevo de memória o diálogo estabelecido:
D. Maria: Acho que estou grávida.
Eu: Como é que sabe? Já fez algum teste?
D. Maria: Não tenho dinheiro para comprar o teste, senhora. Faltou-me aquilo, aquilo que a senhora sabe.
Eu: Sim. E então?
D. Maria: Sabe, já tenho cinco filhos em casa... Nós não temos muito dinheiro e...
Eu: E... o que é que pensa fazer?
D. Maria: Olhe, nem tenho dormido nos últimos dias. Não sei o que fazer à minha vida.
(chora compulsivamente)
Eu não posso ter mais filhos, senhora! O meu marido é pedreiro e nem sempre o patrão lhe paga... e eu trabalho na casa de um senhora ali em Telheiras. Aquela pensão que dão aos miúdos é uma miséria. Não dá para nada, senhora. A casa que me deram é tão pequena que só visto. Só visto, senhora. Tenho três a dormir no chão da sala...
Eu:Pois. Acredito que é difícil. O que é que pensa fazer?
D. Maria: Senhora, eu estou muito mal. Vou ter de abortar, senhora. (chora e coloca as mãos na cara)
Eu: Não faça isso. Já pensou bem?
D. Maria: Eu não queria fazer, eu não queria fazer. Já é o terceiro, senhora. E num deles fui parar ao hospital. Pedi a uma vizinha que chamasse a ambulância porque o meu marido, o Manel, não queria levar-me ao hospital. Sabe lá a minha vida...
Eu: Já falou com o seu marido sobre o que está a pensar fazer?
D. Maria: Oh! Ele quer lá saber disso! Ele não quer que eu faça, mas eu também não, senhora! Não é ele que tem de lhes dar de comer... de os vestir, de ir à escola... Há meses que nem lhe vejo o ordenado, senhora. Nem vejo...
Eu: Acredito. Sei que já não resolve nada, mas por que é que não tomou a pílula?
D.Maria: Oh! Sabe, eu não sabia nada que existia isso. A minha mãe e a minha tia nunca me disseram nada. Foram umas vizinhas que tinham mais ao menos a minha idade que falaram-me desses comprimidos, ainda eu namorava com o Manel. Comprei aí umas caixas ao princípio mas depois o dinheiro não chegava...
Eu: Mas o Sr. Manuel também pode usar algo para evitar...
D.Maria: Oh, senhora! Ele quer lá isso! Vá lá dizer-lhe alguma coisa... Eu já tenho tomado, às vezes, os tais comprimidos. Mas aquilo é barato? Para a senhora até pode ser... Eu tenho cinco filhos para alimentar e vestir! E tanto que deixo ali no Sr. António em coisas que compro para a escola. Nem a senhora sabe...
(começa a chorar novamente, coloca mais uma vez as maõs sobre a cara)
Eu: Pouco consigo dizer.
D. Maria: Ai meu Deus! Desculpe estar aqui a incomodá-la, senhora. Eu não quero fazer um aborto. Falam eles na televisão de vida e que matamos os filhos. Eu não mato os meus filhos, senhora! Se há coisa que gosto é de ver os meus filhos felizes mas eu não posso ter mais um. Acha que com os 60 contos que ganho mais outros tantos do meu Manel dá para alguma coisa? Se não fosse eu... que tantos sacrifícios já faço.
Eu: Mas tem dinheiro para fazer o aborto?
D. Maria: Senhora! Tenho lá eu 120 contos, ou não sei quantos euros, para o fazer! Senhora, vou ter de pedir dinheiro à minha vizinha Albertina. Ela deixa-me pagar nuns meses. Mais um problema. Mas que posso eu fazer?
Eu: E onde é que a senhora está a pensar ir?
D. Maria: É numa senhora do bairro da Graça. Onde já fiz um. Ela até leva barato mas quer tudo a pronto. Não aceita cheques. Lá dentro é tudo muito escuro e há lá tanta rapariguinha nova, tanta que eu vi da última vez que lá fui. Até metia dó, senhora... tão novinhas, algumas sozinhas. Uma desgraça, sabe. Nem sabem as pessoas o tanto que custa pensar nisto. A ela, à aborteira, já a vi para aí umas duas vezes perto da casa da minha patroa, ali em Telheiras, toda bem vestida. Qunado me viu até virou a cara.
Eu: Já falou com o seu médico de família?
D.Maria: Falei sim senhor. Fui para lá chorar como estou aqui agora, senhora. Ele disse-me para fazer o que achasse melhor para a minha vida mas que tentasse tudo para não o fazer. Eu bem tento. Nem queira saber o que pensei. Nem durmo há uma semana (chora e coloca as mãos na cabeça)
Eu: Pois eu também lhe digo o mesmo. Realmente tem poucos ou nenhuns apoios para tomar uma decisão diferente. Pouco mais tenho a dizer...Caso decida abortar, tem aqui o meu número de telefone para o qual poderá ligar caso tenha alguma complicação. Irei consigo ao hospital, caso necessite.
Considerações breves: sou a favor da vida e sou contra o aborto, como muitos como eu apoiam a descriminalização e a despenalização de um acto que para qualquer mulher é SEMPRE UMA DECISÃO DIFÍCIL: ABORTAR. É uma chatisse falar deste assunto para quem não quer ver e é fulcral para quem contacta com realidades que não dá jeito mostrar ao país que se quer europeu. Pois é, mas tem de ser.
segunda-feira, agosto 16, 2004
Oh! Liberdade!
Se eu pudesse
pelas frias manhãs
acordar tiritando
fustigado pela ventania
que me abre a cortina do céu
e ver, do cimo dos meus montes,
o quadro roxo
de um perturbado nascer do sol
a leste de Timor
Se eu pudesse
pelos tórridos sóis
cavalgar embevecido
de encontro a mim mesmo
nas serenas planícies do capim
e sentir o cheiro de animais
bebendo das nascentes
que murmurariam no ar
lendas de Timor
Se eu pudesse
pelas tardes de calma
sentir o cansaço
da natureza sensual
espreguiçando-se no seu suor
e ouvir contar as canseiras
sob os risos
das crianças nuas e descalças
de todo o Timor
Se eu pudesse
ao entardecer das ondas
caminhar pela areia
entregue a mim mesmo
no enlevo molhado da brisa
e tocar a imensidão do mar
num sopro da alma
que permita meditar o futuro
da ilha de Timor
Se eu pudesse
ao cantar dos grilos
falar para a lua
pelas janelas da noite
e contar-lhe romances do povo
a união inviolável dos corpos
para criar filhos
e ensinar-lhes a crescer e a amar
a Pátria Timor!
Xanana Gusmão.Cipinang, 8 de Outubro de 1995.
pelas frias manhãs
acordar tiritando
fustigado pela ventania
que me abre a cortina do céu
e ver, do cimo dos meus montes,
o quadro roxo
de um perturbado nascer do sol
a leste de Timor
Se eu pudesse
pelos tórridos sóis
cavalgar embevecido
de encontro a mim mesmo
nas serenas planícies do capim
e sentir o cheiro de animais
bebendo das nascentes
que murmurariam no ar
lendas de Timor
Se eu pudesse
pelas tardes de calma
sentir o cansaço
da natureza sensual
espreguiçando-se no seu suor
e ouvir contar as canseiras
sob os risos
das crianças nuas e descalças
de todo o Timor
Se eu pudesse
ao entardecer das ondas
caminhar pela areia
entregue a mim mesmo
no enlevo molhado da brisa
e tocar a imensidão do mar
num sopro da alma
que permita meditar o futuro
da ilha de Timor
Se eu pudesse
ao cantar dos grilos
falar para a lua
pelas janelas da noite
e contar-lhe romances do povo
a união inviolável dos corpos
para criar filhos
e ensinar-lhes a crescer e a amar
a Pátria Timor!
Xanana Gusmão.Cipinang, 8 de Outubro de 1995.
Madonna
Bem, depois de insistentes pedidos de um amigo aqui estou a tentar resolver-lhe um problema. Por circunstâncias que escuso-me a explicar ele acabou por ficar com bilhetes para o concerto de 13 de Setembro, para a plateia, da grande e inimitável Madonna. Agora, informa a quem estiver interessado em adquirir um ingresso que aqui deixe mensagem.
domingo, agosto 15, 2004
Pim Pan Pum
Jean-Marc Bouju: World Press Photo
A exposição Worl Press Photo presente no CCB está de despedida. Hoje é o último dia. Para alguns, a janela do Mundo fecha-se ao limite português de uma TV ou de um ou outro jornal sensionalista. Que sentido faz isso, quando decorrem os Jogos Olímpicos? Quando é possível ver em directo um jogo de volei feminino e a agonização da selecção do Quénia frente à uma selecção grega pouco cotada. Referem que esta é a melhor selecção africana e vêmo-las perder pontos consecutivos. Perder pontos consecutivos. Será isto afinal importante? Pouco interessa quando o que está em jogo são as medalhas e o dopping. Dopping? Ping Pang Pum cada bala mata um. Pim Pam Pum. Ouro, prata, bronze e eu serei um. Um. Muuuuuuunnnnnnn. Do... Pim Pan Pum. Que ganhe eu e mais nenhum.
A exposição Worl Press Photo presente no CCB está de despedida. Hoje é o último dia. Para alguns, a janela do Mundo fecha-se ao limite português de uma TV ou de um ou outro jornal sensionalista. Que sentido faz isso, quando decorrem os Jogos Olímpicos? Quando é possível ver em directo um jogo de volei feminino e a agonização da selecção do Quénia frente à uma selecção grega pouco cotada. Referem que esta é a melhor selecção africana e vêmo-las perder pontos consecutivos. Perder pontos consecutivos. Será isto afinal importante? Pouco interessa quando o que está em jogo são as medalhas e o dopping. Dopping? Ping Pang Pum cada bala mata um. Pim Pam Pum. Ouro, prata, bronze e eu serei um. Um. Muuuuuuunnnnnnn. Do... Pim Pan Pum. Que ganhe eu e mais nenhum.
quinta-feira, agosto 05, 2004
quarta-feira, agosto 04, 2004
sábado, julho 24, 2004
O meu dia
Passei a manhã no meu local de trabalho. Deixei-o por volta das 14h, com almoço incluído, em direcção à Universidade Nova de Lisboa, onde fiquei duas horas. Por volta das 16h sento-me nas escadas da estação do Cais Sodré à espera do Luis.
O Cais do Sodré é um local onde a sociedade conflui, da tia que corre para apanhar o comboio para Cascais até ao pequeno traficante que diz-nos várias vezes ao ouvido que tem erva. É um mundo pequeno aquele... Tudo se confunde na confusão da existência, do ser e do ter.
Pelas 16h15m abraço-me longamente ao meu loverboy, depois de uma período de ausência não premeditado. Falamos das nossas vidas, o que fizemos ou o que poderíamos ter feito e de alguns sentimentos que pareciam adormecidos. Por entre as palavras que se cruzam, jantamos num restaurante indiano que há no Largo do Carmo, regado por um vinho (nada mau) da Adega de Pegões, da região do Sado. Dirigimo-nos depois ao encontro dos e com os livros na Ler Devagar (no Bairro Alto) , onde lá estava mais uma vez o (meu) suposto estranho. Por fim, acabamos a noite a dançar na discoteca Jamaica, no Cais do Sodré. No Cais do Sodré. Voltamos ao princípio. De quase tudo...(que ainda estará por existir?)
E assim foi a minha Sexta-feira. Para Sábado.
O Cais do Sodré é um local onde a sociedade conflui, da tia que corre para apanhar o comboio para Cascais até ao pequeno traficante que diz-nos várias vezes ao ouvido que tem erva. É um mundo pequeno aquele... Tudo se confunde na confusão da existência, do ser e do ter.
Pelas 16h15m abraço-me longamente ao meu loverboy, depois de uma período de ausência não premeditado. Falamos das nossas vidas, o que fizemos ou o que poderíamos ter feito e de alguns sentimentos que pareciam adormecidos. Por entre as palavras que se cruzam, jantamos num restaurante indiano que há no Largo do Carmo, regado por um vinho (nada mau) da Adega de Pegões, da região do Sado. Dirigimo-nos depois ao encontro dos e com os livros na Ler Devagar (no Bairro Alto) , onde lá estava mais uma vez o (meu) suposto estranho. Por fim, acabamos a noite a dançar na discoteca Jamaica, no Cais do Sodré. No Cais do Sodré. Voltamos ao princípio. De quase tudo...(que ainda estará por existir?)
E assim foi a minha Sexta-feira. Para Sábado.
terça-feira, julho 20, 2004
O Homem chegou à Lua
Quando o Homem chegou à Lua Maria não acreditou. Desligou o rádio e deitou-se mais cedo. Trinta e cinco anos passados, Maria continua a dizer que é invenção do Homem.
Notícia do dia
Aldeia de Martinlongo
Inacreditável. Em pleno século XXI chegou finalmente ÁGUA potável a mais uma aldeia portuguesa. Chama-se Martinlongo e fica no concelho de Alcoutim.
Gostaria de poder afirmar que esta era a última povoação portuguesa sem este recurso natural mas, infelizmente, ainda existem por aí mais algumas. Quantas faltam? Não convém divulgar para um país que se quer parecer o mais europeu possível.
Dadas as circunstâncias vou ceder no que se refere à colocação da bandeira: - colocarei uma bandeira na janela da minha casa, no meu carro ou no rabo das minhas calças quando finalmente tomar conhecimento ou verificar que todas as pessoas deste país possuem as condições mínimas de vida, independentemente da região onde moram Está dito.
Inacreditável. Em pleno século XXI chegou finalmente ÁGUA potável a mais uma aldeia portuguesa. Chama-se Martinlongo e fica no concelho de Alcoutim.
Gostaria de poder afirmar que esta era a última povoação portuguesa sem este recurso natural mas, infelizmente, ainda existem por aí mais algumas. Quantas faltam? Não convém divulgar para um país que se quer parecer o mais europeu possível.
Dadas as circunstâncias vou ceder no que se refere à colocação da bandeira: - colocarei uma bandeira na janela da minha casa, no meu carro ou no rabo das minhas calças quando finalmente tomar conhecimento ou verificar que todas as pessoas deste país possuem as condições mínimas de vida, independentemente da região onde moram Está dito.
To bring you my love
Com P.J. Harvey em fundo, ouço-te do outro lado do Mundo. Marcamos encontro para sexta. Até lá, desejo-te.
segunda-feira, julho 19, 2004
No vazio
Esperava palavras. Cifráveis ou não. Complexos difusos. Da pulsação. Palavras do explicável; com pulso; com mão; na tua boca. Perdemo-las, pois então. No vazio. No frio que nos afasta. Juntas ao vento. Absorvidas no ar. Eu não as vejo, tal como não te vejo; não te ouço... Fala!
Laminagem
Um país agora este imenso aterro
teve alguma vez colinas e montados
onde o olhar demorava, adormecia
e seguia uma alegria viandante?
Ou gente que chegasse a qualquer mar
de que não quisesse logo fugir?
Só o pastorial decrépito o suspirava.
Teve o que todos tinham, em quantidade escassa,
até cobrir-se de desterro e de ilegais
e em pano de fundo esse lagar
de suicidas e débitos e primeiras segundas gerações.
A farpa de aceitação de quem consome
o sem destino da consciência.
Um país; tornou-se um assassino.
Viverei os poucos verões até morrer
com este mundo de agressão em cerco.
Eu queria outro país, outro lugar
e tenho este infortúnio de leis amarrotadas
que não cumprem nem o violento nem o clandestino.
Um país de acasos,
um parque de campismo selvagem, um cimento apodrecido,
a música de sem abrigos nas estações de metro
enquanto não chegam comboios avariados
às plataformas de arte depredada,
um esboroamento sanguinário.
Até a linguagem me ergueu
me sabe a sarro e a arrabalde.
Não fossem as obrigações que nos garrotam
nos fazem monstros com a lassidão de herbívoros
talvez pudesse ter o interior abandonado
e chegasse a faca do sol e me cortasse
noutra penúria mais serena.
Ainda que me digam que não olhe,
eu vejo. Ainda que me digam faz ginástica
e a depressão desaparece, nada me resolve.
Os ruídos sobem de qualquer lugar,
sintetizadores, martelos, desabamentos
uma percussão alheia a qualquer justiça.
Nenhuma janela que não fale
da construção administrativa dos piores instintos.
Todo o lixo do humano feito sebo
em qualquer lugar. Ainda que me digam
que vivemos em democracia eu digo
que não sei. Nem direitos nem deveres.
Um sem remédio ancestral.
Morreu a casa. Matou-a
o que lhe coube por contemporâneo
contra a placidez. Os autorizados
pelo conluio e pela votação.
Morreu a casa. E o pior
é não poder partir. Os laços
já se juntaram em anestesia. Preso
por outro amor, que não entende,
que não ouve como a casa já morreu.
A alguns vemo-los em qualquer pousio
depois de fecharem as lojas
e nem se sabe o que vemos.
Aos balcões de cafés de azulejo,
com telemóveis pendurados nos cintos
e os cartões de crédito em dente na carteira.
Riem-se e batem nas costas
uns dos outros, entreolham e vigiam
se alguém diverso se aproxima
para largarem uma troça arcaica, e comem
com essa fome dos que não sofreram ainda
inquietações laborais ou crêem que virá
depressa o primeiro emprego.
Ao olhá-los melhor, aos seus afectos
de pessoal especializado em escuras economias
adicionais, vejo-os depois no verão.
Ao deus dará em todos os lugares,
em tendas velhas, em rulotes,
sabe-se lá onde vão cagar. E as mulheres
com os sinais exteriores da aspereza.
E as asas do inverno marítimo
auguram aluimento.
Eu queria que na cabeça parasse
o furor de tudo o que tomba,
a derrota do dia a dia,
mas será sempre o cabide do tempo
quem estende as garras
para nos alhear.
E os e-mail atravessam zonas sem remendo,
choças de tijolo com roupas a secar.
Assim armado o país.
As gentes em catástrofe deslocam-se,
deixam por testemunho o abandono e a inépcia.
Uma a uma, uma paisagem é trucidada.
Inchou a autarquias o país.
Atravessam-no a miséria e algum dinheiro
insolentes.
Um assassino
espreita outro assassino.
Os que destroem agora
podem exigir os torcionários que virão,
pois quem destrói pressente um chefe
e vai servi-lo.
E muitos hão-de sempre ser as vítimas
da liberdade que consente a violência
da violência que não consente a liberdade.
Um assassino o país. Com as suas leis
inúteis, a sua ordem por cumprir.
Só nos resta esperar então morrer?
Joaquim Manuel Magalhães.Alta Noite em Alta Fraga.Relógio d´Água. 2001
teve alguma vez colinas e montados
onde o olhar demorava, adormecia
e seguia uma alegria viandante?
Ou gente que chegasse a qualquer mar
de que não quisesse logo fugir?
Só o pastorial decrépito o suspirava.
Teve o que todos tinham, em quantidade escassa,
até cobrir-se de desterro e de ilegais
e em pano de fundo esse lagar
de suicidas e débitos e primeiras segundas gerações.
A farpa de aceitação de quem consome
o sem destino da consciência.
Um país; tornou-se um assassino.
Viverei os poucos verões até morrer
com este mundo de agressão em cerco.
Eu queria outro país, outro lugar
e tenho este infortúnio de leis amarrotadas
que não cumprem nem o violento nem o clandestino.
Um país de acasos,
um parque de campismo selvagem, um cimento apodrecido,
a música de sem abrigos nas estações de metro
enquanto não chegam comboios avariados
às plataformas de arte depredada,
um esboroamento sanguinário.
Até a linguagem me ergueu
me sabe a sarro e a arrabalde.
Não fossem as obrigações que nos garrotam
nos fazem monstros com a lassidão de herbívoros
talvez pudesse ter o interior abandonado
e chegasse a faca do sol e me cortasse
noutra penúria mais serena.
Ainda que me digam que não olhe,
eu vejo. Ainda que me digam faz ginástica
e a depressão desaparece, nada me resolve.
Os ruídos sobem de qualquer lugar,
sintetizadores, martelos, desabamentos
uma percussão alheia a qualquer justiça.
Nenhuma janela que não fale
da construção administrativa dos piores instintos.
Todo o lixo do humano feito sebo
em qualquer lugar. Ainda que me digam
que vivemos em democracia eu digo
que não sei. Nem direitos nem deveres.
Um sem remédio ancestral.
Morreu a casa. Matou-a
o que lhe coube por contemporâneo
contra a placidez. Os autorizados
pelo conluio e pela votação.
Morreu a casa. E o pior
é não poder partir. Os laços
já se juntaram em anestesia. Preso
por outro amor, que não entende,
que não ouve como a casa já morreu.
A alguns vemo-los em qualquer pousio
depois de fecharem as lojas
e nem se sabe o que vemos.
Aos balcões de cafés de azulejo,
com telemóveis pendurados nos cintos
e os cartões de crédito em dente na carteira.
Riem-se e batem nas costas
uns dos outros, entreolham e vigiam
se alguém diverso se aproxima
para largarem uma troça arcaica, e comem
com essa fome dos que não sofreram ainda
inquietações laborais ou crêem que virá
depressa o primeiro emprego.
Ao olhá-los melhor, aos seus afectos
de pessoal especializado em escuras economias
adicionais, vejo-os depois no verão.
Ao deus dará em todos os lugares,
em tendas velhas, em rulotes,
sabe-se lá onde vão cagar. E as mulheres
com os sinais exteriores da aspereza.
E as asas do inverno marítimo
auguram aluimento.
Eu queria que na cabeça parasse
o furor de tudo o que tomba,
a derrota do dia a dia,
mas será sempre o cabide do tempo
quem estende as garras
para nos alhear.
E os e-mail atravessam zonas sem remendo,
choças de tijolo com roupas a secar.
Assim armado o país.
As gentes em catástrofe deslocam-se,
deixam por testemunho o abandono e a inépcia.
Uma a uma, uma paisagem é trucidada.
Inchou a autarquias o país.
Atravessam-no a miséria e algum dinheiro
insolentes.
Um assassino
espreita outro assassino.
Os que destroem agora
podem exigir os torcionários que virão,
pois quem destrói pressente um chefe
e vai servi-lo.
E muitos hão-de sempre ser as vítimas
da liberdade que consente a violência
da violência que não consente a liberdade.
Um assassino o país. Com as suas leis
inúteis, a sua ordem por cumprir.
Só nos resta esperar então morrer?
Joaquim Manuel Magalhães.Alta Noite em Alta Fraga.Relógio d´Água. 2001
domingo, julho 18, 2004
Na véspera estreia...
Nem sempre concordo com as crónicas que Vasco Pulido Valente escreve no DN. Mas, conhecendo-o como num disfarçado apoiante do PSD e acérrimo defensor de Cavaco Silva, li as crónicas dos dias 16 e de 17 de Julho, que transcrevo parte, com muita curiosidade. Só ele poderia fazer esta brilhante análise da nossa situação política, que concordo em alguns aspectos. Deixo-vos com partes das duas crónicas de sexta e de sábado. Sendo 1 a de 16 de Julho, intitulada Na véspera. E a 2 a de 17 de Julho, intitulada Estreia.:
1. " Em 1995, depois de um longo Governo, Cavaco saiu serenamente, e deixou o país o País de maneira geral próspero e em ordem. Saiu farto do PSD, da imprensa e da televisão. (...) Em 2002, a meio do segundo mandato, Guterres resolveu fugir e deixou o País num estado deplorável. Em 2004, fugiu Barroso, com uma desculpa que absurdamente passou por honrosa, e deixou o País mais pobre, mais confuso e sem esperança numa adiada e sempre duvidosa retoma. E, agora, veio o dr. Santana Lopes. Por muito estranho que pareça, num ponto essencial Guterres, Barroso e Lopes não se distinguem: são os três produtos partidários. Na vida civil nenhum deles vale coisíssima nenhuma. Tirando um ou outro emprego aos vinte anos, todo o dinheiro que ganharam foi ganho na política ou pela política. (...) Guterres nunca sequer passou pelo Governo; Barroso é o autor do inominável acordo de Bicesse; e Lopes protegeu o teatro de revista, plantou umas palmeiras na Figueira da Foz (não exactamente um acto heróico) e legou a Lisboa um saco de sarilhos. (...) A partir de Cavaco, Portugal ficou entregue a pequenos conspiradores de pequenas seitas.(...) Hoje há um ar de irrealidade no advento de Santana Lopes. Ninguém acredita que está a suceder o que está a suceder. É um sentimento comum em véspera de catástofre."
2. "(...) Santana Lopes começa mal. A escolha de António Bagão Félix, António Monteiro e Álvaro Barreto é um erro político e um sintoma de fraqueza. É um sintoma de fraqueza, no caso de Bagão, porque revela que ninguém de envergadura do PSD, ou área do PSD, aceitou as Finanças, fatalmente por pura desconfiança mo primeiro-ministro, e que foi preciso recorrer a uma homem que já estava no Governo e que (...) sempre trabalhou com o CDS. (...) promover a ministro o embaixador Monteiro, também prova que não há no partido, ou no santanismo, uma alternativa decente razoável. (...) a ressurreição de Álvaro Barreto e sua extrevagante ascenção a segunda figura do Governo mostra que, em matéria económica, o primeiro-ministro precisa de um tutor, que o oriente e que inspire por antiguidade (?) algum respeito. (...) Bagão nas Finanças (...) e a sua história na banca e nos seguros, transforma uma política nacional numa simples política dos patrões. Os patrões, de resto, com a sua atávica estupidez, não se coibiram de aparecer na televisão em êxtase. (...) Barreto, que apoiou sucessivamente e sem pestanejar Eanes, Mota Pinto, Sá Carneiro, Balsemão, o Bloco Central e Cavaco Silva, e que iria para ministro do inferno se o Diabo o convidasse, para servir a Pátria e os seus senhores. A nova geração de Santana Lopes, que tanto por aí se apregoou teve esta estreia. O que virá a seguir?"
Vasco Pulido Valente. DN. Julho de 2004
1. " Em 1995, depois de um longo Governo, Cavaco saiu serenamente, e deixou o país o País de maneira geral próspero e em ordem. Saiu farto do PSD, da imprensa e da televisão. (...) Em 2002, a meio do segundo mandato, Guterres resolveu fugir e deixou o País num estado deplorável. Em 2004, fugiu Barroso, com uma desculpa que absurdamente passou por honrosa, e deixou o País mais pobre, mais confuso e sem esperança numa adiada e sempre duvidosa retoma. E, agora, veio o dr. Santana Lopes. Por muito estranho que pareça, num ponto essencial Guterres, Barroso e Lopes não se distinguem: são os três produtos partidários. Na vida civil nenhum deles vale coisíssima nenhuma. Tirando um ou outro emprego aos vinte anos, todo o dinheiro que ganharam foi ganho na política ou pela política. (...) Guterres nunca sequer passou pelo Governo; Barroso é o autor do inominável acordo de Bicesse; e Lopes protegeu o teatro de revista, plantou umas palmeiras na Figueira da Foz (não exactamente um acto heróico) e legou a Lisboa um saco de sarilhos. (...) A partir de Cavaco, Portugal ficou entregue a pequenos conspiradores de pequenas seitas.(...) Hoje há um ar de irrealidade no advento de Santana Lopes. Ninguém acredita que está a suceder o que está a suceder. É um sentimento comum em véspera de catástofre."
2. "(...) Santana Lopes começa mal. A escolha de António Bagão Félix, António Monteiro e Álvaro Barreto é um erro político e um sintoma de fraqueza. É um sintoma de fraqueza, no caso de Bagão, porque revela que ninguém de envergadura do PSD, ou área do PSD, aceitou as Finanças, fatalmente por pura desconfiança mo primeiro-ministro, e que foi preciso recorrer a uma homem que já estava no Governo e que (...) sempre trabalhou com o CDS. (...) promover a ministro o embaixador Monteiro, também prova que não há no partido, ou no santanismo, uma alternativa decente razoável. (...) a ressurreição de Álvaro Barreto e sua extrevagante ascenção a segunda figura do Governo mostra que, em matéria económica, o primeiro-ministro precisa de um tutor, que o oriente e que inspire por antiguidade (?) algum respeito. (...) Bagão nas Finanças (...) e a sua história na banca e nos seguros, transforma uma política nacional numa simples política dos patrões. Os patrões, de resto, com a sua atávica estupidez, não se coibiram de aparecer na televisão em êxtase. (...) Barreto, que apoiou sucessivamente e sem pestanejar Eanes, Mota Pinto, Sá Carneiro, Balsemão, o Bloco Central e Cavaco Silva, e que iria para ministro do inferno se o Diabo o convidasse, para servir a Pátria e os seus senhores. A nova geração de Santana Lopes, que tanto por aí se apregoou teve esta estreia. O que virá a seguir?"
Vasco Pulido Valente. DN. Julho de 2004
sábado, julho 17, 2004
Shrek 2
.
Há muito que não escrevo sobre cinema. Um hobby que tento praticar com alguma regularidade. Pois bem, o último filme que vi foi precisamente o Shrek 2 em versão dobrada, que aconselho. Já tinha visto o primeiro e fiquei com óptima impressão. Impressionada com o tipo de humor, adaptável a todas as idades. Este tipo de filme não se conta, vê-se. É pelo argumento que marca o maior número de pontos, aliado a uma boa animação. A história de um ogre e da sua amada Fiona, com um amigo burro especial entre muitos e muitas outras personagens que não deixam o espectador indiferente. Como nem tudo é perfeito, podem consultar neste site as falhas do filme.
Bons filmes!
Nota (de 0 a 10): 8
Há muito que não escrevo sobre cinema. Um hobby que tento praticar com alguma regularidade. Pois bem, o último filme que vi foi precisamente o Shrek 2 em versão dobrada, que aconselho. Já tinha visto o primeiro e fiquei com óptima impressão. Impressionada com o tipo de humor, adaptável a todas as idades. Este tipo de filme não se conta, vê-se. É pelo argumento que marca o maior número de pontos, aliado a uma boa animação. A história de um ogre e da sua amada Fiona, com um amigo burro especial entre muitos e muitas outras personagens que não deixam o espectador indiferente. Como nem tudo é perfeito, podem consultar neste site as falhas do filme.
Bons filmes!
Nota (de 0 a 10): 8
sexta-feira, julho 16, 2004
Citações
Portrait IV (Retrat IV). Miro, Joan
" Ter fé é uma coisa muito limitada. O importante é se estamos no caminho dessa procura e dessa certeza. Ver os outros, olhar para os outros e amar os outros que vemos é o primeiro acto de fé"
" Fazemo-nos na medida em que dialogamos com outros e podemos discutir com outros. E nisso sou ferozmente contra o consenso, porque o consenso nivela e não permite sequer que as pessoas emitam outras opiniões e outras vozes. Vejo muito mais a relação pela palavra como conflitual. O gosto que dá pensar em conjunto com alguém que diz o contrário do que a gente está a dizer..."
Pintasilgo, Maria de Lourdes. Dna. 2004
" Ter fé é uma coisa muito limitada. O importante é se estamos no caminho dessa procura e dessa certeza. Ver os outros, olhar para os outros e amar os outros que vemos é o primeiro acto de fé"
" Fazemo-nos na medida em que dialogamos com outros e podemos discutir com outros. E nisso sou ferozmente contra o consenso, porque o consenso nivela e não permite sequer que as pessoas emitam outras opiniões e outras vozes. Vejo muito mais a relação pela palavra como conflitual. O gosto que dá pensar em conjunto com alguém que diz o contrário do que a gente está a dizer..."
Pintasilgo, Maria de Lourdes. Dna. 2004
quinta-feira, julho 15, 2004
Íman
A tua língua junta-se à minha pele; como um íman. Navega pelo meu corpo. Dirigi-se de Norte a Sul. Sem cessar de Oeste a Este. Por intempéries e tornados. Faz desaparecer as falhas das rugas. Nas pregas. Nas pernas. Nos braços. No canto que é teu. Nosso. Ficamos. Sós. Nós. Calados Colados. Como um anúncio.
Obrigada Maria de Lourdes Pintasilgo
A vida perde-se mas a obra fica. Espero por muito tempo. Obrigada pelo que lutou e como lutou. Como mulher. Portuguesa.
domingo, julho 11, 2004
O homem em eclipse
Ora foi que certo dia
o homem eclipsou-se
a data digam a data
a datazinha faz favor
qual data foi por decreto
que a gente se eclipsou
foi só manobra espertice
um dois três e pronto é noite
que nem a lua apareça
seja de que lado for
Uns seguraram-se logo
eram espertos bem se viu
outros cairam ao mar
com cabeça pernas e tudo
quanto a mim perdi a calma
fiquei desaparafusado
tradição cultura estilo
certeza amigos fatiota
tudo fora do seu sítio
um desaparafuso terrível
Segurem-me camaradas
sinto pernas a boiar
cheiro fantasmas enxofre
estou aqui mas posso voar
o parafuso da língua
vai partido vai saltar
agarrem-me! agarra!
pronto
pari o mais leve que o ar
Mário Cesariny.Colecção Poesia e Verdade.Guimarães & C.ª Editores.1976
o homem eclipsou-se
a data digam a data
a datazinha faz favor
qual data foi por decreto
que a gente se eclipsou
foi só manobra espertice
um dois três e pronto é noite
que nem a lua apareça
seja de que lado for
Uns seguraram-se logo
eram espertos bem se viu
outros cairam ao mar
com cabeça pernas e tudo
quanto a mim perdi a calma
fiquei desaparafusado
tradição cultura estilo
certeza amigos fatiota
tudo fora do seu sítio
um desaparafuso terrível
Segurem-me camaradas
sinto pernas a boiar
cheiro fantasmas enxofre
estou aqui mas posso voar
o parafuso da língua
vai partido vai saltar
agarrem-me! agarra!
pronto
pari o mais leve que o ar
Mário Cesariny.Colecção Poesia e Verdade.Guimarães & C.ª Editores.1976
sábado, julho 10, 2004
Que merda é esta?!
Estava desejosa de saber o veredicto do presidente Jorge Sampaio, como possivelmente muitos portugueses. Embora não esperasse algo diferente do decidido, tendo em conta a personalidade política de Jorge Sampaio, fiquei com a esperança de poder ser supreendida. Tive conhecimento que iria ser emitida uma declaração às 21h15m mas, por aspectos múltiplos, só consegui apanhar algum fio à meada para lá das 22h, quando ligo o rádio do carro. Inicialmente a tarefa não foi fácil. Comecei por ficar confusa, com a impressão de que toda a gente se tinha demitido, as afirmações da deputada socialista Ana Gomes: "uma maioria, um governo, um presidente" induziam que algo se havia passado para quem esteve cerca de quatro horas afastada de quase tudo (como eu). Liguei de imediato a uma amiga e para além do que suspeitava... mas que merda é esta! O Ferro Rodrigues demitiu-se?! Foda-se! Isto está mesmo mal... Tirem já as bandeiras da porra das janelas e vão de imediato para Belém gritar contra o estado político da nação. Para além de termos de gramar com o Satana e com o Portas no governo deste país, ainda vamos ter de ouvir possivelmente um yes man socialista chamado Lamego ou com um yes father chamado João Soares. Salvem-nos, please!!! Ok. Não existem hipóteses melhores. É o que há. Eu por mim, vou emigrar. É o que tenho vontade de fazer...
quinta-feira, julho 08, 2004
As pernas
As minhas pernas alongam-se. Juntam-se às tuas. Encostam-se e de forma prolongada namoram. Rimo-nos de escárnio pelo que fazem. As nossas, pernas. Nós gostámos.
quarta-feira, julho 07, 2004
Só... imagens senhor Presidente da República.
Um pensará (?). Outro deseja subir...para quê?
Swan, Scott Mutter. ************** Escalator, Scott Mutter.
terça-feira, julho 06, 2004
segunda-feira, julho 05, 2004
Crepúsculo dos Deuses
Um sorriso de espanto brotou nas ilhas do Egeu
E Homero fez florir o roxo sobre o mar
O Kouros avançou um passo exactamente
A palidez de Atena cintilou no dia
Então a claridade dos deuses venceu os monstros nos frontões de todos os templos
E para o fundo do seu império recuaram os Persas
Celebrámos a vitória: a treva
Foi exposta e sacrificada em grandes pátios brancos
O grito rouco do coro purificou a cidade
Como golfinhos a alegria rápida
Rodeava os navios
O nosso corpo estava nu porque encontrara
Sua medida exacta
Inventámos: as colunas de Sunion imanentes à luz.
O mundo era mais nosso cada dia
Mas eis que se apagaram
Os antigos deuses sol interior das coisas
Eis que se abriu o vazio que nos separa das coisas
Somos alucinados pela ausência bebidos pela ausência
E aos mensageiros de Juliano a Sibila respondeu:
"Ide dizer ao rei que o belo palácio jaz por terra quebrado
Febo já não tem cabana nem loureiro profético nem fonte melodiosa
A água que fala calou-se"
Sophia de Mello Breyner
E Homero fez florir o roxo sobre o mar
O Kouros avançou um passo exactamente
A palidez de Atena cintilou no dia
Então a claridade dos deuses venceu os monstros nos frontões de todos os templos
E para o fundo do seu império recuaram os Persas
Celebrámos a vitória: a treva
Foi exposta e sacrificada em grandes pátios brancos
O grito rouco do coro purificou a cidade
Como golfinhos a alegria rápida
Rodeava os navios
O nosso corpo estava nu porque encontrara
Sua medida exacta
Inventámos: as colunas de Sunion imanentes à luz.
O mundo era mais nosso cada dia
Mas eis que se apagaram
Os antigos deuses sol interior das coisas
Eis que se abriu o vazio que nos separa das coisas
Somos alucinados pela ausência bebidos pela ausência
E aos mensageiros de Juliano a Sibila respondeu:
"Ide dizer ao rei que o belo palácio jaz por terra quebrado
Febo já não tem cabana nem loureiro profético nem fonte melodiosa
A água que fala calou-se"
Sophia de Mello Breyner
domingo, julho 04, 2004
Para sempre Sophia...
Para sempre Sophia. A tua voz não se calará. Os teus versos não se apagarão. Num livro que escreveste estarás sempre. Presente.
A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.
A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.
Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.
Sophia de Mello Breyner
quarta-feira, junho 23, 2004
Perguntas de um operário letrado
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas
Bertold Brecht
domingo, junho 20, 2004
Encontro com um estranho
Entro na livraria Ler Devagar (http://www.lerdevagar.com )e respiro um bálsamo de paz, contra os gritos tribais que ecoam pelo Bairro Alto em nome de Espanha ou de Portugal. Marco um golo pela cultura, junto ao bar leio excertos do livro de Boris Vian "Elas não percebem nada". Tu estás à minha frente, mas não existes no meu mundo. Os nossos mundos cruzam-se quando afirmas que afinal são os homens que não percebem nada sobre muita coisa, especialmente sobre as mulheres. Esboço um sorriso. Concordo parcialmente. Continuas. Falas, enquanto seguras uma cigarrilha na mão direita, sobre a dominação masculina, a parvoíce da submissão feminina, a poesia e os poetas, a sexualidade, as relações de poder, as relações amorosas e as prisões da moral ... Lanço algumas observações, consciente dos labirintos que envolvem estes temas, especialmente quando trocadas com um estranho. A conversa alonga-se. Termina com a minha despedida. Existem estranhos que podem ser muito mais interessantes intelectualmente do que muitas pessoas que conhecemos. Se é verdade que devemos continuar a ter cuidado com eles, existem contudo alguns que não nos importamos nada de conhecer. Enriquecem a nossa existência.
sábado, junho 19, 2004
Desencontro
Só quem procura sabe como há dias
de imensa paz deserta; pelas ruas
a luz perpassa dividida em duas:
a luz que pousa nas paredes frias,
outra que oscila desenhando estrias
nos corpos ascendentes como luas
suspensas, vagas, deslizantes, nuas,
alheias, recordadas e sombrias.
E nada coexiste. Nenhum gesto
a um gesto corresponde; olhar nenhum
perfura a placidez, como de incesto,
de procurar em vão; em vão desponta
a solidão sem fim, sem nome algum -
- que mesmo o que se encontra não se encontra.
Jorge de Sena
de imensa paz deserta; pelas ruas
a luz perpassa dividida em duas:
a luz que pousa nas paredes frias,
outra que oscila desenhando estrias
nos corpos ascendentes como luas
suspensas, vagas, deslizantes, nuas,
alheias, recordadas e sombrias.
E nada coexiste. Nenhum gesto
a um gesto corresponde; olhar nenhum
perfura a placidez, como de incesto,
de procurar em vão; em vão desponta
a solidão sem fim, sem nome algum -
- que mesmo o que se encontra não se encontra.
Jorge de Sena
quinta-feira, junho 17, 2004
Tudo por dias.
Existem dias em que questionamos o que possivelmente é inquestionável. Ou que merecia há muito sê-lo. Questionado. Existem dias em que tudo parece nada e nada parece tudo. Tudo uma questão de dias. Há dias assim.
segunda-feira, junho 14, 2004
Eu fui... votar.
Votar é um direito de todos os que vivem num sistema democrático. Mas para todas as mulheres devia também ser um dever, embora tenham, também, o direito de não votar. Mas recordando a história, não podemos esquecer a nossa ausência ou melhor, afastamento de qualquer decisão política. Fomos ignoradas e consideradas como seres menores. Isto durante séculos. Muitos séculos; demais.
Em meados do século XIX a América estava dividida. A escravatura era o tema dominante em quase todos os círculos de discussão. Duas importantes mulheres - Susan Brownell Anthony e Elizabeth Cady Stanton - lideravam grupos de luta a favor da abolição da escravatura na América, em 1851.
O pensamento inicial de Susan passava por ver aprovada uma lei que concedesse o direito de voto às mulheres, mas, devido às dificuldades enfrentadas, Susan e Elizabeth concentram-se apenas na libertação dos escravos e só mais tarde no direito ao voto, em 1870. Direito ao voto, por meio da lei constitucional nº. 15, a todos os homens de qualquer raça, cor e condição social. Mas as mulheres não existiam... É iniciada uma nova batalha a favor de uma lei pelo voto feminino, protagonizado pela idealizadora Susan Anthony. A luta seria longa e árdua...Só em 1869, em Wyoming, é pela primeira vez permitido o voto feminino. Três Estados do Oeste seguiriam o exemplo. No entanto, não foi fácil e muitas pessoas ergueram a sua voz contra. Em 1906, a grande defensora do voto feminino Susan Anthony, morre aos 86 anos, sem ver aprovada a (sua) lei para todos os estados norte americanos.
Dez mais anos mais tarde é eleita pelo Estado de Montana a primeira mulher para o Congresso, a deputada Jeannette Rankin, com a responsabilidade de propor uma lei de voto a todas as americanas. Proposta só aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos em 1919 e emendada em 1920, com proibição de discriminação política com base no sexo. Cabe salientar, também, que Jeannette seria o único parlamentar a votar contra a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, repetindo o seu voto de 1917, quando da Primeira Guerra.
Do outro lado do globo, a Nova Zelândia foi o primeiro país do mundo a conceder o direito de sufrágio às mulheres no ano de 1893. A Austrália concedeu o voto em 1902, com algumas restrições. Na Europa, o primeiro país a permitir uma aproximação feminina das urnas de voto foi a Finlândia em 1906.
Em Inglaterra, como havia sucedido noutros países, a concessão de tão importante direito foi difícil e dramática, a culminar em prisões e até morte. É em 1866 apresentada por John Stuart Mill , famoso jurista, economista e filósofo inglês, ( e assinada também por miss Sarah Emily Davis e pela Dra. Garret Anderson) a primeira lei mas, sofre uma estrondosa derrota de 194 votos contra 73 a favor. Poucos anos depois, surge uma abertura e as eleições municipais contam com a participação das mulheres que possuiam propriedades, simplesmente. A luta continuou, pelo direito de todas e os protestos intensificam-se, resultando em muitas detenções. Surge então um acontecimento trágico que marca esta luta, num gesto de desespero Emily Davison, em Junho de 1913, coloca-se em frente do cavalo do rei durante uma prova hípica e acaba por falecer. O seu enterro é seguido por protestos violentos, incêndios e corte de fios do telégrafo. Com o fim da Primeira Grande Guerra, em 1918, é reconhecida a participação feminina na retaguarda do conflito e é finalmente concedido o direito ao voto às mulheres inglesas com mais de 30 anos. Só em 1928, a idade foi reduzida para 21 anos.
Na América Latina, o primeiro país a permitir o voto feminino foi o Equador em 1929. Na Argentina, tal acontecimento sucede no período de Juan Domingo Perón, em 1946, em que é iniciada a campanha pelo voto feminino, através de sua esposa Evita, que empenha-se bastante por essa conquista - aprovada pelo Congresso em 23 de Setembro de 1947.
Em Portugal, o processo é, mais uma vez, muito lento e difícil. Só depois da revolução de 25 de Abril de 1974 todas as mulheres portuguesas conseguem esse direito. Em 1910, tendo em consideração a omissão legal sobre o sexo do chefe de família, Carolina Beatriz Ângelo - médica, viúva e mãe de duas crianças- faz prevalecer a sua condição de chefe de família e deposita o primeiro voto feminino nas eleições para a Assembleia Constitucional. Como consequência, a lei é modificada de forma a estabelecer claramente que só os homens podiam exercer o direito de voto. Anos mais tarde, em 1931 por meio do decreto de lei nº 19.694, de 5 de Maio, as mulheres com um grau universitário ou com o secundário concluído podiam repetir o mesmo gesto de Carolina Beatriz Ângelo. Em contrapartida, os homens podiam exercer o mesmo direito desde que soubessem ler e escrever.
A Lei nº 2.015, de 28 de Maio de 1946, alargou um pouco mais o direito de voto, mas ainda continha requisitos diferentes para os homens e para as mulheres eleitores da Assembleia Nacional. A Lei nº 2.137, de 26 de Dezembro de 1968, definiu a capacidade eleitoral activa para a Assembleia Nacional, sem distinguir quanto ao sexo. Todavia, apenas os chefes de família podiam ser eleitores das Juntas de Freguesia. Só o decreto-Lei nº 621/A/74, de 15 de Novembro, declarou serem eleitores da Assembleia Constituinte "cidadãos portugueses de ambos os sexos" (artigo 1º). É finalmente em 1976 que a Constituição da República reconhece o direito de sufrágio a todos os cidadãos maiores de dezoito anos (artigo 49º), "ressalvadas as incapacidades previstas na lei geral " (artigo 49º), assegurando, portanto igual direito de voto aos homens e mulheres nas eleições para os órgãos de soberania, das regiões autónomas e do poder local.
Para a nossa história ficam mulheres como: Carolina Michaelis de Vasconcelos, Maria Amália Vaz de Carvalho,Maria da Lourdes Pintasilgo, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa, entre outras, muitas outras.
Por todos os que lutaram pelo meu (e de todas as mulheres) direito ao voto um profundo agradecimento. Por elas e por eles, pelas que ainda não podem exercer tal acto e pelas minhas convicções eu fui (e espero continuar) a votar.
sábado, junho 12, 2004
Smile
Os dias que correm são estranhos. Nestes dois últimos anos, Portugal tem-se transformado num campo fértil em suspeições, em casos de corrupção nas diversas áreas, em casos de polícia para ver em formato de novela, em políticos que fogem ou são presos, em pessimismos pelo que somos (para conhecer melhor Portugal visite:
http://www.cia.gov/cia/publications/factbook/geos/po.html#Econ) e pelo que temos... Por aí fora. Mas afinal este não era o nosso Portugal? Bem, mas este tipo de discurso não deve ser feito pois, como bons hospitaleiros que somos devemos a partir agora sorrir, simplesmente, a todos os estrangeiros ou que se pareçam como tal. Educada e obedientemente, como bons ordeiros, há que juntar um Welcome ou bienvenue.
A nossa grande arma, para além do sol, será sem dúvida o nosso sorriso. O sorriso português, que como em quase tudo, ainda não descobri por quê, tem algo especial, diferente de todos os outros. Por ser e só (e já é muito, dizem os entendidos)português. Assim, esqueçamos o facto de sermos o país europeu mais pobre desta velha europa, e vamos todos para a rua... sorrir. Informo mesmo que os dentistas, um dos grupos profissionais que mais lucra no nosso país, já triplicaram os seus lucros nos últimos dias e estão a pensar fechar os consultórios até ao final do ano, devido ao aumento de trabalho, para férias. Mas os portugueses, garanto, vão manisfestar-se nas ruas. Pois os dentes e o sorriso deste grande povo (lá isso é verdade) tornaram-se nos últimos anos no seu ganha pão. Nem que seja para uma cunha para o emprego.
Para além do fado, de Fátima e de futebol temos, agora..., o nosso sorriso. Foda-se!
Começa então, hoje, um grande evento organizado por Portugal. O que será o maior e o melhor. O tal. O que todos se recordarão. O nosso. O único Euro 2004. Como devem calcular, estou excitadíssima. Tenho tudo aos saltos... (uma expressão muito normal, muito nacional). Mas também estou chateada. A imprensa estrangeira não entende o espírito português... Será que o nosso seleccionador esqueceu-se de os convocar? Não é que os cabrões só falam dos níveis de escolaridade, do PIB, do valor do salário mínimo e outras coisas de que não percebo muito, referentes a Portugal. Merda, vai começar o Euro 2004. O Euro!!! O campeonato europeu de FUTEBOL em PORTUGAL! Estes gajos são tramados... com o maior acontecimento cultural sucedido no nosso país nestes últimos dois anos. Podemos não investir em muita coisa, mas na arte (futebolística)lá isso investimos. Numa cultura de massas.
Coloquemos então as bandeiras do nosso país na janela, no carro, na cabeça. Vivamos este grande momento. Pelo menos, merecemos sonhar. E há tanto tempo que não sonhamos...
quarta-feira, junho 09, 2004
Mudanças
Tenho um computador novinho. Suficiente para suportar alguns programas essenciais à minha vida profissional. Desejo-o para pouco mais. Mais memória e rapidez são essenciais nos dias de hoje, quase sempre stressantes. Também para nós.
Embora continue a recusar a ingestão de medicamentos ou afins que potencializem as nossas supostas capacidades, algumas idealizadas ou sonhadas pela maior parte das pessoas, por vezes a vida assim o exige.
Mas é um facto que poucos se aceitam como são. Quase todos desejamos ser quase tudo contudo, por vezes, corremos o risco de conseguirmos ser pouca coisa. É importante o inconformismo, mas mais importante é procurar o conhececimento das nossas potencialidades e dos nossos limites. Infelizmente, existe muito boa gente que desconhece os labirintos da sua essência. E, nestes casos, assiste-se ao recurso, quase imediato, a uma panóplia de medicamentos, através dos quais procuram a salvação dessa enfadonha tarefa; de todos os males e de todas as frustações...
Provavelmente, nos tempos futuros, com a ajuda da ciência, assistiremos à venda de uma espécie de Kits tipo, com informação (os livros já temos) e medicação apropriadas para tornarmo-nos instantaneamente líderes, competitivos, inteligentes, admirados, pessoas com carisma... Será tudo uma questão de tempo, neste admirável mundo novo.
Embora continue a recusar a ingestão de medicamentos ou afins que potencializem as nossas supostas capacidades, algumas idealizadas ou sonhadas pela maior parte das pessoas, por vezes a vida assim o exige.
Mas é um facto que poucos se aceitam como são. Quase todos desejamos ser quase tudo contudo, por vezes, corremos o risco de conseguirmos ser pouca coisa. É importante o inconformismo, mas mais importante é procurar o conhececimento das nossas potencialidades e dos nossos limites. Infelizmente, existe muito boa gente que desconhece os labirintos da sua essência. E, nestes casos, assiste-se ao recurso, quase imediato, a uma panóplia de medicamentos, através dos quais procuram a salvação dessa enfadonha tarefa; de todos os males e de todas as frustações...
Provavelmente, nos tempos futuros, com a ajuda da ciência, assistiremos à venda de uma espécie de Kits tipo, com informação (os livros já temos) e medicação apropriadas para tornarmo-nos instantaneamente líderes, competitivos, inteligentes, admirados, pessoas com carisma... Será tudo uma questão de tempo, neste admirável mundo novo.
sábado, junho 05, 2004
Para obras...
Como em qualquer casa, esta também estava a precisar de uma remodelação; mudança. Por isso, estamos em tempos de obras. Estarei de volta com um novo fôlego.