quinta-feira, março 17, 2005

Anteontem estive aqui. Apeteceu-me escrever mas não consegui tempo. Sem tempo não escrevo. Aqui. Venho cá novamente. Hoje. Quero escrever. Mas o tempo puxou-me, mais uma vez, deu-me um encontrão da cadeira e empurrou o meu corpo para outra divisão, do espaço. Agora venho fazer queixa. Do tempo.

sexta-feira, março 11, 2005

Há um ano o absurdo aconteceu

O absurdo não devia ter imagens. Só palavras reais.

quarta-feira, março 09, 2005

Já passou

Apresento-vos seguidamente o meu dia da mulher.
7:00 AM – acordo (piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii) ao mesmo tempo que dou uns murros no despertador. Foda-se! Tenho de me levantar de encontro ao Pólo Norte.
7:15 AM – arrasto-me pelo WC, quando uma voz grave masculina informa-me que é dia da mulher caras ouvintes, desejamo-vos um óóóppppttttiiimmmo dia; que o comemorem bem pois vocês merecem; um beijo especial a todas vós. Neste instante acordo! Sintonizo na rádio habitual, contra o ruído, olho-me ao espelho e …
Oh não! Espera-me um dia difícil…
7:48 AM – saio de casa, devidamente cuidada e dirijo-me ao café mais próximo: Bommmmm diaaaaa menina! Hoje é DIA DA MULHER e está de parabéns! Sandra, controla-te…. Conto até 10 não, até 100 (1,2,3…). Bom dia, mergulhado no café e no cigarro que fumo com maior intensidade.
8:07 AM – entro finalmente no metro. Deparo-me com um tipo com roupa encomendada para o efeito, com um Sorriso Amarelo A Fazer Frete, com um ramo de rosas na mão pronto a apanhar qualquer gaja, as gajas. Primeiro pensamento: como entrar no metro e fugir a este caralho. Obrigo as pernas a mexerem-se mais, escondo-me atrás da mala e quando olho para o que me livrei: Esta flor é para si! Feliz dia! Eis que surge o 1º MOMENTO: Olhe, como BOA mulher só aceito diamantes, sabe? Dê a outra gaja que se contente com a coitada de uma flor! Fodeu-se.
8:12 AM – saio do metro e começo a ficar furiosa. Lamento que, para além de outras coisas, as mulheres não se revoltem com o folclore em que transformaram este dia e mandem por no cú todas as flores, presentes com amostras de detergente e afins distribuídos no maior dos gozos.
8:20 AM – chego ao emprego. Felicitações de gajos + sorriso idiota.
Obrigadas pá, sem ti não sabia que era mulher…E sem este dia pá, continuaria ignorante sem saber o que as mulheres sofrem…
1:05 PM – mais flores são distribuídas no local de trabalho e o colega Gonçalo teve a infeliz ideia de comprar uns bolos para as colegas. Sorrisos que só as mulheres entendem.
1:17 PM – almoço entre alguns colegas e poucos amigos. Não se comemora, DISCUTE-SE o DIA DA MULHER e pela fresta da janela respira-se melhor, com controvérsia.
4:56 PM – um Colega-Melga vem ter comigo com um olhar psicadélico: Então, gostou das flores? Flores? Mas que flores? Aquelas que mandei colocar na sua secretária. O quê? Caro colega, agradeço-lhe o trabalho mas quem hoje me oferece flores são os mesmos tipos que consideram que TODAS as mulheres adoram electrodomésticos, casar, ter filhos e… flores. Eu NÃO GOSTO de flores. É pena. Que pouco ainda conheçam sobre Vénus…

10:05PM – retenho alguns minutos no conteúdo televisivo e eis o que recolhi sem classificação que valha:

- O que é para si o dia da mulher?
- Acha justo haver o 8 de Março?
- Acha que hoje em dia a mulher usufruiu dos mesmos direitos que o homem?
- Acha que existe igualdade entre os sexos?
- Como é que era a mulher antes do 25 de Abril?
- Se tivesse hipótese de escolher, teria nascido homem?
- Mulher com cancro da mama.
- Cerca de 15% das mulheres europeias sofrem de violência doméstica.
- O número de mulheres a viver no limiar da pobreza duplicou nos últimos anos.
- Em Portugal as mulheres não têm aquilo que merecem e aquilo a que têm direito.
- Rapariga que quer ser bombeira entra pela primeira vez num quartel de bombeiros
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-
Mulher...

12:04 AM – Uffff. Já passou.

quinta-feira, março 03, 2005

X Casou

Encontrei-me com as minhas agendas antigas, dos tempos em que tinha pequenas empolas na pele contendo linfa ou pus e tinha medo que o tipo mais giro da escola me visse e começasse a correr por medo. Tempos em que escrevia merdas, pensamentos, descrições do quotidiano e outras coisas tais (como agora), a colocar-me na máquina do tempo.
Nessas agendas permanecem intactos números de telefone, marcadores de uma amizade ou de uma breve empatia, algumas passadas: da Vanessa Que Perdi o Rasto; da Sofia Que Continua Por Cá; da Fernanda Que Casou; da Patrícia Que Casou; da Manuela Que Deixou De Falar Com o Pessoal Desde Que Começou a Namorar e Mais Nada Sei; da Constança Que Continua Por Cá; da Ana Que Casou...

Muitas mulheres que se deixaram no momento em que subiram ao altar para dizer provavelmente a maior mentira da vida delas : prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias na nossa vida. Mulheres que optaram por viver a vida não com mas do outro; recebendo-a numa bandeja desconhecida que o amor é capaz de aceitar. Desenlaçaram-se dos amigos, preferencialmente dos não casados, dos sítios que as caracterizaram como solteiras e debruçadas à janela esperaram pelo príncipe que as levou para sítios nem por isso longínquos, mas que a ausência de comunicação com os afectos as tornou perdidas para a vida; sua. Desaguam sobre os que não auferem de semelhante estado civil dos males do casamento. Algumas com quem ocasionalmente me cruzei questionam o caminho seguido, acompanhado pela solidão, pela infelicidade, pela angústia e derivados; seus companheiros reais. Mas o problema não está no casamento. Claro que não está, mesmo que o queira atrás das costas.