segunda-feira, dezembro 12, 2005

Retomo

Numa consulta apressada por um daqueles dicionários que deambulam cá por casa verifico que regressar significa voltar ao ponto de partida, retroceder. E retroceder andar para trás, recuar, retroceder.
No meu regresso à blogosfera, que ainda não sei se será concretizável, não estou a andar para trás, nem de lado nem qualquer coisa perto. O regresso que agora executo é uma retoma a um ponto preciso que ficou estático no tempo. Volto a mexer-lhe, pego-o onde parou, dou-lhe continuidade, num movimento mesmo que mínimo, mas não retrocedo ao ponto de partida; na melhor das hipóteses retrocedo até ao ponto da minha partida que é o mesmo que dizer, ao ponto em que o deixei. Não regresso então, retomo, ou seja, tomo de novo, recupero, reconquisto, revejo. É mais ou menos isso.

terça-feira, outubro 18, 2005

Regresso



Regresso num passo. Com o passo do tempo que não faço uso. Meu. Regresso porque teço saudades multiplicadas pelas palavras minhas que não escrevo, pelas frases minhas que não expresso; só aqui. Regresso agora pois nem mais de um terço do tempo tenho. Escorro o sétimo em palavras, papéis, inúteis nas vezes, que não faço às vezes. Quase sempre regresso. Ao prazer. De querer. Colocar um a um reflexos vãos.

terça-feira, agosto 16, 2005

Deixo-te Lisboa*


Parto com pressa. Com vontade de te deixar Lisboa. Ficas junto dos insistentes, dos persistentes, dos pobres, dos forretas, dos vagabundos, dos workholic's, dos que já se esqueceram de viver, dos que se perderam e dos que encontrados junto a outro aprenderam a conhecer o significado da solidão. Ficas junto, a outros, algus; muitos. Fumos. Deixei-te. E talvez não tenha saudades tuas, quando me alongar de noite nas águas do oceano, quando me inundar de areia, quando me perder entre corpos nuns copos de conversas soltas, desprendidas da vida que não existe. Ficaste aí. Enquanto me afasto de ti. Aceno um adeus sem saudades ou porras de nostalgias. Olho em frente e dou a cara ao vento que me agarra. Num abraço. Quente de verão. Deito-me Lisboa. Longe de ti.

* post de 06/08/2005, antes de partir para a Costa de Prata que para moi vale ouro.

sábado, agosto 06, 2005

Reflexos de Marte

- Vês uma tipa gira, a tal, com quem sempre gostaste de estar e não deixas os teus amigos para estar com ela?
- Não, não deixo os meus amigos. Miúdas vou ter muitas ao longo da vida, mas a amizade é para toda a vida.
- Sim, ok. Mas a tipa mete conversa contigo e tenta engatar-te...
- Nem assim deixava os meus amigos.Eu podia estar com a tipa no dia seguinte. Quando estou com eles é uma coisa, quando é para caçar é outra...
- Só pode ser da idade. Tens 23 anos, não é?
- É isso mesmo.
- ...

sexta-feira, agosto 05, 2005

Pelos carreiros

Infelizmente não estou em New York New York, maravilhosamente cantado por Liza. Mas estou em mudanças. A noite prolonga-se e esta é a única forma que encontro de dar corpo ao manifesto. A horas tardias, mas são as que me agradam. Tudo tarde e a más horas, gosto de más horas, pois este calor provocado pela intensidade solar de 39ºC provoca com certeza movimento de neurónios em slow motion, no mínimo.
Agora existe o silêncio, momentaneamente rasgado pelos motores de automóveis, motorizadas, motas; nada como na Holanda - Queisso? Conseguíamos nós alguma bês subir êxas ladeiras manina? Os carregos nem lá axima chegabão cuomodebeser. Lá pelas xidades, talvez… mesmo axim, olhe que não xei manina.

Durante o dia, enquanto por certo estiver a dormir, escorrerá luz, amor e paz junto do Atlântico ou numa qualquer praia fluvial, construída com a toda a tecnologia de ponta das praias fluviais. Pois, afinal, o turista, o visitante, o forasteiro ou o vizinho do lado quer ser bem tratado e é ele, ou ela, que agora ditam o desenvolvimento, dizem alguns menos entendidos.

Cuerem uma picina aqui no meio da aldeia? Hã? É isso Dona Anunciação, dizem que buêm para cá mais chentes aqui das redondezas… Hã? Muito barulho? Nada disso Dona Anunciação dão umas dinâmicas à terra, fazem meixer isto. Se não isto morre… 74metros quadrados, já biu o tamanho da picina? A bela de uma grandeza, ali junto à nossa igreja. Salpicam a porta da igreja, hã? Não senhora Anunciação, nem puensse nisso! Os salpicos bão ser tão grandes que molham a cruz do senhor? Isso tá tanto lá no alto, eles nem salpicar sabem Dona Anunciação… Buêm xafurdar e depois bão-se embora. Sim Dona Anunciação, vou ver o rego da horta amanhã. Mas não se apoquente que é tudo chente boa com a certeza, buêm das cidades e precisam destas cozas, senão ninguém os agarra e nós ficamos para aqui. Sim, o fogo está longe Jezus!

E é bonito sim senhor, eu senhora solteira e boa rapariga (em que é que ficamos, senhora ou rapariga?) numa espécie de afrontamentos, em arfar contínuo pela diferença que me agrada. A diferença a esbater-se no conjunto do inquestionável de uma normalidade resplandecente que nos rege. Por este Portugal até se se benze: para cima, para baixo, esquerda e por fim direita, com direito a beijo na mão. Nem que seja pelo único que representa. Normal, lá terá de ser. E eu gosto. A sério. Mas estou quase quase a sair daqui.

quarta-feira, agosto 03, 2005

Em processo de mudança...

imagem descoberta aqui

Julie Doucet. New York Boyfriend, p. 1.

Diálogos Reflexivos (11)

- Olá.
- Olá viva tudo bem obrigado.
- ...

segunda-feira, agosto 01, 2005

Há salvação


Conhecer que um dos caprichos de uma bomba é La Tortura e ficar feliz por isso. Estou à porta, a aprofundar conhecimentos sobre a tinta e com os pezinhos no chão para lá e para cá. Viva o Verão?! VIVA Alejandro! Grande Shakira. Vive.

segunda-feira, julho 25, 2005

Amigo reflexivo

Existem pessoas que dificilmente dispenso, esqueço, mando à fava ou simplesmente apago do meu ficheiro da amizade. São pessoas por quem tenho uma enorme estima pela forma como transportam e analisam esta treta de mundo em que vivemos; pessoas que têm obviamente direito a tratamento VIP em qualquer lugar deste país pois são afinal a porra dos meus amigos e como meus merecem o melhor, nem que seja pela porra de paciência que têm para me aturar.
Se partem mesas, se escarram deleitadamente para o chão ou se mijam na boa tradição portuguesa junto a qualquer cantinho, pouco me interessa, estou-me nas tintas pois o sentimento que nutro por eles situa-se quase no limite da admiração, quase.
Este amigo
aqui é especial. Ai pois é! Com ele retirei a minha virgindade em muitas situações possíveis; é verdade e não me desmintas… Graças ao adorável Erasmus viajámos até à Bélgica, com arredores incluídos e com ele descobri a arte nova de Bruxelas e a nova erva holandesa, amavelmente transportada pelos mafiosos italianos. Ainda junto a ele descobri um dos principais elementos da contituição portuguesa, o vinho; entre o sabor das letras e das telas pelas quais nos enamorávamos. Por isto e mais qualquer coisa não largo este amigo. E é bom saber que ele está aqui tão perto.

sexta-feira, julho 22, 2005

Faça o favor de fechar

Ontem à noite estava por aqui, com os dedos a imprimir num ritmo quase supersónico sobre as teclas para o aparecimento de palavras, nas frases. O trabalho é uma coisa lixada especialmente quando temos prazos para cumprir e o prazo termina a poucas horas. Mas a verdade é que quase sempre adorei escrever sobre stress, desafiar limites, ser uma espécie de malabarista que numa das mãos segura um chapéu e com a outra procura equilibrar-se o mais possível para não cair ao chão; cair ao chão não. E assim, estava ontem – a escrever o mais rápido que conseguia, e bem. Mas… Mas ontem ouvi a notícia da demissão do ministro das finanças, Campos e Cunha, e ia quase quase caindo… Parei. Deixei as teclas e debrucei-me sobre a janela com um cigarro na mão, mil ideias no ar, na retoma da vontade de voar, voar mesmo, de avião, com malas feitas, tudo preparado e xau xau Portugal até qualquer dia.
Diria que Portugal está fodido mas se assim fosse estaria o país feliz e contente. Portugal, na melhor das hipóteses, fodeu-se, com alguns orgasmos levados ao extremo da sua existência. Foi um bom vivant em continuadas saídas nocturnas, apesar do orçamento limitado, por associações do bairro, casas de putas e jogatanas abaixo da cave. Só as recordações de um passado inconsciente o tornam feliz na miséria, num quartinho hipotecado, a aguardar ordem de despejo.
Mas a malta não explica e como boa portuguesa a esperança será sempre a última morrer mesmo que não tenhamos esperança que valha, depois de um palhaço de D. Sebastião recusar-se a aparecer. Os Exmos. Senhores Professores Doutores Medina Carreira e Saldanha Sanches são por agora os nossos mais ilustres mestres, amigos do povão, saravá aleluia, e lá vão deixando cair para quem quer ouvir que o Verão português não é só fogos ou avisos de perigo para com o escaldão… Não. E pois. Claros que é bons ser portuga. Claro que adoros estes paíze maravilhoso. O sol… ai o sol. E… e claros está que as culpa sobre quem teria razão - D. Afonso Henriques ou a infanta D. Teresa? - será a grande portuguese question.
Sobre culpas.Do you really want my opinion? – fase de iniciação à língua inglesa, sabe-se lá, pá . Poizé a culpa é … dos políticos? Não! Dos … dos… espanhóis, cabrões? Não! Dos… caralhos impotentes dos empresários?... Não! Do… cabrão pavimento das estradas? e das?… e … NÃO!
Num país em que os responsáveis pela irresponsabilidade não são responsabilizados, somos afinal todos os irresponsáveis e responsabilizados pela situação.

Por agora, obrigada pela atenção dispensada. Perdão. Com licença. Esteja à vontadinha Faça favor de fechar a janela. Sempre às ordens.

quarta-feira, julho 13, 2005

CDCrossing







Este CD chegou ontem à minha casa. Já estou aqui. Entre sons, cores, rabiscos...deliciosos. Com Gorillaz, uma banda com os pés dentro da BD.

Feel Good Inc.

[Damon Albarn]

City's breaking down on a camel’s back.
They just have to go 'cos they dont hold back
So all you fill the streets it’s appealing to see
You wont get out the county, 'cos you're bad and free
You've got a new horizon It's ephemeral style.
A melancholy town where we never smile.
And all I wanna hear is the message beep.
My dreams, they've got to kiss, because I dont get sleep, no...


Windmill, Windmill for the land.
Learn forever hand in hand
Take it all in on your stride
It is sticking, falling down
Love forever love is free
Let’s turn forever you and me
Windmill, windmill for the land
Is everybody in?

[De La Soul]
Laughing gas these hazmats, fast cats,
Lining them up-a like ass cracks,
Ladies, homies, at the track
its my chocolate attack.
Shit, I'm stepping in the heart of this here
Care bear bumping in the heart of this here
watch me as I gravitate
hahahahahahaa.
Yo, we gonna go ghost town,
this motown,
with yo sound
you're in the place
you gonna bite the dust
Cant fight with us
With yo sound
you kill the INC.
so dont stop, get it, get it
until you're cheddar header.
Yo, watch the way I navigate

[Damon Albarn]
Windmill, Windmill for the land.
Learn forever hand in hand
Take it all in on your stride
It is sticking, falling down
Love forever love is free
Let’s turn forever you and me
Windmill, windmill for the land
Is everybody in?

[De La Soul]
Dont stop, get it, get it
we are your captains in it
steady,
watch me navigate,
ahahahahahhaa.
Dont stop, get it, get it
we are your captains in it
steady, watch me navigate

hahahahahhaa



Gorillaz

sexta-feira, julho 08, 2005

Without opinion moment

Será que os espartanos foram bons ou maus?
Será que os judeus foram bons ou maus?
Será que o cristianismo é bom ou mau?
Será que existiram cruzadas boas ou más?
Será que a aniquilação humana é boa ou má?
Será que a censura é boa ou má?
Será que existem guerrilhas boas ou más?
Será que o terrorismo é bom ou mau?
Será que existe guerra boa ou má?
Será que existem bombas boas ou más?
Será que existem tanques de guerra bons ou maus?
Será que existem guerreiros bons ou maus?
Será que existem sistemas políticos bons e maus?
Será que existem economias boas e más?
Será que existe paz boa ou má?
Será que existem humanos bons ou maus?
Será que o mundo é bom ou mau?

[incompleto]

Donnie Darko

[Private mEssage: Antes de passares pelo Quarteto para veres a feitura da obra. Vê a obra. Prima. Se fazes o favôre. Obrigadas. Tá?]


Segue dentro de momentos...

... os momentos que se seguem...

... CHIU!!!!...

... desliguem os telemóveis por favor, obrigada...

... (banda sonora)...

... [larailarailailai]


...

... É agora! É agora!...

Donnie Darko em conversa com a psiquiatra.

Donnie Darko: I made a new friend.
Dr. Thurman: Real or imaginary?
Donnie Darko: Imaginary.
Dr. Thurman: Would you like to talk about this friend?
Donnie Darko: Frank.
Dr. Thurman: Frank. What did Frank say?
Donnie Darko: He said to follow him.
Dr. Thurman: Follow him? Where?
Donnie Darko: Into the future.
Dr. Thurman: And then what happens?
Donnie Darko: And then he said …. Then he said that the world was coming to an end.
Dr. Thurman: Do you think the world is coming to an end?
Donnie Darko: No. That’s stupid.

... E depois? Nada de especial...
... Ókeis pá. Vê o resto...
...

Realidades particularizadas

Existem coisas na vida de que não prescindo – os amigos. Gosto deles de todas as cores e feitios, com tudo incluído: qualidades e a porra dos defeitos. Neste conjunto não estão as pessoas insípidas, para quem os sentimentos de inveja e mesquinhez são sentimentos maiores, metidos em vidinhas de merda estagnada. Estão pessoas de quem gosto muito pela visão de mundo que transportam, com convicções, neuras, sede de conflito (de ideias), paranóias, inconformados, stressados, críticos … e por aí fora. Bem, a verdade é que toda a malta que me acompanha e vice-versa não é malta fácil, é malta da pesada num misto entre pesadas angústias deste mundo e o síndroma de Peter Pan. Não sei se me entendem mas talvez um dia seja capaz de explicar.
A dedicação por estes gajos e gajas é tamanha que a todos os amôris da minha vida fiz questão de informar que juntamente comigo ia ou vai todo o meu staff (família, amigos, conhecidos, inimigos), sem imposições e devidamente doseado com tempero pois o amor também é MUITO lindo. Jamais coloquei a hipótese de abdicar de qualquer um só pelo simples facto do mê amôri nã gastar. Pois o amôri também é lindo e a amizade também o é.
Posso admirar, idolatrar, pretender beijar os pés de alguns autores mas nenhum deles se equipara a um amigo meu. Milan Kundera não ouve as minhas angústias durante a noite, Max Weber não discute comigo sobre o que a modernidade deixou e Harold Pinter também não me acompanha ao teatro… São uma das paredes mestras que sustentam a minha vida.
Hoje assisti às consequências de mais um momento absurdo que fará parte da história da humanidade. Irritei-me, saltei da cadeira, quase gritei e mandei tudo foder. Desliguei o televisor e limitei-me a ouvir alguma rádio. Condeno quase tudo. Condeno mesmo a especulação televisiva com que repetidamente são tratadas tamanhas estupidezes humanas. Ficamos com os sentimentos (de horror, de sofrimento, de medo, de pesar…) os rostos, as palavras, a destruição, o caos momentâneo deste mundo ocidental, as conferências de imprensa, os números, os vivos, as entradas, as horas, as saídas, os meios de transporte, a segurança, e mais uns elementares assuntos para a malta continuar informada. Tudo para continuarmos pois temos de continuar, sem essencial. Nesta loucura é para os meus amigos que decidiram aventurar-se por terras de sua majestade o meu primeiro pensamento. E o absurdo ganha outro sentido, mais sentido no sem sentido. A Sofia e o Rui que moram em Londres há um ano não atendem o telefone. Ligo-lhes mais uma vez e ouço finalmente a voz da Sofia:
Olá Sandra! Está tudo bem!!!! Estamos todos chocados, nervosos mas a vida continua. Com medos.
- Pois continua Sofia, tem de continuar. Com outros medos.

quarta-feira, julho 06, 2005

Ocorrência

Estive ontem a escrever um texto sobre as amizades e coiso e tal e preparadinha para o postar...
DESAPARECEU!!!!!!???????? Mas que MERDA é esta!!!! Hã? Ai o camandro! Claro que estou furiosa, claro que estou... Uma gaja nunca está preparada para o imprevisto, ah poizé! Filhadaputadevidinha.

segunda-feira, julho 04, 2005

Secção "Sê um aprendiz"

Serge Gainsbourg foi um génio. Entre Gitanes, música, letras, actrizes, cinema, fotografia, álcool...Para os perdidos, eis o achado aqui.

sábado, julho 02, 2005

Diálogos Reflexivos (10)

- Onde estás amor o meu nome é António.
- O teu amor não está aqui o meu nome é Sandra.

sexta-feira, julho 01, 2005

Reflexosss testa-se



Adorei por momentos ser uma loucona "aspirada" ! Venham mais.

Reflexosss consulta

É agora! Quem é que nunca utilizou cremes anti-celulite, fez ou já pensou fazer programas de emagrecimento, ginástica localizada,lipoaspiração, mamaplastias...? Hã? Sem medos, teste-se.


Portugal piquinino

Tenho a casa num caos catastrófico ou seja, num caos para lá do caos… sem sentido. Papéis e mais papéis decoram o chão das poucas divisões da minha casa, a pirâmide de Quéops está representada num amontoado de roupa e a cama feita está como quase sempre acontece, para lá do quase provérbio nunca saias de casa com a cama por fazer, desfeita. Se fosse uma moçoila prendada, devidamente amestrada e com sentido no altar ficaria por casa a purificar o meu ser feminino numa panóplia de tarefas domésticas. Mas não. Sou uma tipa sem tino, sem consciência do género a que pertenço e sem paciência que valha a limpeza do cantinho, o esfregar azulejos até luzirem, o passar ferro até às dores e coiso e tal. Vou em direcção à esplanada do bairro da Graça, onde faço toda a terapia possível com uma caipirinha entre mãos e em dois dedos de conversa com amigos homossexuais a relatar peripécias da ruralidade portuguesa com a sua condição. Pois o nosso Portugal piquinino ainda não se dividiu em Portugal piquinino rural e o Portugal piquinino urbano. Continuamos a ser um quase todo de moralistas comandados por uma educação portuguesa tradicional com direito, caso fosse possível, a selo de garantia para exposição mundial. Pois bem, estes meus amigos têm um leque variado de histórias que mostram o porquê de ainda não ser possível em Portugal discutir sobre casamentos entre homossexuais, adopção de crianças por homossexuais e adiante.
Fechemos por agora os olhos e coloquemo-nos num bairro antigo de Lisboa. Por lá vivia há tempos um moçoilo com direito a conversas sobre o seu físico e a tremores de ansiedade entre o mulherio. Conheciam-se namoros, poucos. Mas… o moçoilo accionava os máximos a outros moçoilos e pouco lhe interessava o meio feminino. Farto do esconde-esconde, decidiu um dia abrir o peito ao mundo e assumir-se como gay. Jesus! Credo! - dizem os activistas da verdadeira educação portuguesa. A família eliminou-o da sua árvore genealógica e descarregou para consideração pública caixotes vários com quase tudo o que lhe pertencia. Alguns vizinhos em defesa da puta “dignidade do bairro” debitaram palavras a ritmos bipolares: Ca-brão, pa-ne-lei-ro, vaitesembora, saisdaqui. O aparato foi tal que exigiu intervenção policial… O moçoilo saiu felizmente ileso e encontrou ajuda numa organização que conseguiu arranjar-lhe um tecto.
Nesta Lisboa estas situações não são tão raras quanto isso e repetem-se com raparigas grávidas, raparigas lésbicas, raparigas raparigas e adiante.
A urbanidade portuguesa continua a andar de carroça!

Certa de ter contribuído para o melhoramento dos vossos dias, estou grata pela vossa atenção.

quarta-feira, junho 22, 2005

Translate Reflexosss (1)

A jornalista Pavia Rosati é uma pessoa informada sobre este nosso Portugal. Lisboa já não é a Torre de Belém, os Jerónimos ou o Castelo de S. Jorge... Lisboa é Bairro Alto, compras e comida e... um doce à beira Tejo. Fiquemos com Pavia pois, garanto-vos, ficamos bem:

"LISBON has no idea how cool it is. The city lives in the shadow of Europe's superstar capitals, unaware of its own modern charms. It is not uncommon to hear people talk about surviving dictatorship, the earthquake of 1755 and the loss of empire as though these were recent concerns, not events that happened some 30, 250 and 400 years ago.

The city's potential is most evident in Chiado and Bairro Alto, the lively adjoining neighborhoods whose narrow streets are lined with an ever-increasing array of bars, boutiques and restaurants. Things are booming; construction just might be the preferred pastime of the locals.


The areas flank Rua da Misericórdia, the thoroughfare that changes names several times (Rua do Alecrim, Rua de São Pedro de Alcântara) on the route uphill from the River Tagus. Pack comfortable shoes; the hills and the cobblestones make this a town of vigorous walking.

Chiado and Bairro Alto meet at Praça Luís de Camões, site of the new Bairro Alto Hotel, 8 Praça Luís de Camões, (351-21) 340 8288. The décor at the 55-room boutique property, scheduled to open this month, is a restrained mix of old and new: plasma TV's sit on the walls between wainscoting and paintings of the birds of Lisbon; dark wood desks double as sleek vanities. The rooms on the fourth floor have narrow balconies that overlook the square below. The roof deck has stunning river views. A ground-floor bar opens onto the bustling street outside, and a D.J. will spin in the lobby on weekends. A design hotel basic in other cities, house D.J.'s are still considered a novelty here. For better or for worse. A special summer package good from June 15 through August for $989 includes three nights with breakfast, one dinner a person, airport transfers and a walking tour of the Bairro Alto district.

Largo do Chiado, across Rua da Misericórdia, is home to some of Lisbon's oldest and fanciest shops. Heiresses could outfit their trousseau from the china and porcelain at Vista Alegre, 20 Largo do Chiado, (351-21) 346 1401, and the bedding and linens at Paris em Lisboa, 77 Rua Garrett, (351-21) 346 8885. Should they need a restorative coffee in between, they can stop at Café a Brasileira, 120 Rua Garrett, (351-21) 346 9541, a favorite meeting place for writers and social butterflies since the 18th century. It's crowded, overpriced, historic, charming.

Back to shopping, which may be what Chiado does best -- at least during the daylight hours. Hipsters score the jeans du moment at Gardénia, 54 Rua Garrett, (351-21) 342 1207, a narrow boutique with a high vaulted ceiling.

Lisbon's most interesting retail space, Yorn, 105-115 Rua Nova do Almada, (351-21) 092 7016, is an industrial emporium with a staircase-cum-runway that connects three floors of cafes, Internet terminals, a hair salon, a record store, Diesel and Vodafone boutiques, and men's and women's fashions by designers like Wearplay, Custo and Susana Pinheiro. Rulys, 89-101 Rua Nova do Almada, (351-21) 342 0017, a cool Portuguese chain, sells trendy, lower-priced clothing and accessories for men and women. Osklen, 9 Rua do Carmo, (351-21) 325 8844, along the pedestrian zone, carries blithe, breezy and beach-ready casual wear from Brazil.

Two shops along Calçada do Sacramento offer a glance back in time. Manuscrito Histórico, No. 50, (351-21) 346 4283, a one-room shop beneath an arched ceiling, is a trove of manuscripts, prints and beautifully bound first editions. You'll find an excellent selection of ceramics (arguably Lisbon's best import) at Viúva Lamego, No. 29, (351-21) 346 9692.

A stained-glass ceiling, rotating art exhibits and bagels are the main attractions at the recently opened Café Vertigo, 4 Travessa do Carmo, (351-21) 343 3112, a favorite spot of the young literary set. Lisbon's pretty boys find one another at Heróis, 14 Calçada do Sacramento, (351-21) 342 0077, a sleek two-floor bar and restaurant with the requisite chartreuse, white and wenge wood touches. The trendy (but unpretentious) crowd is dining on Calçada do Duque at Paladar, No. 43, (351-21) 342 3097, which serves Mediterranean specialties in a dark and seductive dining room, and at the cozy and buzzing Café Buenos Aires, at No. 31, (351-21) 342 0739.

Neighboring Bairro Alto is anything but obvious. By day, the cobblestone streets are so sleepy with hanging laundry and elderly residents meeting for coffee that the many cool boutiques almost seem out of place. But this is what the quiet side of trendy looks like.

Aleksandar Protich, 112 Rua da Rosa, (351-93) 633 7795, is a converted butcher shop where dresses and sweaters hang from meat hooks. Sneakers Delight, 30-32 Rua do Norte, (351-21) 347 9976, has gallerylike displays of hard-to-score limited-edition Nikes, Pumas, Adidas and other cult kicks. No Kidding, 40-42 Rua do Norte, (351-21) 342 1801, a cute and colorful children's shop, has a play area filled with large blocks for arranging and climbing. Vintage gets a proper treatment at A Outra Face da Lua, 86 Rua do Norte, (351-21) 343 1631, which has a zany mural made of old ties, as well as a relaxing cafe at the entrance.

By night, Bairro Alto is an altogether different scene. Diners have to knock for entry at Olivier, 35 Rua do Teixeira, (351-21) 342 1024, a low-ceiling restaurant with dark-wood paneling that serves impossibly creamy scrambled eggs and caviar, succulent sausage wrapped in cabbage, and chocolate cake with a molten center that alone could justify another Portuguese vacation. Lisboa à Noite, 69 Rua das Gáveas, (351-21) 346 8557, serves traditional cuisine in a modern space lined with large-scale photographs of the city at night. The menu includes seafood and meat dishes as well as porco preto, a succulent black pork found only on the Iberian peninsula.

Other current favorites include the elegant Pap' Açorda, 57 Rua da Atalaia, (351-21) 346 4811, and Sul, 13 Rua do Norte, (351-21) 346 2449, a cozy steakhouse. Those tempted by all the fado restaurants lining the streets might not be surprised to learn that locals leave these places to the tourists.

For one of the best meals in Lisbon, take a quick cab ride to Mezzaluna, 16 Rua Artilharia Um, (351-21) 387 9944, in Rato, a neighborhood just north of Bairro Alto. Michael Guerrieri, a vibrant Neopolitan chef who grew up on Long Island, prepares Italian food that's at once innovative and unpretentious. He serves cod with warm strips of radicchio and a purée of carrot and ginger, and makes an excellent goat-cheese appetizer with eggplant on a bed of chopped tomatoes. Everything is impossibly fresh, and dishes are as much a treat for the eyes as the stomach. A favorite spot for local politicians and social butterflies alike, Mezzaluna just completed a huge renovation and redecoration this spring. Make this one of your first stops, because you'll want to come back.

Around midnight, Bairro Alto becomes a giant block party. Bars serve drinks in plastic cups, the better to encourage patrons to spill onto the streets outside. Every corner is its own scene, though the crowd is consistently lively and flirty no matter where you stop. The energy is sky-high, and the Lisbon night is just beginning. There may be no better place on the planet to be young and bold -- if only in spirit. "


Pavia Rosatti, In Two Lively Districts In Lisbon, Every Night Is a Block Party in The New YorK Times, 8 de Maio de 2005.


P.s. : em caso de dúvida, faça o favor de clicar
AQUI.Obrigada.Pode fechar s.f.f.

sexta-feira, junho 10, 2005

Ai Portu-gal... Portu-gal... O que é que...

Palavras na cerimónia do dia de Portugal. Tudo ao molho e pontapé na bola, sem ordem que valha:

-
crise económica;
- anacronismos salazaristas;
- patriotismo moderno;
- necessidade de...;
- crise financeira;
- temos de...;
- património delapidado;
- sem bombardeamentos;
- deficit;
- situação difícil;
- povo valente;
- o pessimismo é um péssimo companheiro;

- ...

terça-feira, junho 07, 2005

Diálogos Reflexivos (9)

- Já comeste?
- Sim.
- Não te vi comer.
- Queres que eu coma só para tu veres?

sexta-feira, junho 03, 2005

Quantos são? Quantos são?



Já 32, pois então!

quinta-feira, junho 02, 2005

Pela sobrevivência

Existem sítios e dias em que não teria qualquer problema em deixar expresso num qualquer papel timbrado a minha autorização para o simples bloqueio da minha entrada. Nem mais! Para o bem da minha conta bancária que, nos tempos que correm, é o mesmo que dizer para o meu bem.
Numa qualquer rua que percorra, com objectivos precisos de encaminhamento, paro de imediato se encontro uma livraria. Observo meticulosamente a montra, caso exista e, sem neurónios contabilísticos que valham sou como que sugada para o seu interior, sem qualquer tipo de consciência. Lá dentro, dou voltas e voltas, rodopio a cabeça, faço pinos mentais, espargata sobre o que pretendo comprar, o salto em trampolim pelo que consigo comprar e vários, muitos murros de boxe pelo que NÃO POSSO comprar. E é assim a treta desta vida!
Pouco me interessa os emanharados teóricos, por vezes quase soletrados em televisão sobre o consumismo desenfreado ou as aclamadas atitudes loucas e irresponsáveis desta juventude que se perde. A felicidade está onde uma mulher quiser e entre muitas outras coisas, a bem ou a mal, está também numa qualquer livraria deste nosso paíssss. Que se lixe o deficit, as dívidas, a casa para pagar e outros etecetras tais pois, o que eu quero mesmo é aquele livro e aquele… Ah! E mais aquele! O saldo negativo pode existir, os credores podem aparecer mas até à saída, posso garantir-vos, a amnésia apodera-se de mim. E ai que o meu futuro será a pedinchice…Ai que não, que não.
À medida que as receitas vão escasseando e as que aparecem não conseguem tapar o buraco financeiro, tomo então partido por políticas direccionadas ou para o bloqueamento dos credores ou o linchamento público, no mínimo. No que se refere ao bloqueamento, aquele a que sou mais favorável, não coloco objecções à minha nomeação a consumista desenfreada por livros, uma livromaníaca e à imediata aplicação de medidas, consequentes: colocação devida do meu nome em lista negra de consumidores, com interdição de entrada em qualquer livraria ou feira do livro, dentro de um período de tempo a definir. Claro que nesse período sofrerei de depressão AGUDA mas, estou certa, o nosso governo garantirá o acesso comparticipado a valium’s, prozac’s e derivados e eu estarei salva. Tudo pelo bem do cidadão.


Pelo bloqueamento de entrada em locais de consumo já ou então não estarei por cá! Pela sobrevivência!!!

quinta-feira, maio 12, 2005

Alfredo, o Tarzan

Imaginem-me a olhar para um gato por volta da 1 da manhã, a uma distância de mais de três metros, na vertical. O espírito Tarzan do meu gato Alfredo já foi apresentado várias vezes em algumas das visitas ao veterinário, com vários saltos acrobáticos sobre diversos objectos e com o quase suar do famoso grito, quase… A veterinária ficou obviamente surpreendida com tão desenvolvidos dotes tarzânicos e, claro está, planeou de imediato a abertura de uma instituição para gatos com tais caracterísiticas pois, acredita que este exemplar não é único e existirão alguns, poucos, por descobrir só na cidade de Lisboa. Claro que a veterinária do meu Alfredo não está bem e se não fosse o conhecimento de um esgotamento que sofreu há dois anos atrás eu possivelmente por esta altura estaria dada como sócia de tão prometedor projecto. Gosto de prometedor projecto. Mas que o Alfredo tem dotes de Tarzan, lá isso tem. Se o Steven Spielberg sabe… garanto que construirei uma mansão seguramente apetrechada e com o espaço necessário ao desenvolvimento harmonioso de um star cat. Adiante. Ontem, no início da madrugada, reparo que o meu escritório está cheio de fumo com nicotina, alcatrão, papel… e apesar dos meus instintos suicidários abri a janela. Nem provavelmente terá decorrido um minuto e eis que o meu gato de apenas sete meses se lança em velocidade contínua; primeiro em direcção à janela, depois de um terceiro andar em directo ao chão de um quintal. Pronto. E eis a história que qualquer realizador de cinema adoraria ver representada em qualquer filme. Por amnésia pura e ainda a recompor as minhas forças pelo golpe emocional provocado não me recordo de nenhuma cena em que tal suceda, talvez mereça investigar… Como é que salvei o Alfredo? Bem, falei com o vizinho que de imediato iniciou a expedição "à procura de Alfredo" numa espécie de estufa fria . Passadas umas horas, comigo à janela a descarregar indicações, eis que foi possível apanhar Alfredo que, provavelmente, até estaria a gostar da companhia de uma gata mais velha…Agora em casa o Alfredo dorme profundamente da sua intensa aventura, já devidamente aburguesado. É pena, mas tenho de fechar todas as janelas.

quarta-feira, maio 11, 2005

Remodelações ginecológicas

Não há melhoras. Definitivamente. Hoje fiz uma maratona, ao percorrer vários pontos limites da cidade de Lisboa num descapotável verde alface. Comecei pela Portela, a olhar para o tecto e com uma espécie de espátula na minha vagina. Descontraia, relaxe – diz a doutora em voz suave, enquanto só me apetece dizer: - Ai que merda esta! Para não dizer: Que caralho é este?
Qualquer mulher como possível procriadora da espécie humana devia ser muito bem tratada em qualquer circunstância mas especialmente nesta. Ao observar tamanhos materiais presentes em consultório, viajo ao extremo da medicina a dissecar órgãos de corpos moribundos e por alturas em que os medicamentos eram meros desconhecidos. A temperatura dos ditos em ferro também não facilita qualquer boa gaja a abrir-se ao tratamento mais exigente. Queremos facilitar o trabalho de quem nos observa e o nosso mas há coisas que muito dificilmente a mente comanda com tão poucos elementos de estimulação. E eu bem tentei...
- Como é que quer que eu relaxe!!!! – grito contra as paredes brancas vazias.
- Minha querida, para a próxima tem de tomar um relaxante, um de noite e outro antes do exame – aconselha a ginecologista que metida em tanta vagina, não enxerga que nem com Xanax’s ou afins uma mulher e a sua preciosa mais que tudo conseguem entrar numa espécie de transe, descontracção vaginal à espera da penetração de uma pinça, por exemplo.
Mas o meu problema não começa aqui. Começa desde o momento de entrada. Em presença de todo o cenário, a minha excitação emerge só para o ponto de fuga, altura em que procuro acalmar as pernas e limitar-me a dobrá-las na cadeira, para mais tarde as esticar na marquesa.
Enquanto olho para as paredes brancas vazias, viajo até ao outro lado, o masculino e quase fico ofendida ao recordar que perante determinados exames os moçoilos têm várias mordomias, com filmes pornográficos incluídos. Logo, digam-me então por que é que eu não mereço algo adequado ao meu género? Será que nós não necessitamos de ser estimuladas?
Decidi a partir de hoje tomar este assunto como cruzada. Desenvolverei esforços junto das entidades competentes, em prol da minha estimulação vaginal, iniciativas que incluem:
- a colocação de um plasma top de gama, sobre a cabeça de qualquer mulher,no tecto, com imagens adequadas para o efeito de relax; há por aí tantos filmes...
-em último dos últimos casos, pois as escolhas musicais das portuguesas são de bramir aos céus, umas musiquinhas de fundo tipo Je t’aime ;)

Exemplos que podem ser mais com a tua participação!
Para quando tais mudanças?
Mudar o consultório do ginecologista já ou então não metemos a nossa vagina lá. É isto.

quarta-feira, maio 04, 2005

Regresso

Não apareço por aqui há uns tempos. É um facto. Aumento do volume de trabalho e outras coisas e tais e mais uns etecetras e vejam este blog abandonado, com ervas daninhas a nascerem por entre os poros invisíveis. Está até mais verde. Não reparam? Eu vejo. Por aqui já pouca gente restará que o queira limpar. Mas com mangas arregaçadas vamos lá começar! Caralhos me fodam com tanta ervinha que por aqui anda. Vamos a isso!

quinta-feira, março 17, 2005

Anteontem estive aqui. Apeteceu-me escrever mas não consegui tempo. Sem tempo não escrevo. Aqui. Venho cá novamente. Hoje. Quero escrever. Mas o tempo puxou-me, mais uma vez, deu-me um encontrão da cadeira e empurrou o meu corpo para outra divisão, do espaço. Agora venho fazer queixa. Do tempo.

sexta-feira, março 11, 2005

Há um ano o absurdo aconteceu

O absurdo não devia ter imagens. Só palavras reais.

quarta-feira, março 09, 2005

Já passou

Apresento-vos seguidamente o meu dia da mulher.
7:00 AM – acordo (piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii) ao mesmo tempo que dou uns murros no despertador. Foda-se! Tenho de me levantar de encontro ao Pólo Norte.
7:15 AM – arrasto-me pelo WC, quando uma voz grave masculina informa-me que é dia da mulher caras ouvintes, desejamo-vos um óóóppppttttiiimmmo dia; que o comemorem bem pois vocês merecem; um beijo especial a todas vós. Neste instante acordo! Sintonizo na rádio habitual, contra o ruído, olho-me ao espelho e …
Oh não! Espera-me um dia difícil…
7:48 AM – saio de casa, devidamente cuidada e dirijo-me ao café mais próximo: Bommmmm diaaaaa menina! Hoje é DIA DA MULHER e está de parabéns! Sandra, controla-te…. Conto até 10 não, até 100 (1,2,3…). Bom dia, mergulhado no café e no cigarro que fumo com maior intensidade.
8:07 AM – entro finalmente no metro. Deparo-me com um tipo com roupa encomendada para o efeito, com um Sorriso Amarelo A Fazer Frete, com um ramo de rosas na mão pronto a apanhar qualquer gaja, as gajas. Primeiro pensamento: como entrar no metro e fugir a este caralho. Obrigo as pernas a mexerem-se mais, escondo-me atrás da mala e quando olho para o que me livrei: Esta flor é para si! Feliz dia! Eis que surge o 1º MOMENTO: Olhe, como BOA mulher só aceito diamantes, sabe? Dê a outra gaja que se contente com a coitada de uma flor! Fodeu-se.
8:12 AM – saio do metro e começo a ficar furiosa. Lamento que, para além de outras coisas, as mulheres não se revoltem com o folclore em que transformaram este dia e mandem por no cú todas as flores, presentes com amostras de detergente e afins distribuídos no maior dos gozos.
8:20 AM – chego ao emprego. Felicitações de gajos + sorriso idiota.
Obrigadas pá, sem ti não sabia que era mulher…E sem este dia pá, continuaria ignorante sem saber o que as mulheres sofrem…
1:05 PM – mais flores são distribuídas no local de trabalho e o colega Gonçalo teve a infeliz ideia de comprar uns bolos para as colegas. Sorrisos que só as mulheres entendem.
1:17 PM – almoço entre alguns colegas e poucos amigos. Não se comemora, DISCUTE-SE o DIA DA MULHER e pela fresta da janela respira-se melhor, com controvérsia.
4:56 PM – um Colega-Melga vem ter comigo com um olhar psicadélico: Então, gostou das flores? Flores? Mas que flores? Aquelas que mandei colocar na sua secretária. O quê? Caro colega, agradeço-lhe o trabalho mas quem hoje me oferece flores são os mesmos tipos que consideram que TODAS as mulheres adoram electrodomésticos, casar, ter filhos e… flores. Eu NÃO GOSTO de flores. É pena. Que pouco ainda conheçam sobre Vénus…

10:05PM – retenho alguns minutos no conteúdo televisivo e eis o que recolhi sem classificação que valha:

- O que é para si o dia da mulher?
- Acha justo haver o 8 de Março?
- Acha que hoje em dia a mulher usufruiu dos mesmos direitos que o homem?
- Acha que existe igualdade entre os sexos?
- Como é que era a mulher antes do 25 de Abril?
- Se tivesse hipótese de escolher, teria nascido homem?
- Mulher com cancro da mama.
- Cerca de 15% das mulheres europeias sofrem de violência doméstica.
- O número de mulheres a viver no limiar da pobreza duplicou nos últimos anos.
- Em Portugal as mulheres não têm aquilo que merecem e aquilo a que têm direito.
- Rapariga que quer ser bombeira entra pela primeira vez num quartel de bombeiros
.
-
Mulher...

12:04 AM – Uffff. Já passou.

quinta-feira, março 03, 2005

X Casou

Encontrei-me com as minhas agendas antigas, dos tempos em que tinha pequenas empolas na pele contendo linfa ou pus e tinha medo que o tipo mais giro da escola me visse e começasse a correr por medo. Tempos em que escrevia merdas, pensamentos, descrições do quotidiano e outras coisas tais (como agora), a colocar-me na máquina do tempo.
Nessas agendas permanecem intactos números de telefone, marcadores de uma amizade ou de uma breve empatia, algumas passadas: da Vanessa Que Perdi o Rasto; da Sofia Que Continua Por Cá; da Fernanda Que Casou; da Patrícia Que Casou; da Manuela Que Deixou De Falar Com o Pessoal Desde Que Começou a Namorar e Mais Nada Sei; da Constança Que Continua Por Cá; da Ana Que Casou...

Muitas mulheres que se deixaram no momento em que subiram ao altar para dizer provavelmente a maior mentira da vida delas : prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias na nossa vida. Mulheres que optaram por viver a vida não com mas do outro; recebendo-a numa bandeja desconhecida que o amor é capaz de aceitar. Desenlaçaram-se dos amigos, preferencialmente dos não casados, dos sítios que as caracterizaram como solteiras e debruçadas à janela esperaram pelo príncipe que as levou para sítios nem por isso longínquos, mas que a ausência de comunicação com os afectos as tornou perdidas para a vida; sua. Desaguam sobre os que não auferem de semelhante estado civil dos males do casamento. Algumas com quem ocasionalmente me cruzei questionam o caminho seguido, acompanhado pela solidão, pela infelicidade, pela angústia e derivados; seus companheiros reais. Mas o problema não está no casamento. Claro que não está, mesmo que o queira atrás das costas.

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Quarta Pausa



Esta noite vou assistir aos Oscars 2005 até que as pálpebras não dêem de si e desfaleçam sobre os meus olhos. Espero aguentar o combate contra o sono; o nascimento de um novo dia indicar-me-á mais um dia de trabalho.

Aqui estão os filmes que vi nas últimas semanas, a tratarem tanto de vida como de morte e pouco de boxe:

- Vera Drake, de Mike Leigh;
- Mar Adentro, de Alejandro Amenábar;
- Million Dollar Baby, de CLINT EASTWOOD.

And the winner is.... Tenho de ir!!!!

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Actuação escrita

Pode-se escrever

Pode-se escrever sem ortografia
Pode-se escrever sem sintaxe
Pode-se escrever sem português
Pode-se escrever numa língua sem saber essa língua
Pode-se escrever sem saber escrever
Pode-se pegar na caneta sem haver escrita
Pode-se pegar na escrita sem haver caneta
Pode-se pegar na caneta sem haver caneta
Pode-se escrever sem caneta
Pode-se sem caneta escrever caneta
Pode-se sem escrever escrever
plume
Pode-se escrever sem escrever
Pode-se escrever sem sabermos nada
Pode-se escrever nada sem sabermos
Pode-se escrever sabermos sem nada
Pode-se escrever
nada
Pode-se escrever com nada
Pode-se escrever sem nada

Pode-se não escrever

Pedro Oom. Actuação Escrita.Lisboa & Etc. 1980
Uma pessoa está fora uns dias e tem esta cambada de badamecos à porta? Xô xô. JÁ! Que bem representam a direita... Vão-se JÁ, badamecos de merda! Vade Retro!!!! Livra!

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Os eleitores portugueses nestas legislativas não se limitaram a dar um empurrãozinho no centro-direita, mas um valente chuto no cú, com a certificação de que eles tinham caído mesmo. E a verdade é que cairam e bem.
A maioria absoluta... Como é que é possível que se passe um cheque em branco a alguém que conhecemos há tão pouco tempo? Não entendo. E será que os resultados obtidos expressam e só o desejo de queda da direita ou algo mais, como uma vontade colectiva de melhorar as condições de Portugal, com sacrifícos ? É que isto está mesmo mal...

Por hoje, espero que a minha esquerda esteja à altura.

domingo, fevereiro 20, 2005

Já vou

foto daqui

Chegou a minha hora de votar. Vou a caminho da freguesia da Graça, em Lisboa.

Palavras Rottweiler

Entre as palavras que se trocam, troco com quem aqui lê a confidência de que gosto de campanhas, de tempos de antena, dos coros tribais proferidos em comícios, de eleições e derivados. É um facto. Existe algo na minha pessoa, a ser provavelmente motivo de estudo psiquiátrico para designação da (nova) doença correspondente, que impede o exercício da locomoção enquanto tais estruturas televisivas se passeiam pelo ecrã. Fico como uma criança a ver o canal Panda, com a diferença de movimentar repetida e repentinamente os braços, elevar a voz de quando em vez com vão-se foder e alguns dos seus constituintes, e outros comportamentos tais que reservo à privacidade.
A merda é que estes comportamentos têm vindo a agravar-se…Mas, eu explico. Eu explico: tento assim provocar o mesmo efeito de uma vacina ou seja, dar a conhecer ao meu cérebro o maior número de palavras e imagens nocivas, para mais tarde recordar e constituir, por agora, uma armada invisível, suficientemente invencível e indispensável à minha defesa.
Em tempos, não muito longínquos, senti-me intoxicada pelas palavras que os seus donos libertavam, sem trela, maioritariamente políticos, críticos e comentadores. Sim, é verdade. Também eu já passei por isso, a sofrer danos na pele (uma espécie de urticária) e no sistema nervoso. São tramadas esta palavras! Simpaticamente designo-as de PALAVRAS ROTTWEILER; parecem mas não nos protegem de coisa nenhuma.
Pois bem, para o leitor informado aqui digo que o início está na observação que fazem de forma afastada, aproximam-se calmamente e soltam depois várias lambidelas sobre o(s) indivíduo(s) alvo; como apelo ao sentimento e à consequente abertura da gaveta correspondente, fechada até aí a sete chaves pela maioria. Num ápice (quase) todo o nosso raciocínio lógico é corrompido, os sentidos adulterados e com o prolongamento da exposição, alguns dos órgãos são atacados.
É um facto. As Palavras Rottweiler , embora pareçam, têm tudo menos de inofensivas e como quem não quer nada inicia a sua lavoura cerebral, com o bloqueio de uma das duas mentes; o infectado fica incapacitado de raciocinar com a devida lucidez.

É principalmente ao longo das campanhas eleitorais que se assiste a um maior número de pessoas infectadas por Palavras Rottweiler. E esta campanha não foi a excessão à regra. Com comportamentos e frases interessantes perante os candidatos. Passo a apresentar alguns (poucos) exemplos, em parte, às partes; à partes dos infectados por Palavras Rottweiler:

- Ai ele é bonitinho, vinha tão bem vestido e penteadinho.
- És balente, pá. Vai home! Carago, em frente!
- O povo não se engana, vai votar Santana
- É bonito, sim senhora. Eu vou votar nele.

- Os ciganos vão todos votar nele!
- Ele vai fazer um choque. É verdade. VERDADE. Não acredita, é?
- Não assine nunca o que eles querem sobre o aborto, ouviu? NÃO ASSINE!Grrr
- Xou plofessora e não arranjo emplego por causa dos ucranianos.

Existem também indivíduos que por indefinição do tipo de infecção de que padecem, encontram-se neste quadro, até posterior definição. São os indivíduos que acham que estamos em crise por que há uns anitos não conseguem trocar a merda do carro XPT por XPTO, da filha da puta de casa T3 para T6, o tanque da casa de campo pela piscina olímpica… Obviamente que este problema só se resolve com lobotomia sobre os pacientes.

Certa de ter contribuído para o melhoramento dos vossos dias, estou grata pela vossa atenção.

sábado, fevereiro 19, 2005

Apelo

Hoje não podemos falar de ********, nem de coligações à respectiva. Eu vou ***** sempre, nunca falto. Obviamente por mim e por todas as mulheres e alguns homens que lutaram para que eu tivesse tal direito. Dizem que ainda há MUITOS indecisos (chiça! mas qual é a indecisão?) entre ** , *** , ** ,***, ** e derivados. Eu já decidi! Vou ***** **. **** também!

Comunicado

.
Este espaço encontra-se em período de reflexão e de análise aos objectos presentes a concurso.

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Estes dias marcados à escala universal para todos os seres humanos civilizados divertem-me: vê-los(as) a irem para a direita e eu sempre com a mania de ir para a esquerda...
Por aqui, na jukebox Kings of Convenience, I'd rather dance with you.
julie doiron: um estilhaço descoberto ontem entre paredes oblíquas, dentro de um vidro azul.

nota: actualizado por motivos de manutenção.

domingo, fevereiro 13, 2005

Ah, diz-me a verdade acerca do amor

Há quem diga que o amor é um rapazinho,
E quem diga que ele é um pássaro;
Há quem diga que faz o mundo girar,
E quem diga que é um absurdo,
E quando perguntei ao meu vizinho,
Que tinha ar de quem sabia,
A sua mulher zangou-se mesmo muito,
E disse que isso não servia para nada.

Será parecido com uns pijamas,
Ou com o presunto num hotel de abstinência?
O seu odor faz lembrar o dos lamas,
Ou tem um cheiro agradável?
É áspero ao tacto como uma sebe espinhosa
Ou é fofo como um edredão de penas?
É cortante ou muito polido nos seus bordos?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Os nossos livros de história fazem-lhe referências
Em curtas notas crípticas,
É um assunto de conversa muito vulgar
Nos transatlânticos;
Descobri que o assunto era mencionado
Em relatos de suicidas,
E até o vi escrevinhado
Nas costas dos guias ferroviários.

Uiva como um cão de Alsácia esfomeado,
Ou ribomba como uma banda militar?
Poderá alguém fazer uma imitação perfeita
Com um serrote ou um Steinway de concerto?
O seu canto é estrondoso nas festas?
Ou gosta apenas de música clássica?
Interrompe-se quando queremos estar sossegados?
Ah! diz-me a verdade acerca do amor.

Espreitei a casa de verão,
E não estava lá,
Tentei o Tamisa em Maidenhead
E o ar tonificante de Brighton,
Não sei o que cantava o melro,
Ou o que a tulipa dizia;
Mas não estava na capoeira,
Nem debaixo da cama.

Fará esgares extraordinários?
Enjoa sempre num baloiço?
Passa todo o seu tempo nas corridas?
Ou a tocar violino em pedaços de cordel?
Tem ideias próprias sobre o dinheiro?
Pensa ser o patriotismo suficiente?
As suas histórias são vulgares mas divertidas?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Chega sem avisar no instante
Em que meto o dedo no nariz?
Virá bater-me à porta de manhã,
Ou pisar-me os pés no autocarro?
Virá como uma súbita mudança de tempo?
O seu acolhimento será rude ou delicado?
Virá alterar toda a minha vida?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Janeiro, 1938


W.H. Auden. Diz-me a verdade acerca do amor. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Relógio d´Água.1994

Eu é que sou a Administradora do Condomínio!

Hoje, caros leitores, tenho a comunicar-lhes que me tornei finalmente ADMINISTRADORA/GESTORA DO CONDOMÍNIO; momento importante da minha vida, portantes, que quero partilhar convosco.
Na verdade, tornei-me num estudo de caso. Lixem-se as teorias sobre democracia escritas e reescritas em diferentes contextos, caros leitores, mandem bugiar todos os teoremas anacrónicos e caquécticos que guiam a maior parte dos políticos deste planeta e dêem vivas à minha ascensão, de mera habitante de um prédio corroído pelo tempo a uma mulher executiva em lugar de chefia.
Sim, tornei-me no exemplo vivo da democracia participativa, escondida na democracia de ar envelhecido a necessitar de envolver-se numa campanha tal, publicitária, que rejuvenesce qualquer alma impregnada nas misérias da vida actual.
O único problema é que eu não sou a pessoa indicada.

Sim, caros leitores, reneguei em tempos cargo tão ilustre e voltei a fazê-lo agora com o acrescento da minha opinião pessoal sobre a nomeação iminente ou seja, não façam isso, vão arrepender-se…Mas esta gente trabalhadora, gente comum como eu, desejou-me e içou o meu nome em tom uníssono, sem hipótese (de dizer não) de inverter outras vontades que não a do dever cívico que me cumpre agora cumprir (que bonito). Depois, no meu imaginário, levaram-me em braços dali para fora, retirando-me deste pesadelo…
Isto é democracia: ser escolhida por unanimidade, sem campanha eleitoral, pelos meus pares. O que me torna qualquer coisa entre Hércules e César Bórgia e qualquer outra coisa que os meus neurónios não se recordam; sucedido de mais um choque…
Se fosse uma predestinada diria que estou, ao som de Lamento de Magdalena Kozená, a estudar decisões impopulares (fica bem e dá carisma, dizem) que façam conter a despesa, que por aqui também existe. Mas a verdade é que não tenho carácter para estas merdas e o meu ego não está no firmamento; dizem-me que é um dever que cabe a todos mas, não tenho o direito de o recusar? Se por um lado aparentamos a democracia por outro, implantamos a ditadura (dos deveres e afins)... Eis a incompetência da democracia: quer que todos participemos mesmo os que declaramente se assumam, em derminadas áreas, incompetentes para o fazer.

Contudo, acredito que os caros leitores serão, certamente, os meus fervorosos apoiantes. Num dever que também a vós cumpro, informarei sobre as medidas a tomar ou as tomadas por este governo e de pequenos imprevistos (previsíveis), que poderão desencadear súplicas a V.Exas para que desenvolvam esforços ao desenrascanço deste equívoco, num quartinho qualquer, em qualquer sítio...

Queumcaralho! Estou tramada!!!!

sábado, fevereiro 12, 2005

Terceira Pausa

.

clopclopclopclopclopclopclopclopclopclop
Brilhante. clopclop. Bra clopclop vo. clop
BRA clopclopVO. LINDO. Viva Imelda!!!!

(passada uma hora, ainda na sala de cinema)

BRAVO.BRAVO.clopclopclop.BRAVO.

(cerca de vinte indivíduos tentam retirar-me do cinema)

Larguem-me! Só saio daqui quando ... Não me batas, besta!
TOMA!

terça-feira, fevereiro 08, 2005

O(A) MIRONE*

Não quero agora falar de política. Já falo muito e por agora a política angustia-me. Por estes dias dediquei-me com afinco a alguns pormenores do carnaval.
Bem, o carnaval em si, mas nunca em mim, nunca foi uma festa do meu encantamento. E assim sendo, o máximo que tentei mascarar este ano foi a minha casa em arrumação e organização... Mesmo assim, senti muitas dificuldades pois, nestas tarefas nem com acções de formação, mestrados, doutoramentos ou coisa que o valha, isto lá ia, nem isso; felizmente. Mas voltemos ao carnaval e ao afinco. Tudo começou numa bela tarde de Inverno quando comecei a não entender as razões que motivam os organizadores de eventos a realizar tantos e tantos corsos de carnaval por Portugal Continental e ilhas(até rima, não é bonito?). Pois, por aquilo que me foi permitido ver via TV (sim, ainda existe por aqui uma... ), os portugueses assistentes NÃO SE MEXEM, caramba. Entre mexer a anca e mexer só a cabeça e os olhos, eles preferem maioritariamente a segunda hipótese. E é aqui que está o nosso problema. É óbvio....
Com recurso a um criterioso método de análise de conteúdo de várias imagens sobre o assunto, a preencher um tempo aproximado de 15 minutos de emissão em diferentes canais de televisão, e a constituição de uma amostra de 1543 indivíduos que se fizeram mostrar, concluo que a posição preferida dos portugueses perante os corsos de carnaval é O MIRONE ou A MIRONE.
OS MIRONES, enquanto esperam a passagem dos carros alegóricos e companhia, amontuam-se ao longo dos passeios, atiram fitas e papelinhos, mandam uma bejarda aqui e acolá e olham, olham e olham. Poucos usam máscara e aparecem quase sempre trajados com casacos ou sobretudos pretos, cinzentos ou castanhos.
Chegado o momento dos carros alegóricos e companhia limitada, assiste-se a um gradual ajuntamento das hostes para a frente, na tentativa de melhor enquandrar o(a) MIRONE com as imagens saltitantes que se passeiam. E é aqui que se verifica um aumento ligeiro de movimentos, concentrados ou no pescoço ou nos olhos ou nas mãos ou, então, nos três elementos em simultâneo; mas nada mais do que isso e muito raramente o movimento de outras partes do corpo, só registado em 1% das pessoas visualisadas.

O estado hirto e firme postulado pela maior parte das(os) MIRONES apresenta algumas variações, muito subtis, visíveis com recurso à lupa ou, para os mais entendidos, visíveis a olho nú. A partir dessas variações foi possível definir diferentes níveis de MIRONES, consoante os movimentos anotados:

- A(o) MIRONE DE NÍVEL 1: não se mexe. Está lá porque nunca vi tal coisa ou já viu mas ficar em casa nunca e assim vamos a isso, para variar nas visitas ao centro comercial;

- A(o) MIRONE DE NÍVEL 2: move lentamente a cabeça e os olhos. É a senhora ou o senhor acompanhados pelos conjuges e assistem porque ele(a) quis ou porque é a única diversão que terá ao longo do ano;

- A(o) MIRONE DE NÍVEL 3: movimenta rapidamente a cabeça e os olhos e lentamente as pernas. E aparece quase sempre na forma do senhor com a sua senhora, que está lá (e ela não sabe)só para ver as gajas, as gajas;

- A(o) MIRONE DE NÍVEL 4: roda a cabeça, abre e fecha repentinamente os olhos, mexe lentamente as pernas e movimenta as mãos de suor (colocadas sobre a nuca ou sobre a cara, não necessariamente sobre os olhos). São senhoras ou senhores que nunca ou algumas vezes assitiram e continuam a achar tudo uma pouca vergonha, uma desenverguhança;

- A(o) MIRONE DE NÍVEL5: mexe o corpo todo mas parece imóvel. É quase sempre uma pessoa que não pratica sexo ou o pratica com má qualidade. Nesta categoria estão também alguns idosos que lamentam ainda não ter sido inventado o rejuvenascimento das células;


Perante este estudo e na esperança de promover futuras investigações sobre o assunto levanto duas questões:
- será que existe alguma interdição aos movimentos corporais em toda a sua amplitude, a ser anunciada de sussuro à chegada da dita festa?
- será que esta festa está inserida na concepção dos MIRONES como sendo um espectáculo e, assim sendo, desencadeia na assistência o silêncio e a pouca expressividade pois, assim é que se quer e assim é que fica bem?

Certa de ter contribuído para o melhoramento dos vossos dias, estou grata pela vossa atenção. Foi um estudo deveras interessante.

*actualizado. pela justiça do género.

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Mas queumcaraças! Quando é que eu posso finalmente chegar a casa, sentar-me frente ao Pc PARA escrever todas as tretas que me apetece e depois colocá-las aqui - sim, aqui -, neste bloguezito? É que Já Não Há Pachorra! Salvem-me, por favor! Façam-me um ser mais feliz. Inventem a omnipresença humana ou merdas do género.
(E eu que não escrevi aqui nada que se aproveite...)

Ups, já fui
...
EU VOLTOooooo. EU SEI QUE VOLTOoooooooo. HÃ? QUANDO?

Quanto o Quando desejo!

....

terça-feira, janeiro 25, 2005

Segunda Pausa



Groucho Marx nunca a teve na devida consideração. Anos depois de Um criado ao seu dispor ele referiu que ela era uma actriz, não uma comediante."She's always needed a script", acrescentou.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Vira a página. Já está?

sábado, janeiro 22, 2005

Pormenores

Eu não sei o que se passa pelo mundo dos blogues à portuguesa. Anda tudo um pouco estranho... Agora também no feminino. Numa olhadela rápida vejo que por aqui não há desculpa, mais à frente encontro irritação e as portas semicerradas, viro a esquina e aqui está-se chateada e nesta rua escrevem-se caprichos. Não quero que fiquem mal com este post da treta mas isto não pode continuar... Não pode não. Quando é que chove?

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Pausa



Hummm. Aqui há gato. Não achas Gloria?


quarta-feira, janeiro 19, 2005

INFORMAÇÃO

Informo que a travessia das margens tem estado difícil. Cheguei aqui e quase parto no mesmo instante.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Viático

De noite, conhecem-se pela voz, pela
respiração, por um negro afecto de braços;
conhecem-se devagar, como se nunca se
tivessem encontrado, nem trocado as palavras
estranhas de uma despedida;
conhecem-se pelo desespero da ignorância, que
a uns e outros rouba o sentimento, deixando-os
entregues à secura de um reflexo.

Vinde: desse cais que o inverno devastou,
que os barcos não procuram, nem as aves, nem
a mais louca das antigas prostitutas; e
trazei convosco um refúgio de sombras nos
lábios, uma infecção de alma no cansaço
dos corpos, o fardo de um brilho na obscuridade
dos olhos.

Comungai comigo na desordem da vida,
na indecisão dos caminhos,
na feira de um silêncio por onde escorrem,
como as imagens de um sonho,
um riso amado, outrora, e
o teu rosto sem idade.

Nuno Júdice. Um canto na espessura do tempo. Quetzal. 1992

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Estás bem?

Vou calmamente pela rua quando, do outro lado da rua, ouço um chamamento feminino com o meu nome na boca. Inicialmente não dou muita importância mas, com os contínuo enchimento de ar com Sandra, acabo por olhar para o emissor com uma suposta mensagem. E vejo a Manuela, uma amiga de infância, daquelas que compartilhavam connosco não só brincadeiras como a carteira da escola e que perdi a meio da adolescência. Acabamos entre olhares cruzados num passado e num presente num café a trocar percursos até àquele momento.
A Manuela começa: "Epá estás na mesma. A tua cara pouco alterou." Respondo que ando com uns quilinhos a mais a precisar de eliminar...mas, lá eleva o meu ego tremido e "nada disso, estás óptima. Eu engordei muito durante a gravidez. Já tens filhos, não?" Respondo-lhe que não e que nem sei se alguma vez estarei preparada para...
Manuela, invariavelmente como sei quem mais, faz A Pergunta: "MAS JÁ casaste?" "Não, nem penso muito em ...", respondo em forma de n+1 elevado ao quadrado; que até cansa.
Então, Manuela , atira com A Frase:

"Olha, pá, tu é que estás bem!"
E continua:"Sabes, casei há 10 anos com o João e já estou farta. Aliás, acho que nunca fui feliz..." [O meu olhar neste momento está do tipo Mais Uma.] "Casei com o João porque ele na altura fez-me esquecer o Francisco, o Francisco...", suspira, "com quem eu gostava de estar casada era com o Francisco, não estou e isso corta-me o coração [pois...] e o João não me satisfaz plenamente. É um bom marido e pai mas, não me preenche."
Neste momento, claro, alguns de vocês, tal como eu Que Estou Bem, a pergunta que vos passa pela alma, posta entretanto a esfriar:
"Oh Manuela, porque é que não te separas?."
Manuela faz uma cara de incomodada. Não gostou da pergunta, está visto. Mas acaba por responder: "Não posso Sandra. O João, apesar de já não o amar, é meu amigo e bom pai. Os miúdos também são pequenos e os meus pais nunca me perdoariam, sabes?" [Não, eu sei muito pouco....] "Eles gostam muito dele." "Pois, pois Manuela..."
Olha que merda! Cada moçoila deve amar o seu moçoilo e de inversa forma mas, viver por causa de... ou pelo que os outros dizem, acham ou sei lá mais o quê... NÃO É VIDA. Não é VIVER a VOSSA vida.
Se estou bem ou mal, pouco me interessa! Mas, pelo menos, saboreio a MINHA vida. E sabe bem.

terça-feira, janeiro 11, 2005

Reflexos fotográficos


Gérard Castello-Lopes. Lisboa-1957.

Ele está novamente entre nós. Em homenagem.

sábado, janeiro 08, 2005

Kiss Kiss Kiss

dominant
You have a dominant kiss- you take charge and make
sure your partner can feel it! Done artfully,
it can be very satisfactory if he/she is into
you playing the dominant role MEORW!


Nem eu esperava outra coisa.
Agora vejam vocês:
What kind of kiss are you?
brought to you by Quizilla

Tias Que Não Se Aturam Casadas

Estou presente numa daquelas Reuniões de Família Insuportáveis e em que as pessoas que a compõem convergem connosco nuns míseros genes, escondidos algures, como uma névoa, em indicifráveis locais do nosso corpo e pouco mais. Genes que, vejam só, existem em número semelhante num pequeno verme - a nossa insignificância nota-se mesmo nestes pequenos pormenores, sem pretender recordar outros bem presentes.
Na reunião encontravam-se também as famosérrimas Tias Que Não Se Aturam Casadas - quem é que não as conhece? cada um tem a(s) sua(s) e eu cá tenho as que mereço... - e as especializadas em saber mais da nossa vida do que nós próprios. A minha tia Maria é uma verdadeira expert. Começa por rematar várias perguntas quase em simultâneo, seguindo uma espécie de estratagema bélico, na tentativa de colocar-nos numa parede, à espera de obter A Informação e assim, incluí-la nos seus ficheiros mentais para futuro desenvolvimento. É difícil enfrentar esta tia e fazer um drible decente, sem que ela não tente pregar-nos uma rasteira ou dar-nos uns pontapés nas canelas. Somos obrigados, por vezes, a desistir. O que significa, neste caso, a virar-lhe costas. Mas até aí, pratico um extraordinário exercício emocional em que, garanto-vos, saio exausta... Não pela dificuldade das perguntas, ou pela forma elevada como se sucedem mas, simplesmente, por que a paciência não é a minha maior qualidade... Em vários momentos lá tento recordar-me das habituais recomendações da minha mãe: não enviar pedras para tamanhos tanques de guerra (com a vida, só pode) e tentar preservar o batalhão familiar intacto. Mas muito raramente tais conselhos nutrem efeito...
Eu, moçoila iniciada nos 30, sou solteira, com gosto e sem complexos. Contudo, este piquinino pormenor para mim é um Grande Pormenor para as minhas Tias Que Não Se Aturam Casadas. Logo, entre o bombardeamento habitual sobre a minha modesta vidinha surge a sacramental pergunta: Então, quando é que te casas? Claro que a minha mais pretendida resposta é: vão-se foder! Mas, lá vem a consciência maternal e fiquemos pelo: Não me apetece! Ao que, antes de outra pergunta (intervalo) respondem-nos... respondem... (vamos lá ver se alguém adivinha) respondem... (primeira palavra: assim...) respondem...(depois vem é...) respondem:

Assim é que estás bem!
Certo!!!!

E eu concluo, com recurso a alguns silogismos filosóficos: Logo, elas estão muito mal!
Tias Que Não Se Aturam Casadas, quem as não tem?

quinta-feira, janeiro 06, 2005

O gato (2)

Esta de andar sempre atrás de mim... não é muito do meu agrado. Mas sendo um gato... também lhe posso dizer que pare, sem que fique ofendido.

Um gato

Tenho um macho em minha casa. É louro, tem olhos verdes e anda sempre atrás de mim - o que é que uma mulher pode desejar mais? É um gato. O Alfredo. Bom ano para ti também.